A gestora W Capital chega para movimentar o mercado trazendo uma proposta diferente: investir em empresas que querem se alinhar com os valores ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Seguindo essa tese, a gestora visa colocar em seu portfólio empresas de indústrias tradicionais, como a indústria de bebidas, mas que topam o desafio de diminuir a pegada de carbono.
“Nosso negócio não é pedir uma doação para fazer um bem para sociedade. O objetivo primeiro da gestora é gerar retorno financeiro, só que conceitualmente a gente se coloca em uma posição de usar o poder do capital para transformar a sociedade e gerar essa externalidade positiva, que é diminuir a pegada de carbono”, explicou.
Atualmente, eles possuem um fundo de private equity com mais de R$ 65 milhões sob gestão, já totalmente captado e alocado em uma empresa chamada Better Drinks. Mas, em breve, como comenta o CEO e fundador Guilherme Waetge da W Capital, um segundo fundo será lançado, também em private equity e focado em small caps. Segundo ele, a captação de recursos já começou e a meta é que seja um fundo na casa dos R$ 100 milhões.
“Nós já temos, para o próximo fundo, um pipeline muito grande de potenciais empresas. A ideia desse novo fundo é replicar a tese do primeiro, porque começamos com uma régua muito alta. A Better Drinks é uma empresa fantástica, que cresce muito rápido, com empreendedores únicos. Então queremos fazer mais do menos: investir em uma empresa com crescimento exponencial e um time management de primeira linha. Queremos que nosso capital seja utilizado para acelerar esse crescimento, ao mesmo tempo que geramos um retorno para a sociedade”, disse.
Confira a entrevista exclusiva do BP Money com a W Capital
A W Capital é uma gestora jovem. Qual é a história dela?
Guilherme Waetge – Eu já sou gestor de recursos há muito tempo e cobria basicamente setor de consumo. Lá, eu acompanhava bastante de perto as principais tendências de consumo que surgiam ano a ano. Nos últimos cinco anos, todas as tendências que apareciam eram de alguma forma ligadas à sustentabilidade.
E eu imaginei que esse momento de tendências não eram coincidências, elas refletiam uma mudança de pensamento e comportamento da sociedade como um todo. Então da mesma forma que um consumidor vai no mercado buscar um produto e gira a embalagem para ver o rótulo, da onde vem, quais são os benefícios que aquele produto causa não só para aquela pessoa que vai consumir, mas para a sociedade como um todo, essas pessoas podem ser alocadores de recursos e vão fazer a mesma coisa, quando ele for escolher um produto financeiro.
Então ele vai estar interessado em saber a relação risco-retorno daquele investimento, ele vai pegar dois investimentos com a mesma relação, mas vai pensar “Esse aqui tem alguma externalidade positiva? Não. Esse outro oferece algo a mais? Sim, então vou optar por esse”’. Foi daí que surgiu a ideia de criar a W Capital, que é uma gestora de private equity tradicional, mas que tem uma tese de descarbonização do portfólio. Além de receber um bom risco-retorno para nosso investidor, a gente também promove a descarbonização das empresas investidas. Assim, tem um retorno para a sociedade na redução dessa pegada de carbono.
Por que private equity em vez do mercado de capital aberto?
Guilherme Waetge – Eu trabalho direta e indiretamente com private equity há quase 20 anos. É uma paixão minha desde que eu entrei no mercado de trabalho. Eu acredito bastante no poder transformador do capital.
O mercado público de capitais, a gente tem muita gente analisando aquelas empresas. O mercado privado, é um mercado que tem mais assimetria de informação. Você não tem uma cobertura muito ampla daqueles ativos. Normalmente, você tem uma possibilidade de gerar uma transformação maior nessas empresas.
Como a gente investe com capital de crescimento, nós somos, em via de regra, o primeiro investidor dessas empresas. Então elas são empresas construídas e geridas por seus fundadores, até o momento que a gente investe nessas empresas e implementa uma série de processos e filosofias de institucionalização da empresa. A gente vê que com esse modelo no private equity, conseguimos gerar uma transformação maior e bastante significativa nas empresas investidas.
