A BRZ Infra Portos (BRZP11) é um FIP-IE (basicamente, um fundo de investimento em participações com foco em infraestrutura) que investe em ações de um único ativo. Tem como objetivo potencializar o fluxo de dividendos e a valorização das cotas por meio de investimentos em ativos diferenciados da indústria portuária. Gestor da BRZ Investimentos, José Rosa Neto falou sobre as perspectivas do fundo e o processo de expansão.
“A expansão está acontecendo […]. Nesse momento, é basicamente a construção de pátios para a armazenagem de contêineres, que é o nosso gargalo. A gente já comprou equipamento de todos os portes para avançarmos nessa expansão. O porto está operando atualmente, não na sua capacidade total, mas está crescendo”, disse o gestor da BRZ Infra Portos em entrevista ao BP Money.
Assim como Ricardo Propheta, também gestor da BRZ, Neto apontou que investir em portos no Brasil é mais vantajoso do que em países desenvolvidos, como nos EUA e na Europa. “A infraestrutura brasileira tem características que se pode beneficiar a operação portuária, pois ela traz ganhos tão grandes pela dimensão do país, como por exemplo em trazer carga para cá”, afirmou.
Em maio, o fundo anunciou aos acionistas que obteve R$ 12 milhões em dividendos extras. A empresa irá fazer amortizações mensais por 12 meses, totalizando um montante de mais de R$ 20 milhões e dividido em 12 parcelas de R$ 1,7 milhão. Questionado se vão ocorrer novos pagamentos, o gestor prefere manter os pés no chão, mas pondera que a expectativa “é positiva para o próximo período”, almejando anúncios de novas distribuições mais à frente.
Além disso, o gestor também falou sobre a alta de juros, projetou o volume de cabotagem para os próximos anos e se mostrou bastante preparado para continuar superando o período pandêmico e outros obstáculos. Confira abaixo a entrevista completa:
Qual a atual situação do Fundo, o que tem de novo e suas perspectivas?
Falando sobre empresa, ela continua desenvolvendo planos de negócios conforme o esperado. A expansão está acontecendo, a capitalização da companhia aconteceu no início desse ano, contratamos a construtora e ela já está desempenhando as etapas de expansão. Nesse momento, é basicamente a construção de pátios para a armazenagem de contêineres, que é o nosso gargalo. A gente já comprou equipamento de todos os portes para avançarmos nessa expansão. O porto está operando atualmente, não na sua capacidade total, mas está crescendo. O que não posso deixar é que o porto chegue sua capacidade para, só depois, pensar em crescimento. Estamos crescendo o porto para a ocupação que a gente espera que ele tenha no ano que vem e assim por diante. Ainda temos a perspectiva positiva sobre o crescimento de mercado como um todo.
Linkando com o momento de mercado, a operação portuária de contêineres tem algumas atividades mais rentáveis e outras menos. Nossa operação mais rentável, que é a de importação, está ligada diretamente ao câmbio. Então é natural quando a gente tem, por exemplo, o câmbio do ano passado que estava mais alto que o desse ano, influencie positivamente a receita. Continuamos com o câmbio muito elevado, mas é menor. Isso traz para a receita pontual algum impacto, mas uma parte dele significativa é coberto pelo ganho de volume que mencionei antes. Nossa expectativa de crescimento da companhia continua o esperado, pois ela cresce independente de cenários pontuais de variação de câmbio que é sempre muito volátil.
Recentemente, o Ricardo Propheta afirmou que investir em portos no Brasil é melhor do que em países desenvolvidos como os EUA e os da Europa. Qual a diferença e por que é mais vantajoso investir em nosso país?
Trazendo de uma perspectiva de crescimento de indústria e organização da infraestrutura. Em que momento a gente está? Quando se analisa indústrias mais modernas ou países mais desenvolvidos, é natural que a infraestrutura deles esteja mais evoluída. São mais opções de escoamento, estruturas maiores e mais conectadas… O setor desses países é mais avançado. Eles têm uma rede de infraestrutura maior do que a nossa rede. Quando você está nesse tipo de posição em que eu sou hoje, um país que desenvolve essas estruturas, e que tenho, por exemplo, o Porto Itapoá, sendo super moderno se comparado a outros países inclusive, e com ele crescendo, tem um mercado ainda bem mais a desenvolver do que lá fora. Com isso, naturalmente consigo quebrar gargalos de uma forma mais forte, consigo entregar serviços mais diferenciados. A infraestrutura brasileira, nesse aspecto específico, tem características que se pode beneficiar a operação portuária, pois ela traz ganhos tão grandes pela dimensão do país, como por exemplo em trazer carga para cá. Consigo depois fazer cabotagem, porque a dimensão do país permite isso.
