A consolidação do Brasil como maior exportador de algodão, posição alcançada em 2024, passa por desafios logísticos que estão sendo abordados pela Abapa (Associação Baiana dos Produtores de Algodão). Uma das principais propostas da nova gestão da associação é ampliar a participação do Porto de Salvador nos embarques da commodity.
Para a presidente da Abapa no biênio 2025/2026, Alessandra Zanotto Costa, investimentos nesse sentido demandam “extrema atenção“, uma vez que a produção da Bahia, a segunda maior do País, está crescendo, e o Porto de Santos (SP) ainda embarca 95% de todo o volume de algodão exportado, segundo dados da Anea (Associação Nacional de Exportadores de Algodão).
“Aproveitar o potencial e a localização geográfica estratégica é um caminho lógico a seguir“, afirmou a presidente em entrevista ao BP Money.
No ano passado, o Brasil embarcou 2,787 milhões de toneladas de algodão e assumiu o posto de maior exportador mundial do produto, desbancando os EUA pela primeira vez desde 1994.
Para este ano, a expectativa dos produtores é consolidar essa posição, com uma estimativa de alta de 15,6% na produção, para 3,70 milhões de toneladas, nas projeções do Icac (Conselho Consultivo Internacional do Algodão). Para a exportação, a Anea projeta o mesmo volume atingido em 2024, de 2,8 milhões de toneladas.
A Câmara Setorial do Algodão projeta um crescimento de 10% da área plantada na Bahia e um aumento na produção em pluma de 5,5%. O crescimento da demanda global por fibras sustentáveis anima os produtores baianos, que investem cada vez mais para aumentar a qualidade e produtividade da safra, destaca Costa.
Confira a entrevista na íntegra
Pode contar um pouco sobre a sua trajetória até chegar à presidência da Abapa?
Minha trajetória tem sido construída sobre trabalho e dedicação ao setor agrícola. Venho de uma família que há décadas contribui para o crescimento do agronegócio na Bahia, especialmente na cotonicultura e no beneficiamento de algodão, mas também na produção de soja e milho e criação pecuária, com o Grupo Zanotto. Com experiência tanto na produção quanto na gestão, atuei em diversas frentes da Abapa e também na Abrapa, adquirindo conhecimento e fortalecendo minha liderança. Ter recentemente assumido a presidência da Abapa é uma grande honra e responsabilidade, e minha missão é seguir promovendo o desenvolvimento sustentável do algodão baiano.
Como você avalia o desempenho do estado na última safra?
A última safra mostrou a força do algodão baiano, mesmo diante de desafios como oscilações climáticas e variabilidade nos preços internacionais. Os produtores se adaptaram e continuaram a investir em tecnologia e boas práticas sustentáveis, e isso faz diferença no resultado. A Bahia está consolidada como o segundo maior produtor de algodão do Brasil, mas a participação do estado no sucesso do algodão brasileiro vai além do volume, passando pela qualidade, sustentabilidade e rastreabilidade.
E para esta safra, quais são as expectativas?
As expectativas são positivas. O último levantamento da Câmara Setorial do Algodão, publicado em dezembro de 2024, indica um crescimento de 10% na área plantada no estado, o que demonstra a confiança dos produtores no setor. A produção estimada em pluma também deve crescer 5,5%. No entanto, desafios como o clima e o mercado externo seguem no radar, exigindo atenção e planejamento estratégico. Em breve, a Câmara fará uma nova reunião e esses números serão atualizados.
Quais são os principais objetivos da nova gestão da Abapa?
Nosso foco é fortalecer ainda mais a cotonicultura baiana, incentivando a inovação, a capacitação de mão de obra e a sustentabilidade, através dos programas nacionais, que implantamos aqui, e das iniciativas próprias, que têm se mostrado muito exitosas, como o nosso Centro de Treinamento e o programa Patrulha Mecanizada, de recuperação de estradas vicinais, com um. Grande viés de sustentabilidade.
