Fundada no começo de 2014, o Ártica Asset Management utiliza da experiência como sua aliada para trazer lucros. Com um retorno médio de 37% ao ano desde a criação do fundo, Ivan Barboza, sócio da gestora explicou ao BP Money na última semana o norte da casa: “não é truque, é disciplina”.
O Ártica administra um único fundo de ações com base em uma filosofia fundamentalista e focado em gerar altos retornos na média atrelados aos baixos riscos de prejuízo. “Isso parece um pouco ‘clichê’, eu sei (risos). Deve ter uns 80% do mercado que falam que são ‘value investors’ (investidores de valor, no termo em inglês), mas é aquilo, falar é fácil. O díficil é ter a disciplina”, afirma Ivan.
O fundo, inclusive, foi criado antes mesmo do próprio Ártica. A intenção de Ivan com os outros sócios era de administrar o capital próprio deles, sem ser algo enorme. “Lá atrás, a gente nem tinha o plano de montar uma gestora imediatamente. Montamos esse veículo para fazer a gestão do nosso próprio capital. A gente trabalhava com M&A (fusão e aquisição) e o escritório ainda tem uma frente grande disso hoje. Fomos ganhando dinheiro com M&A e colocando nesse fundo”, explica o sócio do fundo, que até 2018, era um clube de investimentos.
Em 2019, tomaram a decisão de construir de fato uma gestora, com as licenças da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e transformaram o clube de investimentos em um FIA (fundo de ações) no mês de setembro daquele ano.
Desde então, o Ártica Long Term FIA tem performado muito acima da média do mercado. Segundo dados do portal Mais Retorno, tendo como data base o dia 27 de setembro de 2019 (quando foi lançado ao mercado), o fundo tem um desempenho total de 73,59% de alta, enquanto o Ibovespa teve 9,77%.
A maneira como eles fizeram a gestão desse patrimônio e outras respostas vocês confere na nossa entrevista exclusiva com Ivan Barboza:
Em 2017, vocês tiveram uma alta de 151.7% no fundo e, em 2018, 98,8% de valorização. O que aconteceu de diferente nesses anos?
Basicamente a gente não mudou o portfólio, até porque nessa época a gente não tinha um time dedicado fazendo a gestão, então a gente rodava um número menor de análises e o nosso portfólio era mais concentrado ainda. Em 2017/18 as ações que a gente tava segurando desde 2015 e 16, corrigiram de preço.
Não teve nenhuma estratégia nova. Foi simplesmente o que a gente estava carregando desde lá de trás e começou a subir. A Unipar é um dos exemplos, que andou de lado e andou de lado. Daí um dia o mercado notou e o negócio deslanchou.
Queria agora discutir um pouco sobre o portfólio de vocês, como ele está posicionado hoje?
A gente não tem o costume de investir em várias empresas do mesmo setor, temos uma cabeça, de se eu acho que o setor é interessante, a gente olha todas as empresas que têm disponíveis, escolhe qual que achamos que é a melhor e investe só nela.
Não busco diversificação entre as empresas do mesmo setor. Então a gente costuma ter uma empresa só de cada um dos setores e buscamos montar um portfólio de uma maneira que os negócios não tenham fatores de risco correlacionados, né? Então não vou investir só em negócio que, se o dólar cair, estaríamos todos em maus lençóis juntos.
Mas o nosso processo aqui é muito mais bottom up do que top down. Não fazemos uma análise de qual setor vai se sair bem e depois procurar uma empresa lá dentro. Geralmente, a gente tá olhando coisas que achamos que pode ter um valor que acho interessante ou que tem modelos de negócio interessantes e, se a gente gosta da empresa, tá no preço certo a gente entra.
Qual a principal empresa na bolsa na análise de vocês hoje?
Porto Seguro é um caso interessante. A empresa tem um super histórico de geração de valor para o acionista, mas é uma empresa que a gente sempre olhou, né? Acho que a primeira vez que nós olhamos foi em 2011 até antes de montar o clube e sempre achei cara.
Recentemente caiu bastante o preço, eles tiveram uma compressão de rentabilidade por dois fatores. O primeiro é que eles abaixaram o preço das apólices durante a pandemia porque os carros não estavam circulando. Estávamos tendo menos acidentes e agora que voltou o fluxo de acidentes convencional e eles estavam com uma safra de apólices emitidos a preços baixos. Então a hora que voltou o fluxo, ele tava com preço baixo ainda e ele ficou com rentabilidade reduzida. O segundo fator, foi que a peça de carro e os próprios carros aumentaram muito de preço.
Então, eles tomaram uma segunda apertada em rentabilidade, e nós entramos nesse momento em que a empresa estava com essa rentabilidade abalada.
Sofreu bastante no preço na bolsa, só que esses problemas são completamente temporários, né? A Porto já ajustou o preço das novas apólices. Então é só esperar o tempo passar que ela vai recuperar bastante rentabilidade e a gente se posicionou para pegar essa volta. Eu acho até que não é esse não é nenhum grande Insight.
Como o tempo para isso acontecer é um pouquinho mais longo. Acho que muita gente achou que era longe demais e não entrou.
E a segunda no radar, qual seria?
Nós gostamos de Multilaser. Ela é uma distribuidora de um monte de produtos. Hoje, ela tem quase 7.000 produtos em portfólio, basicamente o que ela faz é: desenvolve um fornecedor na China, promologa um produto lá e traz para o Brasil.