Em um relatório feito pela XP, eles avaliam o BRZ Infra Portos como uma atraente oportunidade de investimento em infraestrutura no Brasil, destacando o posicionamento estratégico no ciclo de investimento como um dos principais fatores. De acordo com eles, o Porto de Itapoá está bem posicionado para capturar a demanda futura na região sul do país, que deverá ter sua capacidade portuária se expandindo em 50% até 2024. Na sua visão, como está o ativo para esse cenário e como você avalia essa projeção?
Estamos preparando o ativo para esse cenário. Essa expansão que mencionei no início é uma visão médio a longo prazo. Eu não sou um terminal portuário que reajo ao mercado de uma forma atrasada. Como sou um porto diferenciado, que cresço historicamente, sou eficiente, eu tenho que me antecipar e crescer antes do mercado para que eu possa capturar esse crescimento. A gente vai aumentar de forma significativa, pois iremos nos aproximar dos 2 milhões de TEUs. Esse crescimento de capacidade irá permitir que eu capture cargas de outros terminais ou que eu capture carga que cresce na indústria. Então eu concordo com a posição deles que o porto tem diferencial para isso. Crescer é meu controle e eu faço. A questão de capturar carga é a minha capacidade comercial de mostrar eficiência e eu mostro. A gente consegue combinar as duas coisas.
Como dito acima, a indústria portuária no Brasil mostrou um perfil de crescimento estável e resiliente na última década. Quais as principais características do Porto de Itapoá frente aos concorrentes?
A gente tem terminais muito bons competindo com a gente, que no nosso entendimento eles têm algumas desvantagens em relação a gente, mas eu prefiro sempre chamar a atenção das nossas vantagens. A posição geográfica perto de consumidores e produtores, as ligações rodoviárias que a gente tem e a possibilidade de expansão trazem uma vantagem muito grande para a nossa operação. Hoje e amanhã.
O custo logístico das empresas aumentou muito. O impacto é positivo ou negativo e como afeta? Estamos vivendo um momento de alta de juros. O Porto segue aquecido ou já está sentindo a desaceleração?
Analisando volumes movimentados, a gente segue aquecido. Porém, outros índices que devem ser olhados são os locais de produção industrial, que pontualmente sofreu um pouco nesse aspecto no primeiro semestre. Mas quando a gente olha para a operação Itapoá, tivemos crescimento nesse volume. A gente pode crescer porque a região cresce ou porque a gente está capturando carga. O que a gente acredita é que cresce nos dois cenários. É lógico que se houver uma queda econômica significativa a gente sofre igual, mas historicamente o setor portuário sofre menos.
Falando sobre impacto e inflação, temos um cenário em que o porto é muito competitivo em aspectos operacionais financeiros. É lógico que a gente sempre vai acompanhar mercado, vai fazer uma dinâmica muito próxima para entender como está a precificação do concorrente para poder sempre ser competitivo. A nossa estratégia é ser um porto muito bom e competitivo em todos os aspectos. Eu quero ser a escolha do porto da região.
Em maio, vocês anunciaram R$ 12 milhões em dividendos extras, destacando o bom momento do setor para que pudesse ocorrer essa distribuição. Qual seu panorama em relação ao setor e suas perspectivas para os próximos meses? É possível que ocorram novos pagamentos?
O terminal vem crescendo historicamente as distribuições que são feitas ao longo dos próximos meses. Fazemos distribuições mensais neste momento e fizemos um anúncio recentemente para uma distribuição que começa a ser feita com base no fechamento de junho, ou seja, o efeito caixa julho, ao longo de 12 meses. É um valor mensal até maior do que R$ 1 milhão por mês. A gente tem a expectativa de continuar entregando essas distribuições, mas pondero sempre que expectativa não é certeza. Não é um produto de resultados garantidos, é de resultados em que a gente trabalha ano a ano. Nossa expectativa é positiva para o próximo período, então a gente espera que sim tenha esse anúncio de novas distribuições lá na frente, quando a próxima estiver perto do fim. O porto está entregando o que era esperado. Pontualmente pode ter impacto uma eleição ou questão econômica mundial? Pode. Mas nossa expectativa para médio e longo prazo é de o porto continuar ganhando mercado e entregando resultado.
