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Criptomoeda 'verde': startup baiana cria ativo ESG e toma o exterior

Em entrevista ao BP Money, os sócios fundadores da DeTrash conversam sobre seu criptoativo, o cRecy, e os incentivos à ações ESG

Foto: Divulgação / DeTrash
Foto: Divulgação / DeTrash

Mesmo com as pressões sociais para a adoção de mais ações ESG, no ambiente corporativo e público, o pensamento de retorno, que nesse âmbito não é imediato, trava as atuações. Então, o que seria melhor que descartar os resíduos corretamente e ser recompensado por isso? Foi o ideal que levou a empresa baiana DeTrash a criar a Rede Recy e o cRecy, sua criptomoeda.

Através do aplicativo Rede Recy, os usuários conseguem registrar a destinação de seu lixo e, caso esses resíduos cheguem a um tratamento sustentável, as pessoas ganham recompensas pelos dados auditados, nesse caso, o token digital erc20, os cRecys, foi o que explicaram os fundadores da DeTrash, Mayara Padrão, que também é CMO, e Phillip Teles, que ocupa o cargo de CEO.

O cRecy está listado na Uniswaps, uma Bolsa descentralizada que roda na blockchain do Ethereum (ETH), e desde a criação tem oscilado na casa do US$ 1. Um dos desafios que a empresa baiana tem enfrentado é, justamente, aprofundar a liquidez de sua moeda.

Mas as pessoas físicas não são as únicas que podem se beneficiar com a emissão dessa criptomoeda por ações sustentáveis, segundo os fundadores, a Rede também pode ser uma solução para pessoas jurídicas e suas iniciativas ESG.

As empresas podem acompanhar a gestão de seu próprio resíduo e a partir disso adquirir e congelar os cRecys mensalmente para receber o Certificado de Impacto Ambiental e Social Recy, disseram os sócios.

“Não há razão de desânimo para nós porque sabemos que a semana otc e p2p liderada pelas empresas que querem certificados é o que segura o valor do token e o coloca numa tendência ascendente no longo prazo”, disse Teles.

O trabalho da empresa se expandiu, saindo da Bahia e outros estados do Brasil para territórios internacionais, como Israel, Peru e Kenya. No momento,sua criptomoeda pode ser compra através de carteiras como a Valora, a Trust Wallet, a BitKepp e a Metamask. Os sócios já visam uma parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas), adesão da inteligência artificial ao aplicativo.

Confira a entrevista na íntegra:

Por que a DeTrash decidiu trabalhar a sustentabilidade a partir da emissão de uma criptomoeda?

Percebemos que o mundo está numa pandemia de poluição de resíduos, por conta do desalinhamento e inexistência de incentivos econômicos eficientes. Isso, principalmente, porque são incentivos que criam hábitos novos e consciência de forma mais eficiente, e porque, hoje, recicladores e compostores estão em competição desleal contra gestores de aterro no lado da coleta e indústrias de insumos primários (plástico virgem e agrotóxicos por exemplo) no lado da demanda. 

Por isso, um ativo digital programaticamente escasso e de dificuldade de emissão previsível é a melhor ferramenta para construir um mundo livre de lixo na natureza.

Sendo listada em Bolsa, os fatores externos que influenciam as demais criptomoedas e o desempenho dos principais índices acionários afeta o cRecy também?

Afeta agora no início. A nossa tese é que quando a quantidade de empresas adquirindo Tokens marginalizar a quantidade de pessoas, vamos descorrelacionar o preço em relação aos índices e, provavelmente, ficaremos ainda correlacionados com o BTC, diante da natureza do nosso tokenomics. Com um prêmio por conta da demanda recorrente no principal caso de uso, que é fazer locking para receber o certificado.

Qual o impacto ambiental e social que a Rede Recy tem conquistado no Brasil e no exterior?

Para dar uma perspectiva ao nosso impacto, desde o início somos um projeto bootstrapped de colaboração descentralizada. Falamos isso porque dá uma dimensão da qualidade do impacto para além dos números. 

Em termos de números, nós evitamos mais de 400 toneladas de resíduos na natureza desde 2021.2 e distribuímos mais de 100 mil reais em dinheiro e 300 mil dólares em cripto para mais de 100 famílias que dependem da reciclagem e estavam vivendo na linha da pobreza no Brasil.

Quais rendimentos a empresa já conquistou com a criação da Rede Recy?

Já conquistamos grants da Celo e da Gooddollar e temos hodlers ilustres na nossa rede como a Mila Rioja, uma pessoa da liderança da Coinbase Asset Management, Rosângela Lyra e outros.

Estamos no começo e somos ainda pequenos como BTC na era Cypherpunk. Por isso, contamos nossos rendimentos também em convites que recebemos para participar e falar em eventos como o Blockchain Rio, NFT Brasil, Celo Connect em Barcelona e alguns eventos da ONU que estão planejados para julho e novembro deste ano.

O cRecy funciona como uma criptomoeda, como ela pode ser usada pelos usuários diariamente? É possível trocar esse token, ou fazer transferências e pagamentos? 

Sim. Apesar do principal uso de locking para receber o certificado, o cRECY é aceito em diversos lugares em estados do Brasil, na Índia e na Suécia até agora. 

Casos muito legais que mostram a diversidade disso são que dá para pagar um café e croissant delicioso em Praia do Forte, na Bahia, ou um serviço de desenvolvimento na Oranj, uma empresa de Coimbatore, na Índia.

Qualquer empresa que queira aceitar o cRECY recebe uma consultoria de graça da DeTrash sobre contabilidade e operações com blockchain e para saber mais é só mandar uma mensagem para a gente.

Pensando pelo lado de empresas interessadas, quais vantagens elas podem ter ao se juntar à Rede ou formar parcerias com a DeTrash? 

O Certificado de Impacto Ambiental e Social Recy é uma revolução em como empresas melhoram seus níveis de ESG. 

Nós dizemos isso porque, diferente das outras formas, a Rede Recy é muito preocupada com o impacto social e, mais especificamente, no prejuízo de adicionar custos às empresas na esperança de melhorar o meio ambiente. Essa receita de adicionar custos só adiciona inflação e impulsiona desigualdade.

Na metodologia Recy, a empresa é incentivada ao invés de punida, porque ela faz uma reserva de cRECYs enquanto os congela por dois anos e recebe o certificado por isso. 

Depois de dois anos a empresa tem seus cRECYs descongelados e faz o que quiser com eles, inclusive congelá-los novamente. 

Assim fica figurando como investimento e não custo operacional na contabilidade da empresa e dá espaço e fôlego para ela se tornar mais sustentável mudando sua cadeia de suprimentos e processos. Tudo isso com nossa ajuda, claro.

Como estão os novos projetos e negócios da empresa para expandir a aderência à Rede e o uso da criptomoeda?

Nós estamos muito animados com esse segundo semestre. Temos grande deals de certificados sendo fechados, uma aproximação com a ONU e o lançamento da Recy IA para a descentralização da auditoria de relatórios de recicladores e compostores. 

Acreditamos que chegaremos no final do ano com pelo menos 100 empresas aderentes à Rede e uma comunidade de pelo menos 10 mil recicladores e compostores.

Por isso é importante que todos participem. Somos uma solução para a humanidade, de código aberto e buscando a descentralização completa. Isso com a tokenomia baseada naquela do BTC coloca a Rede Recy como uma grande oportunidade para conseguirmos limpar o mundo de forma permanente e global.