Segurança digital: o risco invisível que ameaça as PMEs
Segurança cibernética / Foto: Pixabay

A transformação digital colocou clínicas, laboratórios, fintechs e consultórios no mesmo ecossistema que grandes empresas em relação aos riscos ligados à segurança digital, mas sem o mesmo nível de investimento que os gigantes recebem.

No Brasil, onde havia quase 20 milhões de micro e pequenas empresas em 2024, muitos pequenos provedores de serviços em saúde e finanças ainda operam com sistemas desatualizados, senhas fracas e pouca governança de dados, abrindo as janelas que os criminosos digitais exploram com frequência.

Em setembro, o grupo de ransomware KillSec invadiu os sistemas da MedicSolution, uma fornecedora de software para clínicas e laboratórios, e acessou cerca de 34 GB de dados sensíveis, correspondendo a mais de 94 mil arquivos.

Entre os dados comprometidos estavam resultados de exames, radiografias, fotos médicas (inclusive imagens de menores) e prontuários completos de pacientes de diversos pequenos laboratórios e clínicas. Esse caso expõe de modo trágico como uma PME de saúde, mesmo sem operar como hospital de grande porte, pode ser devastada por um ataque.

O problema não é hipotético: a sofisticação dos ataques evolui e os alvos de maior “valor” (dados de saúde e financeiros) tornam as PMEs desse setor especialmente atraentes.

De acordo com a Fortinet, o número médio de ataques semanais por organização cresceu 21% no segundo trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Além disso, os setores de saúde e serviços financeiros estão entre os setores mais visados por ransomware.

Os custos de uma violação também não são mais um dano apenas reputacional: segundo relatório da IBM o custo médio de uma violação de dados no Brasil pode atingir R$ 7,19 milhões, com variações por país e setor, sem contar multas, perda de clientes e paralisação operacional.

Para negócios de saúde e finanças, além do custo direto, há obrigação legal e ética de proteger dados sensíveis, o que amplia o impacto de cada incidente. 

Por que PMEs de saúde e finanças estão em desvantagem

Diferentemente de grandes instituições, pequenas empresas costumam sofrer com três limitações: orçamento reduzido para cibersegurança, falta de políticas e processos formais e baixa visibilidade sobre a cadeia de fornecedores (softwares e terceiros).

Essa combinação facilita ataques por credenciais comprometidas, vulnerabilidades não corrigidas e fornecedores pouco avaliados, vetores que têm sido responsáveis por muitos incidentes recentes.

A solução não passa apenas por despesas elevadas em tecnologia. Trata-se de priorizar medidas de alto impacto e baixo custo. Controle de acesso mínimo (princípio do least privilege), autenticação multifator, atualização e patching regulares, backups offline e treinamentos básicos contra phishing reduzem drasticamente o risco.

Para o setor de saúde, é crítico também segmentar redes (separar equipamentos médicos de estações administrativas) e implementar monitoramento de integridade de dados.

Governança e planos de resposta são igualmente essenciais. Ter um plano de resposta a incidentes, contato com autoridades e provedores de resposta a incidentes, e cláusulas contratuais que obriguem fornecedores a padrões mínimos de segurança reduz o tempo de remediação e, segundo estudos, tempo mais curto significa custos menores e menor exposição de dados. Investir em governança é, portanto, investimento em continuidade. 

O setor público e o ecossistema de tecnologia têm papel importante: incentivos, linhas de crédito para modernização e programas de capacitação específicos para PMEs de saúde e finanças podem acelerar a maturidade.

Enquanto isso não chega para todas, cabe aos líderes dessas empresas adotar uma postura pragmática: mapear ativos críticos, priorizar controles básicos, e tratar segurança como risco operacional. A resiliência digital é tão vital quanto a caixa registradora ou o prontuário dos pacientes.

Além do Firewall

Uma coluna direta e esclarecedora sobre o impacto da cibersegurança, da infraestrutura digital e da conectividade nos negócios. Com olhar técnico e vivência executiva, Daniel Tieppo compartilha tendências, aprendizados e reflexões sobre como a tecnologia pode impulsionar a competitividade das empresas em um cenário cada vez mais desafiador. Um espaço para traduzir conceitos complexos em insights práticos que ajudam líderes a tomar melhores decisões.

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