Apesar do predomínio dos volumes de transporte marítimo internacional, os volumes de cabotagem foram o destaque positivo, com as unidades de contêineres praticamente triplicando ao longo da última década. Com um recorte mais recente, O Porto Itapoá avançou 13,1% em 2021 ante 2020, com 498 mil contêineres movimentados. Qual a projeção de vocês para os próximos anos? Os volumes de cabotagem devem seguir impulsionando o crescimento da indústria no Brasil?
A gente não abre os volumes exatos de cabotagem ou de outras cargas dentro do volume que a gente publica. Mas deixo claro que a cabotagem irá ganhar importância. Em termos regulatórios ou de legislação, está em um momento favorável. Ela, por si só, está sendo mais eficiente. A precisão nas escalas dos navios, a qualidade no serviço de cabotagem, legislação favorável e todo esse desenvolvimento traz uma maior segurança para esse modal. Como ele é mais barato e tem sido mais seguro, tende a ser mais usado. Naturalmente vou explorar isso de uma forma mais intensa. É uma carga que vai nos ajudar a preencher essa capacidade de expansão que estamos entregando agora ao longo dos próximos meses. Então é um movimento muito vantajoso para o Brasil e para a gente também.
O sistema portuário brasileiro é composto por instalações públicas e privadas. O Porto de Itapoá é um terminal privado, sem prazo de validade e sem requisitos para a renovação do ativo. Qual a vantagem do ativo em relação aos terminais públicos?
O primeiro ponto para o privado é que ele tem um prazo indeterminado de operação. Tem-se uma autorização que precisa ser renovada a cada 25 anos, mas é simples. Já uma concessão tem prazo determinado, ou seja, sabe quando ela encerra. O segundo ponto é que no porto privado tem-se a liberdade de investimento muito mais presente. Eu escolho aonde vou investir e onde vou crescer. Já num contrato de concessão, ele traz determinadas frentes que tenho que tomar, como onde e quanto investir o dinheiro e em que período. Pode haver flexibilidade, mas se tem um plano pré-determinado para cumprir. No porto privado não tem isso e ainda pode adaptar para expandir de acordo com o que o mercado solicita. Isso é uma vantagem grande. O porto privado te dá uma liberdade de contratação de mão de obra maior, assim como longevidade do time.
Bom, não dá para falarmos sobre investimentos e não destacar o período pandêmico que assolou praticamente todos os setores em todo o mundo. Para vocês não foi diferente, mas mostraram uma rápida recuperação, uma vez que os principais impactos econômicos começaram a suavizar. A que você atribui essa resiliência do ativo e, atualmente, já podem afirmar que a pandemia é um obstáculo superado para o BRZ Infra Portos?
Todos estão aprendendo a conviver com a pandemia. Estamos em um momento de adaptação constante. Lá no momento inicial o primeiro pensamento era de como cuidar do nosso time para que eles pudessem, em segurança, trabalhar e continuar desenvolvendo as coisas. Essa mudança de cultura foi para todo mundo. Porém, a velocidade e o dinamismo para adaptar a realidade de uma operação portuária, as exigências de segurança do time que trabalha para o ativo investido, sem dúvida foi um diferencial muito grande. O ativo investido conseguiu responder muito rápido e de uma forma sem que comprometesse qualidade. A pandemia hoje pode estar muito mais branda, mas é uma preocupação constante para todos. O que a gente busca é manter essa velocidade de resposta viva, para que a gente possa se adaptar e se movimentar conforme novas necessidades. Estamos em um momento de maior conhecimento sobre essa frente, mas nossa expectativa é positiva e a gente trabalha para que o impacto seja sempre o menor possível. Quanto a questão logística, a pandemia trouxe uma confusão logística muito alta, que ainda não acabou, mas não temos visto grandes efeitos. Podemos ter no segundo semestre, mas estamos muito mais preparados para reagir a isso. O impacto econômico como um todo, inflação e guerra, somada a pandemia pode trazer impactos, mas estamos nos preparando para que esses impactos sejam reduzidos.