
O Bitcoin tenta reencontrar fôlego após a turbulência da semana passada, quando recuou para níveis próximos de US$ 80 mil em algumas bolsas. Desde então, a criptomoeda acumulou uma alta de aproximadamente 11%, em meio a uma queda da volatilidade global e a uma melhora do apetite por risco. Ainda assim, o movimento é visto como frágil por especialistas: o BTC continua negociado abaixo da média móvel exponencial de 50 dias (EMA), hoje em US$ 100.550, um nível considerado chave para definir tendência.
A leitura mais cautelosa vem justamente da análise de mercado sobre o ambiente macro, que segue sendo o principal driver para o setor de criptoativos.
Expectativa por cortes de juros explica parte da melhora
A recente trégua observada no mercado de Bitcoin está ligada à percepção de que o Federal Reserve pode iniciar em breve seu ciclo de cortes de juros. Essa expectativa suavizou a aversão ao risco e trouxe suporte para ativos mais voláteis, como o BTC.
Para Guilherme Prado, country manager da Bitget, esse alívio não representa, por si só, uma mudança estrutural de tendência.
“Grande parte desse alívio recente vem da expectativa crescente de que o Federal Reserve pode iniciar um ciclo de cortes de juros em breve. Mas esse movimento ainda é muito dependente do discurso do Fed, não apenas do corte em si.”
Segundo Prado, o mercado já precificou completamente um corte de 25 pontos-base. Por isso, o efeito desse anúncio tende a ser limitado. O que realmente pode mexer com o Bitcoin é o que estiver por trás das palavras do presidente Jerome Powell.
Powell é quem pode definir o destino do rali
A reunião do Fed nos dias 9 e 10 de dezembro pode ser decisiva para o humor dos investidores. Prado explica que, mais importante do que o corte inicial, será entender a intensidade do ciclo de afrouxamento para 2025.
“A direção mais ampla do mercado dependerá muito mais do tom adotado por Powell. Se houver sinalização de uma flexibilização mais agressiva em 2025, o mercado pode ganhar tração e ver diversos ativos retomando níveis técnicos importantes.”
Esse cenário abriria espaço para que o Bitcoin rompesse a EMA de 50 dias, algo que o mercado acompanha de perto. Por outro lado, se Powell adotar um discurso mais duro ou condicionar os cortes a indicadores mais fortes, a recuperação vista nos últimos dias pode perder força rapidamente.
“O rali atual corre risco de se esgotar se o Fed reforçar uma postura conservadora. Nesse caso, o Bitcoin pode voltar a testar suportes mais baixos antes de pensar em retomar tendência de alta.”, completa Prado.
Volatilidade baixa não significa risco menor
Embora a volatilidade do BTC tenha recuado após semanas de tensão, o especialista ressalta que isso não deve ser confundido com estabilidade.
Segundo Prado, o mercado está em um estágio sensível, no qual qualquer mudança de expectativa em relação à política monetária americana pode provocar movimentos bruscos, tanto para cima quanto para baixo.
O que acompanhar daqui para frente
De acordo com a análise do especialista, três variáveis serão fundamentais:
- Discurso do Fed: mais do que a decisão de juros, o tom de Powell será decisivo.
- Rompimento da EMA de 50 dias: sinal técnico de retomada consistente.
- Fluxo institucional: sensível às condições macro e à curva de juros.
Por ora, o Bitcoin avança, mas sua recuperação ainda depende de validação macroeconômica. Como destaca Prado, o mercado está mais otimista, mas ainda longe de um cenário consolidado de alta.