Moisés Schmidt

Aiba: presidente vê BA líder em produtividade na soja, mas quer mais

A Conab prevê que o estado deve alcançar 3.950 kg/ha, mas Schmidt acredita que os produtores podem superar os 4.020 kg/ha

Aiba: presidente vê BA líder em produtividade na soja, mas quer mais

Com expectativa alta para a produtividade de soja na Bahia, o presidente da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), Moisés Schmidt, projeta superar a marca de 67 sacas por hectare, o equivalente a 4.020 kg/ha.

“A Bahia, sendo um estado estratégico para o cultivo de soja, se beneficia não só de fatores agronômicos, mas também das condições climáticas e do cenário de mercado”, comenta o dirigente.

A Bahia deve ter a maior produtividade do País para a soja na safra 2024/25, com 3.950 quilos por hectare, enquanto a média brasileira deve ser de 3.499 kg/ha, como apontam projeções da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

A Conab projeta uma produção brasileira recorde para a oleaginosa, de 166 milhões de toneladas. No mercado, há expectativas de resultados ainda mais elevados, com a Hedgepoint Global Markets projetando 171,5 milhões de toneladas e a StoneX prevendo 171 milhões.

Para a Bahia, que deve ter a sexta maior produção do país (e a maior do Norte/Nordeste), a expectativa da Conab é de 8,43 milhões de toneladas.

Schmidt avalia que a soja é uma das culturas mais promissoras no estado, diante da demanda global constante, usos diversos e possibilidade de rotação de culturas. Mas não é a única que se destaca.

A Bahia também espera colher boas safras de milho, algodão e cacau, que devem garantir rentabilidade ao produtor.

Confira a entrevista com o presidente da Aiba na íntegra

Pode contar um pouco sobre a sua trajetória até chegar à presidência da Aiba?

Sou produtor rural e faço parte da segunda geração de agricultores na Bahia, estado que nos deu muitas oportunidades de vencer e construir. Sempre enxerguei a Aiba como um verdadeiro guarda-chuva para os produtores, uma entidade conceituada e representativa, sempre presente em todas as demandas do setor.

Minha trajetória dentro da associação começou há 16 anos, durante a gestão do então presidente Walter Horita. Naquela época, recebi o convite para atuar como delegado regional de Placas e aceitei com entusiasmo. Desde então, acompanhei quatro gestões diferentes, passando por diversos cargos dentro da Aiba.

Com o tempo, fui assumindo novas responsabilidades, até que, na última diretoria, ocupei a vice-presidência. Agora, a partir de 1º de janeiro de 2025, tenho a honra de assumir a presidência da associação, dando continuidade a esse trabalho tão importante.

A Aiba tem uma tradição de preparar seus sucessores e comigo não foi diferente. Ao longo desses 16 anos, fui construindo minha caminhada dentro da entidade, sempre buscando contribuir para o fortalecimento do agronegócio baiano. Nosso mandato será de dois anos, com a possibilidade de renovação por mais dois, e nosso objetivo é dar continuidade ao legado deixado pelos presidentes que nos antecederam.

Ao mesmo tempo, vivemos um momento de transição para uma nova era no setor. Como representante da segunda geração de produtores, trago comigo o compromisso de impulsionar uma agricultura cada vez mais tecnológica, sustentável e conectada às demandas globais. Hoje, falamos de uma agricultura baseada em energias renováveis, regenerativa e alinhada às exigências do mercado internacional.

O Brasil, como potência agropecuária, tem conquistado recordes sucessivos em produção e exportação de commodities como soja, algodão, café, cana-de-açúcar e pecuária. A Aiba tem um papel fundamental nesse cenário, atuando como um pilar de suporte para todo esse setor produtivo. Seguimos, então, firmes nesse propósito de fortalecer o agronegócio baiano e brasileiro.

Em que frentes a Aiba vem atuando mais fortemente nos últimos anos?

A Aiba tem sido essencial na defesa das demandas dos produtores que, ano após ano, alimentam o Brasil e o mundo. Hoje, nossa região cultiva mais de dois milhões de hectares, produzindo anualmente mais de 10 milhões de toneladas de grãos e pluma, além de frutas e pecuária. Esse resultado é reflexo do compromisso dos associados em adotar práticas tecnológicas avançadas e sustentáveis e essencial para que nossos produtos sejam reconhecidos pela qualidade nos mercados a que se destinam e para garantir a resiliência e a competitividade do setor.

A Aiba, em parceria com a Abapa e o Governo do Estado, investe em programas que beneficiam tanto os produtores quanto a população, como o Projeto Nascentes do Oeste, criado em 2016 pelos produtores rurais vinculados à Aiba com apoio do Prodeagro (Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária).

Com o projeto, a Abapa já recuperou mais de 130 nascentes em municípios da região, com o impacto direto na vida de milhares de pessoas. Além disso, o Programa de Recuperação de Estradas, sempre em parceria com as instituições citadas, já recuperou rodovias, pontes e estradas em todo o Oeste, garantindo a trafegabilidade, o escoamento das safras e maior segurança e conforto para as pessoas.

