O empresário circula entre os bastidores da política, do mercado de combustíveis e até das pistas de discotecagem (Fotos: Reprodução / Montage BP Money)
O empresário circula entre os bastidores da política, do mercado de combustíveis e até das pistas de discotecagem (Fotos: Reprodução / Montage BP Money)

A megaoperação deflagrada na última quinta-feira (27) voltou a colocar no centro do noticiário um personagem que há anos circula entre os bastidores da política, do mercado de combustíveis e até das pistas de discotecagem.

Ricardo Andrade Magro, empresário que controla o Grupo Refit, é apontado por autoridades como peça-chave de um esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro que teria movimentado cifras bilionárias no setor.

Comandante da empresa que assumiu a antiga Refinaria de Manguinhos em 2008, Magro já acumulava longa trajetória de conflitos com o fisco antes da Operação Poço de Lobato.

A Refit figura entre os maiores devedores contumazes do país, com dívidas que ultrapassam R$ 26 bilhões — valor que o transformou em um nome amplamente conhecido no setor e entre órgãos de fiscalização.

Do escritório à cabine de DJ

A figura de Magro costuma intrigar até quem acompanha o mercado de combustíveis. Advogado de formação, ele já atuou na defesa de políticos de peso, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Fora do ambiente jurídico e empresarial, adotou o alter ego “Orgam”, seu sobrenome ao contrário, para se apresentar como DJ em festas e eventos privados.

Apesar de seus negócios terem raízes no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, Magro vive há anos em Miami, onde leva uma rotina distante das operações policiais que o miram no Brasil.

De lá, mantém a administração do grupo e um estilo de vida abastecido por imóveis e ativos de alto valor.

Operações, suspeitas e confrontos com o fisco

As investigações envolvendo o nome do empresário se multiplicaram ao longo da última década. A operação da última quinta-feira (27) não é a primeira a apontá-lo como articulador de mecanismos sofisticados para driblar tributos.

Em dezembro do ano passado, Magro foi citado em uma apuração da Polícia Civil que investigava o uso de 188 empresas em uma rede de fraudes fiscais e lavagem de dinheiro.

Meses depois, voltou ao radar na Operação Carbono Oculto, que rastreava a infiltração do PCC no comércio de combustíveis.

Após essa operação, ele afirmou ser “perseguido” e “ameaçado”. Em entrevista à Folha de S.Paulo, negou qualquer relação com organizações criminosas e disse ser alvo de intimidação do Primeiro Comando da Capital por tentar combater irregularidades no setor. Segundo Magro, grandes distribuidoras também teriam contribuído para sua “difamação”.

A defesa e o embate com as distribuidoras

Em nota divulgada nesta quinta-feira, a Refit rejeitou as acusações de sonegação, afirmando que não há “qualquer tentativa de ocultar receitas ou fraudar o recolhimento de tributos”.

A empresa sustentou que suas disputas fiscais estão sendo tratadas no Judiciário, procedimento, segundo a companhia, adotado “por inúmeras empresas brasileiras que divergem de uma cobrança tributária, incluindo a própria Petrobras”.

A Refit ainda declarou que autoridades foram “levadas a erro pelo cartel das distribuidoras personificado no Instituto Combustível Legal”.

Prisões, offshores e acusações arquivadas

Antes de virar protagonista do setor de combustíveis, Magro já havia sido alvo de outras apurações. Em 2016, foi preso em uma investigação que apontava prejuízos de ao menos R$ 90 milhões a fundos de pensão, como Petros e Postalis.

Na época, o empresário se entregou à Polícia Federal após ser considerado foragido e ter o nome incluído em lista da Interpol.

Seu nome também apareceu nos Panama Papers, associado a seis offshores estruturadas pela Mossack Fonseca, escritório especializado na criação de empresas usadas para ocultação patrimonial.

Outro episódio envolveu uma denúncia do MPSP (Ministério Público de São Paulo), posteriormente arquivada, que investigava pagamentos de propina na ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Segundo o órgão, empresas ligadas ao grupo teriam participado de esquemas de sonegação e adulteração de combustíveis, sustentados por uma “rede de proteção” dentro do regulador.