Algumas coisas que eles terminam de montar aqui para capturar benefício fiscal e distribuem. Hoje eles tem uma gama de canais bem pulverizada. Historicamente eles vendiam mais para pequenos varejos, mas já entraram em grandes varejos, corporações, governo e uma série de canais.
Essa é uma tese mais de eficiência operacional é igual aquela história clássica do Walmart: o que a Multilaser faz bem é trazer produto. Quando você coloca um produto similar, o dela é mais barato em 10 a 15%. E eles tem muito estigma de trazer produto barato chinês, que o pessoal associa muito Multilaser com mouse e teclado de qualidade mediana.
Mas eles têm dezenas de marcas próprias e representação de marcas de terceiros. Então fala eles vendem o Mouse Multilaser e vendem o mouse da Microsoft também que é um mouse bom todo mundo gosta. É uma empresa que tem uma disciplina muito grande de tipo.
Tá prestando atenção em retorno sobre capital investido. A métrica interna deles que dita o bônus de todo mundo é uma espécie de return on equity. Eles deram uma simplificada lá para facilitar a comunicação, mas o gerente comercial que tem que vender coisas que estão em estoque tem um bônus atrelado ao retorno sobre capital investido no estoque dele.
Eu acho genial o que pessoal montou lá, que é um sistema simples, que toda a empresa absorveu a cultura deles e que mira exatamente onde é que a gente tem preocupação aqui como investidor: rentabilizar o capital investido.
A empresa tem um histórico de crescimento excelente, o retorno sobre o capital dela histórico é longo. Se você pegar 10 anos para trás, o preço era bastante alto na época do IPO, mas caiu demais a ação. Hoje ainda tá barata, se você faz o valuation da empresa, ele está um pouco acima do valor do estoque dele e é um negócio assim bastante respeitável.
Retorno alto, crescimento alto, extremamente bem gerenciada e é um bom negócio com uma oportunidade de preço bastante descontada.
A tese de vocês coloca 79% em longo prazo em poucas empresas. Qual a lógica para isso?
A longo prazo a gente considera as empresas que nós gostamos dos negócios, que a gente não teria problema em carregar ela por muito tempo se o negócio continuar indo bem (as top 5 do Ártica: Porto Seguro, Multilaser, Blau Farmacêutica, Eztec e Marcopolo). O que a gente coloca como médio prazo, são empresas que o negócio é um pouco mais questionável e que eu não vou ficar 10, 20 anos com esse negócio na mão. Eu comprei só porque tá muito mais barato do que deveria estar, mas assim que o preço corrigir a gente sai fora.
Agora, vocês tem apenas um fundo em 9 anos de existência. Planejam criar outro?
Planejamos. A gente está desenvolvendo negócio de gestão, começamos mais esse ano, a gente nunca tinha feito um esforço comercial, por exemplo. Então o que nós estamos planejando é crescer um pouco mais esse fundo, ele tem um Capex limitado, eu acho que ele vai bem até alguma coisa na casa do R$ 700, 800 milhões é para cima de R$ 1 bilhão eu acho que a gente não consegue manter a meta de retorno que a gente tem hoje de IPCA + 10.
A gente fala para os nossos investidores que provavelmente será à IPCA + 10. Se tudo der certo aqui, se a gente não tiver nenhum revés, deve dar IPCA + 15 ou IPCA + 20. Muita tese a gente rejeita por colocar uma exigência de preço bastante rigorosa. Aí a empresa é boa, só que nunca bate no nosso preço de compra.
Isso para o tanto de capital que a gente tem hoje, eu acho que é uma estratégia muito acertada, mas tem esse efeito aí de não tem capex infinito. Então, a hora que a gente tiver nos R$ 400, 500 milhões nesse fundo, a gente planeja lançar um outro fundo de equities com uma meta de retorno um pouco menor que lida com portfólio mais líquido, já que o nosso fundo hoje ele é D+90. Então esse segundo seria D+30, mais em linha com o que o mercado faz.
Tem demanda para esse tipo de fundo. Tem muito investidor institucional e tal que prefere ter mais liquidez, mais diversificação e um retorno um pouco menor do que a estratégia que a gente tem hoje, né? Que ela tende a ser um pouco mais volátil.
Apesar de que a nossa volatilidade é um pouquinho mais baixa do que do próprio Ibovespa, mas tem muita gente que olha o nosso portfólio que é mais concentrado e prefere abrir mão de rentabilidade e ter um mais pulverização, mais liquidez.
Algum fundo de crédito privado?
Em algum momento também devemos montar um fundo de crédito privado. Nós temos uma boa oportunidade de investir nesse tipo de negócio. Já fizemos alguns desses na pessoa física, a gente estruturou um negócio e investimos direto. Dá dinheiro e é legal. Às vezes dá tanto dinheiro quanto em equity é em algum momento quando tiver fluxo suficiente para colocar esse fundo de pé a gente deve colocar.
Tem previsão de data para isso acontecer?
Eu diria 2024 para os dois. O nosso fundo hoje ele tá com R$ 214 milhões, né? Ano que vem, ele vai estar em uma coisa entre R$ 300, 400 milhões no final do ano. Daí a gente já vai começar a pensar nos próximos, a não ser que apareça uma espécie de crédito. Se surgir um monte de oportunidade de investimento interessante que permita a gente estruturar antes, a gente pode acelerar isso, mas o plano base é fazer daqui 18 meses, alguma coisa assim.
Ártica Asset
Sede: São Paulo
Liderança: Ivan Barboza, Raphael Catilho e Matheus Rech.
Foco: Fundo de ações com base fundamentalista.
Capital sob gestão: R$ 214 milhões
Estrutura: 37 funcionários.