
A greve na Petrobras (PETR3, PETR4) entrou no terceiro dia nesta quarta-feira (17) sem previsão de encerramento, atingindo 24 plataformas de petróleo e 8 refinarias, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP). O movimento ocorre por tempo indeterminado após impasse nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Apesar da ampliação do movimento, a Petrobras afirma que os planos de contingência funcionam e garantem o abastecimento. Ainda assim, cresce a dúvida: quanto tempo esse cenário pode durar sem gerar impacto econômico?
Para avaliar os riscos, o especialista em reestruturação empresarial Marcos Pelozato analisou os possíveis efeitos da paralisação.
Qual é o prejuízo diário da greve?
Segundo Pelozato, não há um número oficial consolidado neste momento. Isso ocorre porque a Petrobras ativou protocolos de contingência que, por ora, evitam perdas diretas de produção.
“No curto prazo, com a contingência em funcionamento, o prejuízo direto tende a ser baixo”, explica. Ainda assim, surgem custos adicionais ligados à logística e a ineficiências operacionais.
No entanto, o cenário muda se a greve se prolongar. No terceiro trimestre, a Petrobras produziu 3,14 milhões de barris de óleo equivalente por dia. Uma redução hipotética de 100 mil barris diários representaria cerca de US$ 6,2 milhões em receita bruta adiada, considerando o Brent a US$ 62.
Além disso, no refino, a empresa opera com capacidade de 1,851 milhão de barris por dia. Caso parte dessa estrutura pare por mais tempo, o impacto aparece em maiores importações e custos logísticos elevados.
E o combustível, como fica?
A principal dúvida do consumidor tem resposta direta: depende da duração da greve. Segundo Pelozato, se a paralisação for curta, o efeito sobre os preços tende a ser limitado. “O posto não reajusta automaticamente por causa da greve”, afirma.
Por outro lado, uma greve prolongada, que force mais importações e gere estresse logístico, pode elevar o custo marginal do abastecimento. Nesse cenário, cresce a pressão por repasses, principalmente sobre diesel e querosene de aviação.
Impactos para a economia brasileira
De acordo com o especialista, os reflexos econômicos mais relevantes surgem por três canais principais:
1. Transporte e logística
Qualquer ruído no diesel afeta frete, agronegócio, indústria e serviços. Mesmo sem desabastecimento, o aumento de custos mexe com expectativas.
2. Inflação e juros
Combustíveis têm peso direto e indireto nos índices de preços. Assim, greves longas podem contaminar a inflação corrente e as projeções futuras.
3. Confiança e mercado financeiro
“A Petrobras tem relevância fiscal e de investimento. Qualquer risco à produção afeta preços de ativos e percepção de risco”, explica Pelozato.
Por enquanto, o abastecimento segue garantido, o que reduz o risco de choque imediato na economia real.
Greve ganha força no Norte Fluminense
No Norte Fluminense, a paralisação avançou com mais intensidade. O número de plataformas offshore paradas na Bacia de Campos subiu de 15 para 22.
Além disso, trabalhadores solicitaram desembarque, o que ampliou o impacto operacional. No início do movimento, na segunda-feira (15), eram 16 plataformas no litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de seis refinarias.
Durante greves, as operações costumam ficar sob responsabilidade das equipes de contingência da estatal.
O que está em disputa no ACT
A greve começou após a rejeição da segunda contraproposta da Petrobras. Segundo a FUP, três pontos centrais ficaram de fora:
- Déficits da Petros, sobretudo os Planos de Equacionamento de Déficit (PEDs);
- Cargos e salários, com críticas a mecanismos de ajuste fiscal;
- Modelo de negócios, com defesa do fortalecimento da Petrobras no longo prazo.
Além disso, reportagens indicam insatisfação com o reajuste, que teria garantido ganho real de apenas 0,5% em alguns níveis de remuneração.
Quando a greve pode terminar?
Até agora, não existe uma data confiável para o fim da paralisação. Segundo Pelozato, o desfecho depende de dois fatores. Primeiro, uma melhora objetiva da proposta, principalmente em salários, benefícios e previdência. Segundo, a construção de uma narrativa de vitória mínima capaz de ser aprovada em assembleias.