
A rejeição de presidentes nos meses de boletos se tornou um padrão recorrente na política brasileira e ajuda a explicar por que a avaliação do governo costuma cair no início do ano.
A análise foi apresentada por Roberto Reis, estrategista eleitoral com 27 anos de mercado, no painel “Estratégia e poder: os bastidores das eleições de 2026”, realizado na última quarta-feira (3), durante o Finance Day, evento do BP Money que neste ano adotou o tema “Entre urnas e juros: o que o investidor precisa saber para 2026”.
Segundo o especialista, há um comportamento consolidado nas pesquisas. A população sente mais pressão financeira justamente nos meses de grandes despesas, o que se reflete na percepção sobre qualquer governo.
Pressão financeira cria ‘janela de piora’ nas pesquisas
Reis explicou que, ao observar a média móvel de 30 dias da aprovação presidencial, é possível identificar uma tendência repetida de queda em meses decisivos para o bolso do brasileiro.
“Vocês vão ver uma tendência natural de piora, e que às vezes ela se intensifica muito no início do ano, no final do primeiro semestre, em novembro e março”, afirmou no painel.
O especialista associou essa dinâmica aos gastos concentrados nesses períodos — como matrícula escolar, IPVA, material escolar, faturas acumuladas e despesas pós-Carnaval. Essa sobrecarga gera um efeito direto nas pesquisas.
Em outra parte da fala, Reis destacou que o “incumbente que já tem uma rejeição vai sofrer um pouco mais nos meses de boleto, fatura de cartão de crédito, TPU, IPVA, matrícula, material escolar”.
Uma queda que não depende do presidente, mas do ciclo
Segundo o especialista, o fenômeno não é exclusivo do atual governo. Trata-se de um padrão do sistema presidencialista brasileiro e do ciclo natural de desgaste no mandato. Reis lembrou que Dilma, Temer e Bolsonaro também enfrentaram quedas similares.
“A culpa disso chama-se ciclo de mandato, desgaste de popularidade no sistema presidencialista de coalizão”, contextualizou o cenário.
Ainda na ocasião, Reis também apontou que, historicamente, presidentes que enfrentam maior vulnerabilidade tendem a ver o Centrão ganhar força dentro do jogo político. outro fator que interfere na avaliação pública do governo.
Expectativas para 2025 e preparação para 2026
Apesar da piora atual nas pesquisas, Reis acredita que o movimento tende a se estabilizar mais adiante. Segundo sua análise, há fatores sazonais e uma “reação da máquina” que podem melhorar a percepção do eleitor durante o ano.
O analista disse que, olhando o ciclo histórico, é possível prever um alívio na rejeição ao longo de 2025, ainda que isso não garanta recuperação sólida ou linear.
Ao mesmo tempo, o especialista ressaltou que o eleitor tem memória curta. “Nada muito relevante pega por mais de seis meses”, resumiu, ao explicar que o debate político mais intenso deve acontecer apenas em 2026.
O impacto direto nas eleições
Para Reis, o comportamento do eleitor nos meses de maior pressão financeira tende a influenciar a construção das narrativas eleitorais. O estrategista eleitoral afirmou que parte do eleitorado, especialmente o eleitor do meio, reage às condições do custo de vida e aos assuntos de segurança, temas que devem dominar a disputa presidencial de 2026.
Nesse contexto, a rejeição de presidentes nos meses de boletos funciona como um termômetro antecipado das campanhas e ajuda a orientar as estratégias dos principais grupos políticos.