
O Pix já não é uma novidade tecnológica e cinco anos depois do seu lançamento, se consolida como uma peça central da infraestrutura econômica brasileira.
Para entender o tamanho dessa virada, basta lembrar o país que existia na pré-pandemia: entre 45 e 60 milhões de brasileiros estavam à margem do sistema financeiro, desbancarizados e agindo na informalidade.
Abrir uma conta era trabalhoso, usá-la era custoso e distante da rotina da maioria, e as discussões sobre o futuro do mercado giravam muito mais em torno de quantidade do que de qualidade.
Anos atrás, bancos e fintechs disputavam um espaço que ainda nem existia plenamente e se colocavam como protagonistas na corrida pela bancarização do público brasileiro. Era uma lógica de sprint, marcada pela busca por números absolutos, não pela construção de consistência e longevidade.
Essa corrida, porém, foi conduzida por uma velocidade desenfreada e por uma visão, em grande parte, autocentrada, dos integrantes do mercado na época, 100% oposta ao que o Pix viria a fornecer ao país.
O Pix como ponto de virada no uso cotidiano
As fintechs buscavam criar modelos de pagamento P2P (peer-to-peer), de pessoa a pessoa, que escalassem com rapidez, enquanto os grandes bancos se questionavam sobre fidelização, barreiras de saída e a possibilidade de perder relacionamento no momento em que a integração sistêmica se intensificasse.
Havia competição e ambição, mas faltavam coordenação e visão estratégica. Não à toa, a agenda de inovação do Banco Central ganhou força e acabou reorganizando todo este cenário de forma integrada e definitiva.
Em meio a essa corrida, vale lembrar que a pandemia chegou como um choque de realidade, em todos os sentidos. O auxílio emergencial abriu caminho para milhões de novas contas, reduzindo de forma abrupta a desbancarização.
Mas foi o Pix, lançado em novembro de 2020, que transformou bancarização formal em uso cotidiano, pondo fim à disputa desenfreada pelo valor agregado que cada novo cliente poderia trazer ao seu “banco escolhido”.
Esse movimento combinado criou o mercado que conhecemos hoje; o Brasil ultrapassou 200 milhões de pessoas conectadas formalmente ao SFN e alcançou a marca de quase 1,3 bilhão de contas ativas.
Do sprint à maratona: maturidade e sustentabilidade
Desde sua criação, o Pix já movimentou R$ 75,4 trilhões, mais de seis vezes o PIB brasileiro, e apenas neste ano de 2025 já ultrapassou 60 bilhões de operações realizadas. A circulação de valor tornou-se instantânea e isso redefiniu a relação entre consumo, crédito e liquidez.
No entanto, talvez o ponto mais importante dessa jornada não esteja nos números, mas na consequência estrutural que foi provocada. A bancarização massiva forçou todo o mercado a deixar de olhar para quantidade e a voltar sua atenção para eficiência e rentabilidade.
É justamente aqui que entra o spread do poder: o potencial de escala impulsionado pelo grande volume de usuários desatendidos criava um véu sobre a visão do mercado, desviando o foco de onde o verdadeiro valor sempre esteve.
Se antes captar clientes, mesmo em custos elevados, era o motor principal de bancos e fintechs, agora o desafio passa a ser atender melhor, operar com qualidade e construir acesso real e sustentável ao longo do tempo. Hoje nos damos conta de que, definitivamente, não estamos em um sprint, mas em uma maratona pelo fortalecimento do ecossistema nacional.
Essa transição, ainda que não opcional, amadureceu o mercado como um todo e deve permanecer como pauta-chave para o restante da década. E vale reforçar: não se trata de um meio de pagamento tornando o outro obsoleto.
A transformação promovida pelo Pix é sobre formalização, sobre facilitar o uso cotidiano e sobre integração. Um sistema robusto não se constrói substituindo peças, mas conectando soluções e criando complementaridade.
O futuro do ecossistema financeiro brasileiro
A evolução do Pix em si, reforça esse movimento. Desde 2020, o Banco Central estruturou e liberou um conjunto de funcionalidades que ampliaram o uso e profissionalizaram a infraestrutura como o Pix Cobrança, Pix Saque, Pix Troco, Pix Agendado, Pix por Aproximação, Pix Automático e a integração crescente com o Open Finance.
Neste domingo, 23, inclusive, começou o MED 2.0, que introduz maior rastreabilidade do caminho do dinheiro em casos de fraude. Ele permite identificar movimentações subsequentes, respondendo à rapidez e à “criatividade” da criminalidade no país.
A obrigatoriedade de adesão aos participantes está prevista para fevereiro de 2026. Isso faz parte da agenda contínua e ainda extensa do BC. Isso porque, ela prevê a evolução do Pix Parcelado, o início do Pix em Garantia, a Duplicata no Pix e o Pix por Aproximação Off-line.
Hoje, o Pix deixa de ser visto como um produto isolado e passa a ser tratado como plataforma que sustenta modernização, interoperabilidade e mantém o mercado com a barra alta, focando em eficiência, rentabilidade e acesso real.
Seu impacto não está no glamour tecnológico ou nos números consquistados, mas na maturidade que impôs ao setor financeiro e de pagamentos do nosso país. Em suma, mais do que nunca, a inovação responsável e a eficiência são a base do futuro.