Os resultados mais otimistas do PIB do Agronegócio do terceiro trimestre de 2024, com alta de 1,26% após dois recuos seguidos, alimentam expectativas para uma supersafra de grãos, que vem sendo citada pelo governo como fator de alívio para os preços dos alimentos. Porém, o clima pode fazer com que a safra recorde não aconteça.
“A safra de milho e de soja estão com algumas incertezas, porque nós estamos com situações climáticas um pouco diferentes”, comenta Carlos Eduardo Vian, do Fórum de Agronegócio e Agricultura Familiar do Corecon-SP. Enquanto no Sul há regiões com falta de chuvas, no Centro-Oeste há excesso de precipitações.
“Então, a gente tem uma expectativa de que talvez essa safra recorde não se concretize”, afirma o especialista.
O mercado de commodities preocupa-se especialmente com o milho, que além de passar pelas dificuldades climáticas também tem sofrido com grande incidência de pragas; além do trigo, com uma redução de área cultivada nesta safra, lembra o CEO da Hike Capital, Jonas Carvalho.
Para o café também é esperada uma queda na produção, de 4,4%, de acordo com estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em razão de uma restrição hídrica e altas temperaturas nas fases de floração.
Nesse cenário, Vian não enxerga perspectivas de quedas de preços ao consumidor neste ano “muito por conta dessas restrições de oferta e num ambiente em que, num primeiro momento, talvez a gente mantenha uma demanda um pouco mais aquecida”, explica.
“Talvez a gente tenha um ano de desafios, embora os indicadores de PIB possam ser bons, mas com esse lado negativo de aumentos de preços e talvez até de uma certa manutenção de inflação”, resume o especialista.
Nesse cenário, os especialistas não acreditam que medidas do governo possam ter efeito significativo, além de potencialmente prejudicarem o setor produtivo. Controles de preços e subsídios, por exemplo, podem afetar a rentabilidade dos produtos, além de refletir nos preços de ações e aumentar o valor dos alimentos fora da cesta subsidiada, comenta Carvalho.
Como essas medidas podem afetar o desempenho de empresas e até o emprego, é preciso ter cautela ao pensar em políticas para redução de preços, defende Vian.
“Não precisamos, necessariamente, de intervenções diretas. Já vivemos um momento no Brasil em que a intervenção do Estado foi bastante forte, mas os resultados não foram positivos. Atualmente, a retomada dessas medidas pode impactar negativamente as expectativas dos produtores e gerar discussões improdutivas”, comenta.
Resultados do PIB do Agro refletem quedas na safra
O PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio brasileiro avançou 1,26% no terceiro trimestre de 2024. Os dados, divulgados nesta quinta-feira (23), são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). No acumulado do ano houve uma queda de 2,49%.
Os resultados do acumulado do ano para os setores agrícola e pecuário foram bem diferentes, com perdas de 4,04% e 1,6%, respectivamente.
“A gente vê que esse resultado negativo ocorreu em função da queda nos preços de produtos agropecuários, bastante relevante, mas também pela questão da quebra da safra, a gente teve uma redução importante na produção, principalmente na agricultura”, explica a assessora técnica da CNA Isabel Mendes.
A pecuária conseguiu mitigar os resultados negativos, em parte, por ter alcançado uma produção expressiva no período, enquanto a desvalorização dos preços das commodities agravou a situação para o setor agrícola.