
O varejo brasileiro é um dos setores em que a transformação digital acontece de forma intensa. A cada clique, os novos perfis de consumidores esperam jornadas rápidas, intuitivas e seguras, que sejam, de fato, condizentes com a realidade atual. Esse contexto fez com que o sistema financeiro dos varejistas passasse de suporte operacional para ferramenta estratégica de competitividade — ou pelo menos é assim que deveria ser.
Muitas empresas do segmento ainda não aprimoraram as plataformas de maneira que as transações realizadas nela elevem as experiências de compra. O chamado downtime, que é quando essas tecnologias não estão operando devido a instabilidades, é um obstáculo que se tornou inviável para esse mercado.
Cada minuto que os sistemas estão indisponíveis pode significar milhões em perdas para os varejistas. O “Quality Transformation Report 2025”, relatório divulgado pela Tricentis, traz uma amostra disso ao revelar que 50% das empresas brasileiras possuem gastos anuais de US$ 1 milhão a US$ 5 milhões por conta de falhas em softwares e necessidade de manutenção. A pesquisa ainda aponta, sem coincidência, que o varejo é um dos setores mais impactados por esses prejuízos.
Para completar, as vendas não concluídas e os clientes frustrados são os responsáveis por arranhar as reputações das organizações. Ou seja, a confiança e o próprio trabalho para fidelizar o consumidor, que tende a demorar meses e até mesmo anos para ocorrer em um mercado tão disputado como esse, pode ruir em poucos instantes de inação tecnológica.
Volto a dizer, esse downtime, na maioria dos casos, poderia ser evitado. A resiliência tecnológica precisa urgentemente deixar de ser apenas um recurso técnico e se solidificar como um pilar estratégico dos negócios.
Digitalizar com eficiência, crescer com qualidade
Quando falamos de digitalização eficiente, não basta apenas oferecer meios de pagamento digitais ou integrar plataformas de checkout: é preciso garantir que as soluções tecnológicas funcionem com estabilidade e alta performance em qualquer circunstância. Sem isso, o consumidor percebe imediatamente a fragilidade da operação e abandona o carrinho antes mesmo que o varejista perceba.
Disponibilidade, continuidade operacional e confiança nas transações são requisitos básicos para sustentar o crescimento e a retenção de clientes no varejo. Mais do que manter os sistemas funcionando, a infraestrutura digital precisa ser robusta o suficiente para suportar picos de demanda, responder rapidamente a incidentes e proteger as operações contra falhas inesperadas.
Isso significa, por exemplo, adotar práticas como arquitetura modular, uso de APIs robustas e sistemas em nuvem, além de processos que facilitem atualizações contínuas sem impactos operacionais. Ou ainda garantir monitoramento em tempo real, que permite detectar instabilidades antes de afetarem o consumidor, e estratégias de disaster recovery, capazes de garantir a continuidade mesmo diante de falhas críticas.
A própria incorporação da IA (Inteligência Artificial) também já não é mais um bônus, é uma necessidade. Para se ter uma ideia, o relatório da Tricentis aponta que 94% das empresas querem aumentar o uso dessa tecnologia para testes de software na América Latina, enquanto 100% planejam utilizá-la na detecção de falhas e aceleração de processos no Brasil.
Por fim, ainda vale frisar que é essencial mirar esforços em assegurar a integração dos sistemas entre áreas como compliance, engenharia e produto. Dessa forma, o varejista pode crescer sem criar gargalos internos ou riscos sistêmicos que comprometam sua imagem.
Em resumo, garantir robustez e resiliência não deve ser encarado como custo, mas como um diferencial competitivo. Investir em inovação financeira é investir em escalabilidade, sustentabilidade e no futuro do próprio varejo. No fim, a escolha é simples: ou o setor se atualiza hoje, ou ficará vulnerável e para trás amanhã.
*Engenheiro graduado pelo Instituto Mauá de Tecnologia e com atuação no segmento por mais de 8 anos, Felipe migrou para o setor de inovação e finanças ao assumir a gerência de inovação na B2W Digital, onde ao longo de quase 5 anos foi responsável pelo planejamento de investimentos, estudos de viabilidade e análise de redução de custo.
No Pinbank, o especialista em estratégia de dados pela Universidade da Califórnia assumiu como CEO, em 2022, com foco em inovação e abertura de novos mercados, inserindo a instituição financeira no circuito do DREX, pix e adquirentes diretos, cartões de crédito e contas digitais.