Outro Programa de destaque é o Fitossanitário, que desde a safra 2016/17, tem sido executado com um acompanhamento técnico criterioso, orientações sobre manejo integrado e fiscalizações periódicas. Essas medidas asseguram a produtividade da soja, e também a sustentabilidade das culturas subsequentes.

Quais são os principais objetivos da nova gestão da Aiba?

Nossa prioridade será o diálogo constante com o poder público, buscando políticas que garantam a competitividade do setor e o desenvolvimento sustentável. Infraestrutura e logística são desafios urgentes que demandam atenção, pois precisam acompanhar o ritmo do crescimento produtivo para manter a Bahia integrada aos mercados nacional e internacional. A gestão que conduziremos no biênio 2025/2026 está comprometida com a transparência, a inovação e a construção de soluções que reforcem a sustentabilidade das operações agrícolas. Pretendemos fortalecer parcerias estratégicas, fundamentais para ampliar investimentos e promover a capacitação técnica de nossos produtores. Além disso, queremos intensificar a representatividade do setor, assegurando que as vozes dos agricultores baianos sejam ouvidas e respeitadas.

Para você, o que ainda é preciso desenvolver na agricultura baiana?

Para aumentar a competitividade da agricultura baiana, tanto no cenário nacional quanto internacional, várias áreas podem ser desenvolvidas:

  • Tecnologia e Inovação: investir em tecnologia agrícola, como sistemas de irrigação eficientes, drones para monitoramento de lavouras e automação de maquinário;
  • Pesquisa e Desenvolvimento: fortalecer parcerias com instituições de pesquisa para desenvolver cultivares mais resistentes a pragas e condições climáticas adversas, além de melhorias na qualidade dos produtos;
  • Infraestrutura: melhorar a infraestrutura de transporte e logística, como estradas, ferrovias e portos, para facilitar o escoamento da produção agrícola;
  • Sustentabilidade: adotar técnicas de produção sustentável para preservar o meio ambiente e atender às exigências de mercado, especialmente no comércio internacional;
  • Acesso ao crédito: melhorar o acesso ao crédito para agricultores, facilitando investimentos em tecnologia e infraestrutura;
  • Mercados internacionais: desenvolver estratégias de marketing e certificações para os produtos baianos, aumentando sua atratividade nos mercados internacionais.

E quais são os principais desafios para esse desenvolvimento?

  • Condições climáticas: a Bahia enfrenta desafios relacionados à variação climática, como secas prolongadas em algumas regiões, que afetam a produtividade agrícola;
  • Infraestrutura deficiente: estradas, armazenamento e sistemas de transporte inadequados podem dificultar o escoamento da produção e aumentar custos;
  • Burocracia e legislação: procedimentos burocráticos complexos e uma legislação trabalhosa podem desestimular investimentos e inovações no setor;
  • Mercado competitivo: a competição acirrada nos mercados nacional e internacional requer que os produtos baianos se diferenciem em qualidade e custo.

Quais são as culturas mais promissoras para esta safra?

Para a avaliação da safra atual na Bahia, algumas das culturas mais promissoras incluem a soja, que continua sendo uma das culturas mais viáveis devido à demanda global constante, usos diversos e à possibilidade de rotação de culturas, melhorando a saúde do solo; e o milho, com múltiplas aplicações na alimentação e como matéria-prima para biocombustíveis, mercado garantido e ciclo relativamente rápido.

Além disso, destaca-se o algodão, pela sua importância na indústria têxtil. O algodão representa uma cultura com boa demanda e a Bahia tem condições propícias para seu cultivo. Ainda, temos o cacau. A Bahia é tradicionalmente uma grande produtora de cacau e, com a crescente demanda por chocolates finos e produtos sustentáveis, há oportunidades de crescimento no oeste baiano.

E quais são aquelas que passam por mais dificuldades?

O feijão, embora tradicional na dieta brasileira, enfrenta concorrência e variações de mercado que impactam sua rentabilidade, além de problemas relacionados a práticas de cultivo e clima.

Também o milho, que passa por problemas relacionados à cigarrinha do milho, aumento nos custos de produção e queda na produtividade.

Há grandes expectativas para a safra 2024/25 de soja. O desempenho excepcional se repete na Bahia?

Temos uma expectativa de produtividade superior à média nacional. A região busca superar as 67 sacas por hectare, o que mostra um potencial significativo.

Como destaque, a expansão da área plantada e a atração do mercado têm impulsionado esse crescimento. A Bahia, sendo um estado estratégico para o cultivo de soja, se beneficia não só de fatores agronômicos, mas também das condições climáticas e o cenário de mercado é crucial, já que fatores como chuvas adequadas e preços favoráveis podem impactar diretamente o sucesso da safra.