
O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do terceiro trimestre de 2025, divulgado nesta quinta-feira (4), ficou abaixo do que a ampla maioria dos especialistas esperavam, mas sem destoar muito. Com o setor de Serviços estagnado (0,1%), os principais pontos que puxaram o índice para o crescimento foram a Agropecuária (0,4%) e a Indústria (0,7%).
A economia do Brasil avançou 0,1% entre os meses de julho e setembro, contra a expectativa de cerca de 0,2%. Para especialistas ouvidos pelo BP Money, o resultado consolida a visão de desaceleração da economia do país.
Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da FBNF (Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças) destacou a queda no poder de compra das famílias, como principal aspecto para a estagnação do setor de serviços – responsável por 70% do PIB do país – impactado pelos altos juros.
“Um avanço de apenas 0,1% mostra o quanto esse segmento está sofrendo — e tende a continuar sofrendo. É a consequência direta do alto endividamento das famílias, da Selic elevada e da crônica falta de produtividade do país. O Brasil não gera valor como deveria, e isso pesa de forma significativa sobre os serviços”, comentou.
Diante desta realidade, todos os especialistas ouvidos pelo BP Money defenderam cortes nos juros, o que não deve acontecer tão cedo, já que o resultado foi de estabilidade.
“Caso o PIB tivesse registrado uma queda de 0,4%, isso colocaria pressão direta sobre o Banco Central para acelerar o corte de juros, já que a economia precisaria de estímulo. Nesse cenário, a Bolsa possivelmente teria reagido bem, apostando em um corte já em janeiro”, explicou Louzada.
Para o conselheiro da ANCORD Pablo Spyer, “a economia praticamente ficou de lado”.
“Pelo lado da demanda, tanto consumo quanto investimento avançam em ritmo mais fraco, pressionados pelo crédito ainda caro e pelo custo elevado do capital — um cenário que o IBC-Br já vinha antecipando. Além das taxas de juros altas aqui, as tarifas impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros também pesaram sobre a atividade”, comentou.
O resultado fez com que alguns mudassem as suas apostas pra o PIB anual para a faixa dos 2,2%, como defende Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados,)
“[…] tínhamos potencial para crescer em um ritmo maior do que o observado durante o último trimestre. Nesse sentido, as expectativas de crescimento do PIB ficam na casa de 2,2%, até 2,3%, isso a depender do último trimestre do ano.”
Aqueles que não estão tão prejudicados
A situação do setor de serviços, no entanto, não afeta todos os segmentos, como é o caso do mercado de luxo. “O segmento de luxo tem uma dinâmica própria: depende menos do ciclo de crédito e mais da busca por segurança patrimonial, diferenciação arquitetônica e boa localização. Mesmo com um crescimento econômico modesto, a demanda permanece firme, e a escassez de terrenos bem posicionados mantém a absorção elevada nos lançamentos de maior qualidade”, explicou Pedro Kopstein, sócio da incorporadora LIV Inc – Kopstein.
De acordo com Kopstein, o cenário tende a estabelecer o mercado imobiliário como um todo, já que sinaliza estabilidade no emprego, maior previsibilidade de renda e melhora gradual na confiança das famílias.
“Esses fatores costumam destravar decisões de compra que estavam represadas, especialmente em segmentos mais sensíveis ao crédito. Em um cenário de inflação controlada e atividade moderada, o setor como um todo ganha terreno para avançar com lançamentos, ajustar estoques e sustentar um ciclo de crescimento mais equilibrado.”