Vendas no varejo surpreendem e sobem 0,5% em outubro
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As vendas no varejo brasileiro cresceram 0,5% em outubro, na comparação com setembro, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE.

Foi a primeira alta estatisticamente significativa desde março, com avanço de 1,1% frente ao mesmo mês do ano passado. No acumulado de 2025, o comércio varejista sobe 1,5%, e em 12 meses, 1,7%.

O resultado veio melhor do que o projetado pelo mercado. Levantamento da Reuters apontava expectativa de queda de 0,10% na comparação mensal e recuo de 0,20% na base anual.

Para o economista Maykon Douglas, “o resultado de outubro foi melhor que o esperado”. Segundo ele, “as altas entre os setores foram mais disseminadas, o que levou o índice de difusão a superar a média histórica no mês”.

Vendas no varejo superam projeções do mercado

O desempenho das vendas no varejo em outubro contrasta com o movimento recente da série, que vinha de variações próximas de zero e até de queda em setembro.

De acordo com o IBGE, a alta de 0,5% marca uma inflexão após meses de desempenho fraco e ajuda a sustentar o leve crescimento acumulado no ano.

Maykon Douglas destaca que a surpresa veio justamente da combinação entre dado melhor que o consenso e dispersão setorial:

“Não foi um movimento concentrado em um ou dois grupos. Vimos avanço em diversas atividades, o que sinaliza um varejo um pouco mais equilibrado nesse começo de quarto trimestre.”

Varejo ampliado e restrito: como ficaram os segmentos

Pelas contas do economista, o varejo ampliado – que inclui veículos, materiais de construção e atacarejo – registrou alta de 1,1% em outubro, acima do esperado (+0,3%), mas ainda mostra queda de 0,3% na comparação anual.

Já o varejo restrito (sem veículos, materiais de construção e atacarejo) avançou 0,5%, também superando a projeção de recuo de 0,1%. Na comparação com outubro do ano anterior, o segmento cresceu 1,1%.

Os dados detalhados corroboram esse quadro. Segundo release do IBGE, veículos, motos, partes e peças subiram 3% em outubro, enquanto materiais de construção avançaram 0,6%, contribuindo para o desempenho do comércio varejista ampliado.

Setores sensíveis ao crédito voltam a crescer

As atividades mais sensíveis às condições de crédito voltaram a crescer, com alta de 2,1% em outubro, de acordo com a leitura de Maykon Douglas. Já os segmentos mais correlacionados à renda tiveram elevação mais modesta, de 0,3%.

O economista pondera que parte desse movimento ainda reflete uma base deprimida:

“Essa parte do varejo sofreu bastante ao longo do ano, principalmente na primeira metade. Então, uma parte da alta recente vem da base de comparação baixa.”

Entre os destaques, o economista aponta o desempenho de materiais de escritório (3,2%), veículos (3,0%) e combustíveis e lubrificantes (1,4%), que ajudaram a sustentar o avanço do comércio varejista no mês.

Política monetária ainda pesa sobre o varejo

Apesar do dado positivo de outubro, Maykon Douglas avalia que o setor continua sentindo a política monetária contracionista:

“A leitura é que o varejo pode ter um fim de ano um pouco melhor do que foi o terceiro trimestre. Mas, mesmo com esse alívio pontual, o setor segue entre os mais afetados pelo nível de juros.”

Ele lembra que o carregamento da taxa básica elevada ainda restringe o crédito, principalmente para bens duráveis e tíquetes mais altos, e reduz o ímpeto de consumo das famílias.

“Enquanto o custo do dinheiro permanecer nesse patamar, o varejo deve caminhar com alguma cautela. O dado de outubro é um respiro, mas não muda sozinho o quadro estrutural.”

Assim, as vendas no varejo entram no último trimestre com um sinal um pouco mais favorável, porém ainda condicionadas ao ritmo da política monetária e à evolução da renda das famílias.