Foto: Freepik
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O agro brasileiro vive um momento que exige uma leitura mais profunda sobre a dinâmica do crédito rural. Muito se fala que o setor atravessa apenas uma fase, mas, na prática, estamos diante de uma mudança estrutural. A combinação entre margens mais apertadas, custos crescentes de produção, estabilidade nos preços das commodities e aumento da percepção de risco transformou o crédito rural em um recurso mais escasso, mais caro e com exigências mais rígidas. Isso não deve se resolver no curto prazo. O produtor opera hoje com margens comprimidas porque, enquanto os custos de produção seguem em alta, os preços das commodities permanecem estabilizados nas bolsas internacionais. Quando o custo cresce e o preço não acompanha, a margem diminui e, quando a margem diminui, o risco percebido pelas instituições financeiras aumenta. Soma-se a isso o avanço do número de recuperações judiciais envolvendo produtores e as taxas de juros ainda elevadas no país, o que reforça um ambiente no qual o crédito tende a continuar restrito, com juros mais altos e maior demanda por garantias reais.

Esse contexto impacta diretamente o planejamento das propriedades rurais. O produtor precisa ajustar a estratégia de safra com precisão maior para ter lastro suficiente na hora de negociar o financiamento. Em paralelo, decisões de investimento passam a ser revistas. Em vez de substituir máquinas, muitos produtores optam por manutenção. Na escolha de insumos, buscam alternativas mais acessíveis e canais de compra que permitam maior economia. É um movimento natural de adequação ao custo financeiro mais alto. Ao mesmo tempo, surge uma oportunidade para quem conseguiu manter capital próprio, já que a compra à vista volta a ser um diferencial importante em um cenário de menor liquidez, permitindo negociações mais assertivas com fornecedores.

Nesse novo ambiente, a tecnologia se consolida como peça-chave para destravar o crédito no campo. Ela atua tanto nas camadas mais operacionais do processo quanto nas transformações estruturais do sistema. No aspecto mais imediato, plataformas digitais reduzem a burocracia ao permitir emissão e assinatura de documentos de forma eletrônica, envio online de garantias, verificação automática de informações e tramitação mais rápida entre as partes envolvidas. Isso agiliza a concessão de crédito em um momento em que as instituições exigem mais documentação e mais evidências de capacidade de pagamento.

Mas é na dimensão estrutural que a tecnologia mostra seu maior potencial. O modelo tradicional de análise de crédito rural trata regiões, culturas e perfis produtivos de maneira homogênea, o que cria distorções evidentes. Dois produtores da mesma região, cultivando a mesma cultura e operando em áreas semelhantes podem receber o mesmo score de crédito, mesmo que um deles utilize tecnologia avançada, tenha histórico sólido de produtividade e apresente comportamento financeiro exemplar, enquanto o outro não. A digitalização abre caminho para uma análise verdadeiramente individualizada, baseada em dados de produção, comportamento de compra e pagamento, histórico de produtividade e uso de tecnologia no campo. Essa individualização reduz a assimetria de informação, melhora a qualidade das avaliações e permite que o crédito seja concedido a partir da realidade de cada produtor, e não de um modelo genérico aplicado a toda uma região. Além disso, essa base de dados mais robusta viabiliza caminhos ainda pouco explorados no Brasil, como operações de securitização específicas para produtores com bom histórico, algo praticamente inviável sem o suporte de tecnologia.

É nesse contexto que soluções digitais de crédito, como o Orbia Pag, começam a mostrar seu diferencial, não como instrumentos comerciais, mas como exemplos de como o setor pode evoluir. Modelos que integram dados de comportamento, histórico de compras e desempenho no campo permitem análises mais completas e personalizadas. Essa capacidade de cruzar múltiplas informações e formar uma visão individualizada do risco torna o processo mais seguro para quem concede crédito e mais acessível para quem precisa dele. É um movimento que tende a ganhar escala à medida que o agro avança em digitalização.

O futuro do crédito rural no Brasil passa, inevitavelmente, pela tecnologia. Em um momento de restrição financeira, ela permite ampliar o acesso ao financiamento, reduzir burocracias e construir um sistema mais justo e eficiente. O campo continuará enfrentando desafios relevantes nos próximos ciclos, mas, se o risco é individual, a análise também precisa ser. A tecnologia é o que permitirá essa virada, destravando investimentos e dando ao produtor condições mais adequadas para seguir crescendo, mesmo em um ambiente de crédito mais apertado. O setor que compreender e adotar essa nova lógica terá capacidade de se destacar, fortalecer sua operação e permanecer competitivo em um cenário que tende a exigir cada vez mais eficiência, informação e precisão.

Formado em Processamento de Dados pela Universidade Mackenzie com MBA em Marketing pela ESPM e Alumini da Harvard Business School pelo AMP206, Ivan Moreno, CEO da Orbia, possui sólida experiência no agronegócio e passagem por várias multinacionais do setor. Na Orbia é o responsável pela condução do negócio e implantação da estratégia em todos os setores da empresa. Em 2024, foi reconhecido como uma das 100 personalidades mais influentes do agronegócio brasileiro, na categoria Tecnologia, Pesquisa e Inovação, por meio de votação aberta e uma pesquisa de mercado, administrada pelo Conselho Editorial do Grupo Mídia.

Ivan Moreno

Ivan Moreno, CEO da Orbia, é formado em Processamento de Dados pela Universidade Mackenzie e tem MBA em Marketing pela ESPM. Com ampla experiência no agronegócio e passagem por multinacionais do setor, lidera a estratégia e operação da Orbia. Em 2024, foi eleito uma das 100 personalidades mais influentes do agronegócio brasileiro na categoria Tecnologia, Pesquisa e Inovação pelo Grupo Mídia.

Ivan Moreno, CEO da Orbia, é formado em Processamento de Dados pela Universidade Mackenzie e tem MBA em Marketing pela ESPM. Com ampla experiência no agronegócio e passagem por multinacionais do setor, lidera a estratégia e operação da Orbia. Em 2024, foi eleito uma das 100 personalidades mais influentes do agronegócio brasileiro na categoria Tecnologia, Pesquisa e Inovação pelo Grupo Mídia.