Já enfrentando custos elevados devido a Selic (taxa básica de juros) em patamar histórico de alta e a falta de opções de financiamento, o cenário de acesso ao crédito para o médio produtor rural no Brasil se vê com dificuldades após o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), segundo análise de especialistas da XP.
Durante o 2º Congresso Brasileiro de Direito do Mercado de Capitais, realizado nesta quinta-feira (29), o diretor jurídico da XP, Fabricio Almeida, e Renato Buranello, advogado especialista em mercado financeiro e agronegócio, fizeram o alerta sobre a situação dos produtores.
Ao passo que o grande produtor tem mais capacidade de planejamento e garantias e pode recorrer a debêntures, CRAs ou estrutura de operações com Fiagros, o pequeno produtor ainda consegue acessar linhas subsidiadas, segundo o diretor jurídico da XP.
Já o médio produtor, que representa uma fatia relevante da produção agropecuária nacional, se vê encurralado.
“Com a Selic a 14,75%, o custo já era proibitivo. Agora, com o IOF de 3,95% sobre operações por empréstimos de dois anos, o crédito ficou ainda mais caro”, afirmou Almeida. “E não se encontra investidor do dia para a noite. Para esse perfil de produtor, o mercado ainda é um caminho distante”, completou Buranello, segundo o InfoMoney.
Conforme a explicação dos analistas da XP, mesmo com o crescimento da indústria de Fiagros e CRAs, voltados ao agronegócio, acessar esses instrumentos ainda exige atributos que o médio produtor muitas vezes não tem, como a estruturação jurídica, capacidade de governança e escala.
“É um mercado que exige preparação e relacionamento. Sem assistência técnica e estrutura mínima, é difícil estruturar uma emissão ou mesmo entender como entrar nesse ecossistema”, destacou Buranello.
XP: alta do IOF é equivalente à elevação de até 0,5 ponto na Selic
Conforme estimativa da XP Investimentos, a recente elevação definida pelo governo no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é equivalente a uma alta de 0,25 a 0,5 ponto percentual da Selic (taxa básica de juros).
Dessa forma, três principais segmentos devem ser afetados pela medida: seguros (sobretudo na pensão privada VGBL), crédito corporativo e operações cambiais.
A avaliação da XP aponta que a mudança encarece o crédito e reduz a necessidade de o BC (Banco Central) seguir com o ciclo de altas da Selic para controlar a inflação. Com isso, a expectativa dos analistas é que a taxa de juros brasileira fique estável na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
“No entanto, o aumento do IOF não terá o mesmo impacto que o aumento da taxa básica de juros sobre as expectativas de inflação, o consumo intertemporal e a taxa de câmbio”, ressaltou o relatório da XP publicado no domingo (25).
“Ainda assim, parece seguro afirmar que um IOF mais alto pode substituir, no cenário base da nossa equipe macroeconômica, o aumento final de 25 pontos-base previsto para junho, encerrando o atual ciclo de alta”, pontuou a casa, segundo a CNN Brasil.