Formado em Economia com high honors pelo IBMEC/RJ, Bernardo Lobão iniciou sua carreira há mais de 20 anos no mercado financeiro. Em entrevista à BP Money, o economista falou sobre sua trajetória e destrinchou suas passagens pela ARX Capital, onde começou, pela Studio Investimentos, que ajudou a criar, até chegar a Athena Capital, onde atua de forma bastante ativa na gestão desde 2020.
Na ARX foi analista sênior, responsável pelos setores de mineração e siderurgia, papel e celulose, industrial, petróleo e gás, entre outros. Ao fundar a Studio, foi sócio, co-gestor dos fundos e responsável pela cobertura de diversos setores: siderurgia e mineração, papel e celulose, construção civil, industrial, saúde e educação. Na Athena, Lobão destaca que tomou a decisão de se associar à gestora por acreditar no modelo.
“É um modelo que eu acredito, que é ter uma única família de fundos, além da gente estudar profundamente as companhias para colocar as melhores opções de investimento nessa carteira. É um modelo de muita discussão, todos participam e são sempre encorajados a opinar e levantar pontos. A gente estimula esse constante debate”, disse Lobão.
ATHENA CAPITAL
A Athena Capital é uma gestora de recursos situada no Rio de Janeiro e fundada em 2013. Nasceu do desejo de seus sócios, profissionais com destacadas passagens por algumas das principais casas de gestão de recursos do país, de constituir uma casa independente, tendo, assim, a possibilidade de implementar as melhores práticas de governança corporativa. Baseada em uma filosofia fundamentalista, que visa a encontrar valor em Companhias listadas, a Athena Capital busca, respeitando métricas de risco, identificar ótimas oportunidades de investimento, a fim de permitir geração contínua de riqueza para nossos investidores.
Atuam apenas na gestão de fundos de investimento, sem desempenhar qualquer outra atividade.
Confira a entrevista na íntegra:
Lobão, gostaria de começar falando sobre você. Quando surgiu seu interesse pelo mercado financeiro e quando decidiu que seguiria nessa área?
Comecei no mercado financeiro em 2001. Na época existiam poucas gestoras independentes. Eu entrei em uma que estava sendo criada e, ao longo da década, se transformou numa das maiores gestoras do país, que foi a ARX Capital. Acabei decidindo por economia, já com viés no mercado financeiro, muito por conta do meu tio.
Falando mais sobre sua trajetória, queria que você contasse um pouco por onde passou e como foi para chegar até a Athena?
Falo que foi um pouco de sorte por ter sido alocado logo para a parte de análise de empresas. Me adaptei bem demais na empresa, quando a mesma cresceu muito nesse período, chegando a administrar cerca de R$ 15 bilhões. Eu fui ganhando senioridade, cobrindo alguns setores como commodities, setor industrial, logística, real estate e fui ganhando importância, tendo mais voz ativa na gestão. A ARX acabou sendo vendida em 2008 e já nesse novo modelo, eu cheguei a tocar um fundo, que era exclusivo, e fazia a gestão desse produto junto com a Beatriz. Fiquei mais um ano e meio na ARX e, junto com alguns analistas de lá, saímos para montar uma gestora que foi a Studio Investimentos. Esse projeto foi um pouco que a minha folha em branco. O que eu vi na ARX que funcionou e evitando ter as coisas que achava errado. Formamos um grupo bacana, modelo bastante focado em um único produto que era de análise em gestão de ações a longo prazo. A gente se propôs a fazer um produto mais focado e uma asset mais de nicho com um único produto. Fiquei dez anos na Studio, lá tinha um papel muito mais próximo da gestão, com uma voz ativa. Existia um comitê de gestão com três membros e tinha uma voz muito ativa. Conheço o gestor da Athena há mais de 15 anos, e conversávamos bastante sobre investimento, praticamente mensalmente. Sempre tivemos uma forma parecida de tocar investimento. Após algumas passagens ele fundou a Athena em 2013 e a gestora tinha um modelo muito parecido com o que montei na Studio. Meu processo de sair da Studio se deu, pois eu precisava mudar de ambiente. Gosto muito do pessoal de lá, mas houve um desgaste natural. A sociedade é um pouco igual a casamento, o relacionamento passa a não ser ótimo mais e você precisa mudar o ambiente. Assim que eu saí tive um período de quarentena, mas continuei me mantendo atualizado e estudando por um ano. Então resolvi seguir o caminho de botar dinheiro na Athena e já entrei como sócio. Continuo comprando ações na Athena, pois já estou me tornando sócio relevante. Estou há pouco mais de dois anos e ainda tenho mais opções de compra pela frente.
Falando sobre a Athena, a gestora foi fundada em 2013 e atua na gestão de fundos de investimento. Queria que você falasse sobre o projeto e a área de atuação de vocês.
É um modelo que eu acredito, que é ter uma única família de fundos, além da gente estudar profundamente as companhias para colocar as melhores opções de investimento nessa carteira. É um modelo de muita discussão, todos participam e são sempre encorajados a opinar e levantar pontos. A gente estimula esse constante debate. É um ambiente que, cada vez mais, a gente tem procurado ter dupla cobertura, sempre para motivar a discussão, pois é assim que evolui. É natural que todos tenham vieses, então a forma de minimizar isso é expor as opiniões do comitê para que haja um debate. Algo em que acreditamos é de que toda posição precisa ter um “pai”. Apesar de ser um clima legal, é importante ter um nível de cobrança, por isso a necessidade de ter paternidade em todas as posições do fundo.
Recentemente vocês divulgaram a carta semestral com foco na preocupação com o mercado imobiliário. A Athena questiona se uma Crise Imobiliária pode acontecer nos mesmos moldes da de 15-17. Há de fato esse risco? Ele está próximo?
