Gripe aviária

Cadeia produtiva não está em risco, mas enfrenta desafios, afirmam especialistas

Segundo dados do Valor Data, 70% da produção de aves no país está voltada para o consumo interno

Fonte: Freepick
Fonte: Freepick

A detecção do vírus da gripe aviária em solo brasileiro causou um efeito cascata de suspensões nas exportações de frango do país. Medidas sanitárias e comerciais estão em curso para mitigar os efeitos e evitar prejuízos para o mercado nacional, tanto do ponto de vista econômico quanto o sanitário. Especialistas ouvidos pelo BP Money explicam as contramedidas e discutem soluções para o setor.

Segundo dados do Valor Data, 70% da produção de aves no país está voltada para o consumo interno. O Brasil não possui histórico de surtos de gripe aviária, ao contrário dos EUA que são afetados desde 2022 e afetam a inflação dos produtos, destaca Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.

Segundo ele, a cadeia produtiva não está em risco, mas enfrenta desafios com as quais as autoridades ainda não têm experiência.

“O mercado interno ajuda a segurar a crise, mas a ausência de exportações vai ser sentida pelos grandes produtores. Algumas estimativas apontam para um déficit de US$ 300 milhões mensais, um valor que não dá para ignorar”, alerta.

Para Bruno Divino, diretor do Hospital Veterinário do UniArnaldo Centro Universitário, de Belo Horizonte, todas as empresas produtoras de proteína animal devem adotar medidas rigorosas de biossegurança para se protegerem da gripe aviária.

“É fundamental que as empresas mantenham comunicação transparente com autoridades sanitárias e parceiros comerciais para mitigar impactos econômicos e preservar a confiança nos produtos brasileiros”, afirma.

O governo brasileiro ativou o Plano Nacional de Contingência para Influenza Aviária, que inclui protocolos de emergência, como o abate sanitário de aves infectadas, isolamento de áreas afetadas e vigilância intensificada em zonas de risco e está adotando medidas para restaurar a confiança dos mercados internacionais.

De acordo com Divino, o país tem desenvolvido políticas e estruturas para responder a emergências sanitárias, o que inclui o Plano Nacional de Contingência para Influenza Aviária, demonstrando capacidade de resposta a tais incidentes.

Apoio do governo é decisivo para produtores

Desde 2006, o vírus da gripe aviária circula principalmente na Ásia, África e norte da Europa, mas o Brasil havia registrado casos apenas em aves silvestres até a recente detecção em uma granja comercial no sul do país.

Bruno Divino reconhece que pequenos produtores são particularmente vulneráveis em situações de surtos sanitários. Para sobreviverem, é essencial que recebam apoio técnico e financeiro dos governos Federal e Estaduais, incluindo capacitações sobre biossegurança, assistência para implementação de medidas preventivas e compensações financeiras em casos de abate sanitário.

“É importante ressaltar que o Brasil está preparado para surtos de doenças como febre aftosa e influenza aviária com o Serviço Veterinário Oficial (SVO), que é composto pelo Mapa e por órgãos estaduais de sanidade agropecuária, além de veterinários credenciados, é monitorado e auditado continuamente pelo MAPA e pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA)”, comenta o veterinário.

Lopes rememora outros episódios de crise sanitária no Brasil e comenta que a confiança do mercado nos órgãos de vigilância são basilares para superar a crise.

“Promover e seguir as ações de proteção biológica é de responsabilidade desses produtores. Seguir as orientações dos órgãos de saúde é importante para eles quanto para as suas produções.”