Ano Eleitoral: perspectivas para a economia

O ano de 2026 começa cercado de dúvidas para a economia brasileira. O calendário eleitoral, por exemplo, tende a ampliar gastos públicos e aumentar a incerteza. Economistas ouvidos pela BP Money apontam diagnósticos divergentes sobre o que pode acontecer nos próximos meses. O cenário, portanto, indica que múltiplos vetores podem direcionar o país para resultados distintos.

Sinais opostos no horizonte econômico

Ricardo Rodil, economista e líder do Mercado de Capitais da Crowe Macro Brasil, demonstra pessimismo. “Pela primeira vez, não estou muito otimista”, afirma. Segundo ele, a inflação permanece acima do desejado, mesmo com juros reais próximos a 10% ao ano.

Para Rodil, o risco principal está na política fiscal. Ele avalia que a demanda cresce acima da capacidade de oferta do país. Para o economista, o fluxo de recursos via programas sociais aumenta a pressão de preços. Apesar disso, ele não critica os programas em si, mas a falta de controles e metas claras.

Por outro lado, André Mirsky, economista e consultor financeiro, oferece leitura mais equilibrada. Segundo ele, a desinflação iniciada em 2025 e o setor externo forte ajudam a limitar riscos. “Existem vetores que podem surpreender positivamente”, afirma.

Projeções de inflação, PIB e juros

Atualmente, parte dos analistas projeta inflação próxima de 4,2% em 2026. O mercado estima um PIB de 1,78%, com chance de crescimento maior se a confiança melhorar.

Além disso, o Copom manteve a Selic em 15% na última reunião do ano. Há expectativa de cortes graduais ao longo de 2026, caso a inflação ceda. Alguns consultores, no entanto, acreditam que o crescimento pode chegar a 3%, mesmo em ano eleitoral.

Pressão fiscal continuará como foco central

O próximo governo deve receber um quadro fiscal delicado. Rodil afirma que a dívida pública pode superar 100% do PIB sem mudanças estruturais. Nesse ponto, Mirsky reconhece o peso do problema, mas rejeita previsões catastróficas.

Segundo ele, o país ainda conta com fatores de sustentação, como exportações robustas, contas externas saudáveis e produção agrícola consistente.

Inflação e mercado de trabalho sob análise

A inflação resiliente de 2025 ainda divide opiniões. Para Mirsky, parte da pressão veio de choques climáticos e reajustes administrados. “A política monetária funciona, mas com defasagens maiores”, avalia.

Além disso, o mercado de trabalho segue forte. A taxa de desemprego ficou em 5,4% em outubro, a menor desde 2012. Esse número mostra uma economia acima da capacidade ideal de produção, o que dificulta o controle dos preços.

Ainda assim, Rodil prevê estabilidade no emprego com ganhos marginais. Mirsky concorda, mas destaca que juros altos por mais tempo devem enfraquecer a criação de vagas. Ambos não projetam aumento salarial amplo, com exceção de áreas específicas, como tecnologia.

Eleições devem elevar a volatilidade

Economistas afirmam que o efeito eleitoral deve ganhar força a partir do segundo semestre. Nesse período, a incerteza pode reduzir investimentos e adiar projetos estruturais.

Além disso, o comportamento de preços dos alimentos pode se tornar tema chave, assim como ocorreu nas eleições dos Estados Unidos. Mirsky recomenda cautela para famílias e empresas. Para ele, o ideal é reduzir dívidas caras, priorizar renda fixa e evitar grandes compras a prazo.

Agronegócio segue como ponto firme

Os economistas concordam em um ponto: o agronegócio continuará como motor da economia. Rodil acredita que não há outro setor capaz de assumir esse papel. Ainda assim, ele destaca riscos climáticos e possíveis tensões comerciais entre Estados Unidos e China.

Ano deve exigir gestão cuidadosa

O consenso final é que 2026 exigirá gestão disciplinada de riscos. Não se trata de um cenário de crise, mas de navegação cuidadosa.

“2026 tende a ser um ano de gestão de risco mais precisa”, resume Mirsky. Já Rodil espera aumento do custo de vida, crédito restrito e ganhos salariais limitados.

As eleições de outubro serão determinantes para o rumo econômico nos próximos anos, influenciando expectativas, investimentos e confiança.