O mercado imobiliário é um bem muito relevante, com um preço muito alto. No geral é a principal compra de um indivíduo, então a questão de ambiente econômico e taxa de juros influencia bastante na tomada de decisão de se comprar um imóvel. A taxa de juros influencia bastante do quanto você vai pagar pelo imóvel, e com o aumento da Selic você sai de três para quase 11%. Como o financiamento imobiliário é um prazo muito longo, o banco, ao invés de olhar a Selic diretamente, olha a curva longa de juros do país. Essa curva de 8% foi para quase 12%. O financiamento imobiliário tem subido sim. Cada p.p que se aumenta a taxa de financiamento imobiliário, aumenta a prestação em 7%. Então, esses 300 bps de custo está aumentando a prestação em 20%, o que tira de mais famílias a oportunidade de comprar imóveis. O que a gente tentou mostrar na carta, e nós não somos cegos a isso, é que o investidor sabe disso. O receio é tamanho que ele logo compara com a crise de 2015-2017. Naquela época o setor estava saindo de um “boom” de crescimento muito forte. No período do primeiro Governo Lula houveram muitas medidas que foram importantíssimas para destravar o mercado imobiliário brasileiro, como a que tornou exequível alienação fiduciária que já existia para bens e imóveis, mas que não eram muito boas. A gente mostra na carta quanto aumentou o preço de imóvel nesse período, então em 2014 vinha nessa dinâmica, com preço nas alturas, companhias capitalizando demais, o que fizeram obras estourarem, pois muitas tentaram crescer em todo o país, mas estourava custo e atrasava obra demais. A rentabilidade das companhias nesse período foi muito ruim. O que a gente achou é que o mercado, por conta de uma memória recente dessa crise, fica mais receoso. Mas a gente acha que os aspectos atuais são muito diferentes dos daquela época. Naquele período foi uma safra muito ruim. Porém, agora, avaliamos que não é o caso, primeiro que o preço do imóvel subiu menos, segundo porque a alavancagem das companhias é muito melhor, terceiro porque se tem uma política de distrato muito mais disciplinada e quarto que se teve muita antecipação de parcela dos compradores. Se você tem um imóvel na planta e um saldo devedor grande, o que se faz nesse momento é que qualquer poupança que se tenha seja colocada para antecipar parcela futura de imóvel. Esse cliente tem muito mais a perder se desistir. Toda a engrenagem que no ciclo passado teve um círculo vicioso, o gatilho foi esse distrato que decepcionou o ciclo de caixa das companhias. O cenário hoje é muito diferente. As empresas caíram bastante. Se a gente olha na Bolsa, a gente vê que as corporadoras caíram demais. A comparação com a crise de 2015-2017 é injusta no nosso ponto de vista.
Estamos em ano eleitoral e 2022 promete ser de bastante volatilidade. Qual a perspectiva da Athena para esse cenário macro?
A gente discute internamente o cenário macro. Não é aí que a gente se diferencia, mas temos o dever fiduciário de ter uma opinião. A gente busca focar a maior parte do nosso tempo na análise micro das companhias para entender o diferencial delas e tenta trabalhar com portfólio balanceado e que vai atravessar bem independente do cenário macroeconômico que a gente tenha. Atualmente estamos até mais focados em baixa renda, pois achamos ser mais resiliente ao cenário macro. Aqui a gente tem empresas de outro perfil, como as que se beneficiam com o câmbio. A gente busca se proteger tendo um portfólio que vai bem, independente do cenário. Dito isso, é um ano de mais incerteza mesmo, muito pela eleição presidencial. Cada vez mais o cenário que o mercado está trabalhando é o de Lula eleito. Pode acontecer, mas a gente acha que é uma probabilidade muito pequena de existir uma terceira via. Seria até um risco muito positivo. A discussão maior é, num eventual Governo Lula, como seria. Um pouco da minha opinião, não vou nem falar pela Casa, é de que será um governo mais pragmático. A gente acha que eventualmente terá um pouco mais de gastos públicos sim, sendo financiado por impostos. Então, do ponto de vista fiscal, é uma composição subótima. O ideal é segurar esses gastos. A gente acha que terá algum controle fiscal sim, mas esses gastos públicos serão financiados com mais imposto. O Brasil vai passar um pouco mais do mesmo. Acho que o mercado, em algumas precificações, exagerou um pouco. O pessoal costuma confundir bastante o que é incerteza com um risco de perda permanente de capital. Esse ano temos muita incerteza, mas dado os preços dos ativos, é um risco muito baixo de perda permanente de capital. Em momentos de euforia é mais fácil ter um risco relevante de perder dinheiro, do que no ambiente atual de incertezas.
Ainda falando sobre projeções, o que vocês esperam para a Athena em 2022?
Mais do mesmo no sentido de continuar fazendo as mesmas coisas internamente, mas sempre tentando melhorar os processos, aprimorar as equipes. Quanto mais azeitado for o processo, eventualmente iremos colher os frutos lá na frente. A gente espera sim que olhe para trás, lá em dezembro, e veja que a equipe evoluiu. Que as discussões fluam melhor no ponto de vista de ir na essência dos cases e com muita profundidade para conseguir se diferenciar por isso. O mais importante do negócio não é render ou não, mas o porquê aconteceu. O fator sorte sempre existe, que é muito difícil discriminar nas análises mais frias, mas a gente quer uma equipe ainda mais pronta e o processo mais azeitado do que está hoje. E só solidificar o que já temos de bom. É manter e solidificar.
Caso queira acompanhar a entrevista em vídeo, clique aqui e assista ao bate-papo no YouTube da BP Money.