Banco do Brasil (BBAS3)
Banco do Brasil (BBAS3) / Foto: Divulgação

Diante dos resultados do terceiro trimestre de 2025, o Banco do Brasil (BBAS3) decidiu recalcular a rota e revisou o o guidance para este ano. A projeção de lucro ajustado passou a ser na faixa entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões.

De acordo com o balanço, divulgado na noite de quarta-feira (12), o lucro líquido ajustado foi de R$ 3,7 bilhões, queda de 60% em comparação ao mesmo período no ano passado. A inadimplência do agronegócio continuou sendo um problema e isso impactou diretamente no aumento das provisões.

No período entre julho e setembro de 2025, o custo de crédito do banco foi de R$ 17,9 bilhões, formado pelas despesas de perda esperada com descontos concedidos e deduzidas das receitas com recuperação de crédito, disse o Neofeed. Montante foi 12,7% maior do que no segundo semestre e o acumulado do ano atingiu os R$ 44 bilhões – um salto de 66% em 12 meses.

Com isso, o custo do crédito no novo guidance passou a ser estimado entre R$ 59 bilhões de 62 bilhões em 2025.

“No trimestre passado eu disse que o guidance de lucro era ousado, dado o andamento do ano. Agora, com a necessidade de provisões adicionais, ajustamos”, declarou Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil em teleconferência. “Houve um compasso de espera do produtor na regulamentação da MP 1314, o que elevou as provisões”.

O principal “inimigo” do resultado do BB, a inadimplência acima de 90 dias do agronegócio 5,34%, alta de 185 pontos-base frente ao 2TRI25. A deterioração ficou concentrada na cultura da soja e nas regiões Centro-Oeste e Sul, em um ambiente marcado pela escalada dos pedidos recuperação judicial de produtores rurais.

No pregão de hoje, um dia após a divulgação do balanço, os papéis BBAS3 caem 1,40%, às 17h17 (horário de Brasília)

Desconfiança do mercado

Os dados acenderam o “sinal amarelo” em parte do mercado e alguns analistas já estão revendo as projeções para o Banco do Brasil (BBAS3).

O Citi rebaixou as ações do BB de “compra” para “neutro”, com recuo do preço-alvo de R$ 29 para R$ 23. O rebaixamento vem dois meses após os analistas daram “compra” para o banco.

“É histórico, nós nunca tínhamos enfrentado uma situação como essa; a última vez foi ali nos idos de 94”, disse Geovanne Tobias, CFO do Banco do Brasil, na call com analistas. Naquela época, o aumento de capital foi necessário para equalizar as contas do banco.

Porém, desta vez, o banco está recorrendo a outra estratégia: em vez do reforço de capital, o BB aposta na combinação de provisões mais robustas com força-tarefa de renegociação criada após a MP 1.314, que autorizou condições especiais para reestruturar dívidas de produtores rurais.

O programa interno, batizado de “BB Regularizar Agro”, permite alongar prazos, reforçar garantias e reclassificar operações com base na capacidade de pagamento, ajudando a conter o avanço da inadimplência e a transformar parte de perdas esperadas em crédito tributário, o que alivia a pressão sobre capital regulatório.

De acordo com Tobias, o programa já está mostrando sinais de avanço. Até o fim do terceiro trimestre, o banco havia analisado cerca de R$ 11 bilhões em pedidos de renegociação, com aproximadamente R$ 5,4 bilhões já aprovados, após reforço de garantias e reavaliação da capacidade de pagamento dos produtores.

A instituição abordou mais de 70% dos clientes aptos ao programa e projeta chegar a algo próximo de R$ 24 bilhões em propostas de reestruturação de dívida dentro da MP 1.314.

Nessa estrutura, os contratos, que passarão por análise individual, podem ser prolongados por até nove anos, com um ano de carência – período pelo qual os produtores continuarão pagando juros – e passam por uma reoriginação completa, que inclui revisão detalhada da capacidade de pagamento e reforço de garantias.

O BB tem exigido alienação fiduciária de imóveis rurais, estoques, máquinas, além de priorizar operações com taxas pós-fixadas, atreladas ao CDI, como garantias. Medida é estratégica para preservar o equilíbrio entre risco e retorno.

Paralelamente, o banco destaca que essas reestruturações permitem reconhecer parte das perdas esperadas e transformá-las em DTA (crédito tributário), mecanismo que fortalece o capital regulatório sem que haja necessidade de aporte acionário.

Durante a teleconferência, os analistas também demonstraram preocupação com o horizonte de alongamento dessas dívidas. O receio é de que a normalização do risco leve mais tempo do que o tempo sugere, especialmente porque o índice de cobertura caiu mesmo após novas provisões, sinalizando que a deterioração da carteira ainda não acabou.

O Citi resumiu, em relatório, essa percepção ao afirmas que “os efeitos positivos das renegociações devem levar mais tempo que o esperado para contribuir à lucratividade, enquanto novos créditos inadimplentes continuam acelerando apesar das provisões”.

A própria direção do Banco do Brasil admite que o cenário ainda deve se deteriorar antes de melhorar. “O banco esperava que a inadimplência do agro começasse a estabilizar, mas outubro ainda trouxe pressão relevante”, afirmou o CFO do BB.

Com a solução da MP 1.314 já operacional e um fluxo menor de vencimentos no fim do primeiro ano, a expectativa da administração é que o ponto de inflexão ocorra apenas a partir do primeiro trimestre de 2026.