O IBC-Br (índice de atividade econômica do Banco Central), conhecido como prévia do PIB, já indicou boas perspectivas e recuperação para o setor da agropecuária. “O agronegócio, neste início de ano, teve um crescimento na faixa de 5% e 6%, trazendo, assim, excelentes expectativas para o crescimento setorial em 2025”, comenta o coordenador do Fórum de Agronegócios e Agricultura Familiar, Adenauer Rockenmeyer.
“O IBC-Br do primeiro trimestre mostrou uma recuperação do PIB e faz todo sentido: a gente teve um clima atípico em dezembro, depois teve uma chuva de fevereiro que normalizou, depois piorou, mas no geral a situação na região Centro-Oeste, Tocantins e Maranhão normalizou, está sendo um sucesso na safra”, diz o analista do Andbank Fernando Bresciani.
Segundo estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o PIB do agronegócio deve crescer 5% em 2025. Para a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o resultado deve ser impulsionado pelo aumento da produção e fortalecimento da agroindústria.
A Conab prevê uma safra de grãos de 328,3 milhões de toneladas, o que representa um recorde histórico e uma alta de 10,3% em relação ao ciclo anterior. O número corresponde a um acréscimo de 30,6 milhões de toneladas ante 2023/24.
Além da soja e milho, culturas que tradicionalmente são destaque, o especialista da Hike Capital, Gianluca Di Mattina, destaca também o desenvolvimento de culturas alternativas como sorgo, milheto, girassol e feijão, que estão ganhando espaço como opções vantajosas para a safrinha.
Mesmo com safra recorde, desafios dos produtores podem comprometer resultados do PIB
O otimismo ocorre principalmente devido à expectativa de recorde na safra de grãos, que indica que o setor está se recuperando após um período de grande impacto das mundanças climáticas. “A colheita do início de ano demonstra força e resiliência, em um período desafiador para o setor”, comenta Rockenmeyer.
Além da crise climática, esses desafios envolvem altos custos de produção e incertezas sobre a economia. A política monetária mais restritiva, com uma alta na taxa básica de juros para 14,25% ao ano e mais uma elevação já prevista, prejudica o acesso ao crédito pelos produtores.
“Juros maiores corroem a rentabilidade dos agroempresários, prejudicando os investimentos futuros”, destaca Rockenmeyer. Além disso, há desafios relacionados ao câmbio e ao custo dos insumos, diz Pablo Alencar, especialista da Valor Capital.
“Apesar do dólar mais alto favorecer a exportação, ele encarece bastante os insumos que são importados, como os fertilizantes e defensivos agrícolas. Isto pressiona muito o custo do setor” destaca Alencar.
Se o dólar alto na segunda metade do ano passado prejudicou os produtores na compra de insumos e aumentou os custos de produção, agora, a desvalorização da moeda afeta os lucros. Segundo Bresciani, para entender melhor como vão ser os ganhos dos produtores nesta safra, é preciso observar como vai ser o plantio nos EUA.
Outro grande desafio para os produtores continua sendo a parte de logística e infraestrutura, além do acesso ao seguro rural, que se faz especialmente importante neste momento de aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos. “Mais da metade da nossa safra está vulnerável a essas intempéries”, comenta Alencar.
Atualmente, os recursos disponibilizados pelo Plano Safra para o seguro são de R$ 1,06 bilhão, abaixo dos R$ 4 bilhões pleiteados pelo setor.