Mercado de terras

Fazendas à venda por bilhões: agro impulsiona valorização recorde no Mato Grosso

A propriedade lidera o ranking das mais caras do País, segundo a plataforma Chãozão, especializada em negócios de terras rurais

Foto: Unsplash
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Uma fazenda de 66 mil hectares, com mansão, estrutura industrial completa e pista asfaltada homologada para jatos, está à venda por R$ 5,8 bilhões em Nova Ubiratã, no Mato Grosso.

A propriedade lidera o ranking das mais caras do País, segundo a plataforma Chãozão, especializada em negócios de terras rurais.

Outras nove propriedades no Brasil também ultrapassam a casa dos bilhões, quatro delas no próprio Mato Grosso.

O salto nos preços reflete o protagonismo do agronegócio. Em 2025, o setor deve colher uma safra recorde de 339,6 milhões de toneladas, puxada pela soja.

O valor das terras agrícolas no País subiu 113,3% entre 2019 e 2024, e o das áreas de pastagem, 116,3%, quase quatro vezes mais que a inflação do período (33,6%), segundo dados da Scot Consultoria.

A valorização foi ainda mais expressiva em regiões de fronteira agrícola, como Rondônia (alta de 299,1%) e o próprio Mato Grosso (189,1%).

“Esse movimento foi particularmente forte no Centro-Oeste e em novas fronteiras como o Matopiba e o Sealba”, afirma Geórgia Oliveira, CEO da Chãozão.

No caso do Mato Grosso, a busca por imóveis rurais disparou, especialmente ao longo da BR-163, que virou um dos principais corredores do agro nacional.

Boom bilionário das terras no MT atrai fundos e grandes grupos do agro

Entre os fatores por trás do boom das terras estão a alta rentabilidade das lavouras (soja, milho e algodão), a crescente demanda global por alimentos, melhorias logísticas, a entrada de fundos de investimento e capital estrangeiro, e o uso crescente de tecnologia no campo.

“O Mato Grosso se tornou uma das regiões mais promissoras do País. Só na nossa plataforma, temos mais de 700 imóveis rurais à venda no Estado”, diz Geórgia.

Os negócios bilionários seguem sob forte sigilo. Ainda assim, em 2024, o Grupo Bom Futuro, dos irmãos Maggi Scheffer, os maiores produtores individuais de soja do mundo, adquiriu duas fazendas no Estado por cerca de R$ 2 bilhões, somando 43 mil hectares.

Com a compra, o grupo passou a controlar mais de 650 mil hectares apenas no Mato Grosso.

Estrutura impressionante

A fazenda mais cara à venda está a 426 km de Cuiabá. São 66 mil hectares de terras de dupla aptidão — lavoura e pecuária — com histórico de cultivo de soja, milho e algodão.

A propriedade tem 7,4 mil hectares de pastagens e confinamento para 30 mil cabeças de gado, além de infraestrutura completa: armazéns, algodoeira, oficinas, alojamentos, mansão com área de lazer e pista de pouso com hangar para seis aeronaves.

O local abriga até um distrito oficial de Nova Ubiratã, chamado Água Limpa, com escolas, comércios, agências bancárias e outras estruturas urbanas.

A segunda fazenda mais cara da lista está em Paranatinga, também no Mato Grosso, e é avaliada em R$ 5 bilhões. A área total é de 88 mil hectares.

Em terceiro lugar, uma propriedade de 121 mil hectares em São Félix do Araguaia custa R$ 4,5 bilhões.

Agroindústria impulsiona valor da terra

O avanço da agroindústria também turbina a valorização. Das 40 biorrefinarias de etanol de milho em operação ou construção no Brasil, 17 estão em Mato Grosso.

A maior da América Latina, da Inpasa, está em Sinop. Em 2024, a empresa produziu 3,7 bilhões de litros de etanol, além de DDGS e óleo de milho.

O uso de grãos como o sorgo amplia ainda mais a competitividade da região.

Antes prejudicada pelos custos logísticos, a produção de milho da segunda safra agora é majoritariamente absorvida pelas biorrefinarias locais, agregando valor à cadeia produtiva.

Potência agrícola

Se fosse um país, o Mato Grosso estaria entre os dez maiores produtores de grãos do mundo. Só em soja, rivalizaria com a Argentina. Em área, são 903 mil km², o equivalente a três vezes a Itália.

O Estado lidera a produção nacional de soja, milho e algodão, além de ter o maior rebanho bovino do País: 34,2 milhões de cabeças.

O uso de técnicas como ILP (Integração Lavoura-Pecuária) permite que uma mesma área produza duas safras de grãos e uma de carne por ano, elevando a rentabilidade da terra.

Interesse estrangeiro

O apetite internacional também cresceu. Em 2025, a Chãozão registrou mais de 113 mil buscas por fazendas no Brasil feitas por norte-americanos.

Ingleses, chineses, alemães, australianos e portugueses também lideram as pesquisas.

A compra de terras por estrangeiros é permitida no Brasil, mas com restrições.

Áreas na Amazônia Legal ou em faixa de fronteira precisam de aval do Conselho de Defesa Nacional.

Propriedades maiores que 20 módulos de exploração exigem autorização do Incra.