Ampliar a comunicação entre a Abapa e o produtor de algodão da Bahia, para que ele entenda o valor da nossa entidade e o quanto a sua atuação traz benefícios para o setor, assim como, individualmente, para o nosso associado, é, sem dúvida, uma meta. Não por acaso, elegemos a palavra conexão como uma das mensagens-chave desta gestão.
Conexão tem a ver com entender o fio condutor da impressionante história da cotonicultura baiana, com a clareza de que nada começou hoje. É um trabalho de muitas mãos, ao qual queremos somar novas ideias e pontos de vista, com visão de futuro e atenção às mudanças que acontecem no mundo e suas novas demandas. Foram muitas conquistas nestes 25 anos de trajetória da Abapa, e cada gestão quer deixar a sua marca, levando a associação a patamares sempre mais altos.
E quais devem ser os principais desafios?
Os desafios incluem a volatilidade do mercado internacional, custos de produção, questões logísticas e climáticas. Além disso, é essencial reforçar a representatividade do setor e garantir que as políticas públicas continuem favorecendo o crescimento da cotonicultura na Bahia.
Elenco aqui também a logística, que, com o crescimento contínuo da produção, tem demandado extrema atenção. Nesse sentido, a consolidação do Porto de Salvador como ponto de partida para o algodão produzido no estado é fundamental. Atualmente, o Porto de Santos responde por 95% dos embarques do algodão brasileiro, e aproveitar o potencial e a localização geográfica estratégica é um caminho lógico a seguir.
Como tem sido o desempenho do agronegócio no oeste da Bahia?
O agronegócio no oeste baiano segue em expansão sustentável, sendo um dos principais motores econômicos da região. A diversificação de culturas e o uso de tecnologias avançadas têm garantido produtividade e ganhos ambientas e sociais. A cotonicultura, em particular, se destaca por gerar empregos e divisas, além de movimentar a economia local.
Em todos os setores da economia regional, o agro deixa a sua marca: do comércio mais básico dos supermercados até as revendas de produtos e máquinas agrícolas, bancos, hotéis, restaurantes, turismo, empresas de entretenimento, dentre outras. O que se vê no oeste da Bahia comprova o que diz estudo da consultoria Kleffmann, que avaliou os dados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 1970 a 2010, e concluiu que municípios que têm a agricultura como base da economia, de modo geral, têm maior evolução de IDH do que as regiões não agrícolas.
Quais são as principais oportunidades na região neste momento? E como o agronegócio pode aproveitá-las?
A principal oportunidade é o crescimento da demanda global por fibras sustentáveis. A Bahia já se destaca por ter algodão rastreável e certificado, o que abre portas para novos mercados. Além disso, investimentos em biotecnologia e manejo eficiente podem elevar ainda mais a produtividade e a qualidade da produção. Para além da cotonicultura, vemos vetores interessantes de crescimento na geração de energia, dentre estes, os biocombustíveis. Novas indústrias estão chegando com essa finalidade.
Gostaria de acrescentar algo?
A Bahia tem um papel fundamental na cotonicultura nacional, e nosso compromisso na Abapa é continuar elevando esse patamar. Queremos que o algodão baiano seja referência não apenas em volume, mas também em qualidade, inovação e sustentabilidade. Contamos com a força dos produtores e parceiros para consolidar esse futuro promissor.
É muito importante ressaltar a preocupação do produtor rural, dentre eles, obviamente, o produtor de algodão, com a sustentabilidade, a educação e a difusão de conhecimento.
No oeste da Bahia, os produtores desenvolvem, às suas próprias expensas, e através de associações como a Abapa, programas de conservação de nascentes, de formação de qualidade de mão de obra, com cursos abertos às fazendas e comunidade, em sua maioria, sem qualquer custo para o aluno. A tecnologia empregada na região requer mão de obra qualificada e, minimamente, formação de ensino médio completo. Essa é a razão de iniciativas como o Centro de Treinamento e Tecnologia, criado e mantido pela Abapa e parceiros, o programa Conhecendo o Agro, voltado aos alunos da rede de ensino fundamental I e II, e as diversas parcerias com instituições como o Senar e o Sebrae.