Para nossos leitores entenderem, como funciona essa diminuição da pegada de carbono na prática?
Guilherme Waetge – A gente faz o private equity tradicional, investindo em indústrias tradicionais. Diferente de uma tese de impacto, que você investe em empresas disruptivas. Na nossa tese, a gente investe nas mais variadas indústrias, como acabamos de investir na indústria de bebida, que é tradicional.
A partir disso, o que a gente se compromete a fazer como gestor é fazer com que essa indústria tradicional passe pelo o que a Organização das Nações Unidas (ONU) chama de retrofit de indústria. O que é isso? A indústria de bebida não vai parar de existir, ela só vai seguir o modelo que a nossa sociedade escolheu, que é um modelo com menor produção e geração de pegada de carbono.
Como resultado disso, a gente investe nessa indústria tradicional, que já tem seus processo, por exemplo, faz a logística a diesel, e a gente faz uma auditoria da pegada de carbono dessa empresa investida. Vê quais são os principais fatos gerados dessa pegada de carbono – dando o exemplo da nossa empresa investida, grande parte da pegada vem da fabricação e transporte dos produtos finais.
Então nossa ação é reduzir esse transporte a diesel e aplicação de alguns filtros na fábrica para diminuir a pegada de carbono. Com isso, nós não vamos transformar a indústria, no sentido de, não vai ter essa disrupção. Mas a gente vai transformar essa indústria, via investimento, e os competidores vão seguir o exemplo de mudar para uma cadeia que gere menos carbono.
A forma da gente se certificar de que as empresas vão cumprir essas metas que a gente estabelece, é que se elas não cumprirem, tem uma multa que é revertida na compra de créditos de carbono. Então elas cumprindo as metas, ela gera uma redução direta da pegada de carbono e se ela não cumprir, ela gera uma redução indireta através dessa compra de crédito, é uma compensação.
Há a auditoria para ver se essa empresa se adequa a tese da gestora, mas há mais alguma outra análise?
Guilherme Waetge – Para a gente entender que aquela empresa tem um valor agregado a não ser o financeiro (porque o financeiro é um given para nossa indústria, a gente só investe porque a gente vai ter um retorno financeiro), do ponto de vista climático, a empresa tem que ser suscetível a passar por esse conceito que é o retrofit de indústria. Se é uma indústria que intrinsecamente precisa gerar carbono, ela, por exemplo, explora combustíveis fósseis, eu não posso investir nela.
A nossa análise, do ponto de vista da pegada de carbono, se a gente pode ou não investir, é verificar se a gente pode pegar, por exemplo, uma indústria de bebidas e fazer com que ela passe a gerar menos carbono e ainda assim entregar satisfatoriamente os produtos que ela oferece.
Vamos falar sobre a Better Drinks, empresa onde os recursos estão alocados.
Guilherme Waetge – Esse primeiro fundo que a gente captou no final do ano passado foi totalmente usado para investir nessa empresa de bebidas. A Better Drinks é uma empresa que está muito alinhada com os nossos conceitos. Ela tem várias iniciativas dentro dela que ela transpira ESG.
Para começar, ela tem na maior parte dos seus produtos embalagens de alumínio, que tem uma diferença muito grande do que é reciclável para o que é reciclado. A garrafa PET por exemplo, ela é reciclável, mas no Brasil ela é quase nada reciclada porque ela é barata. Já o alumínio, 99% é reciclado no Brasil.
Parte da tese de investimentos é suportar o crescimento de uma empresa que vai levar os consumidores bebidas em lata. “Poxa, mas a gente já consome refrigerante em lata”. Mas a diferença é que ela nem tem refrigerante, ela tem água em lata, drinks prontos em lata. Ela é líder de market share em vinhos em lata no Braisl. Então a gente entende que estamos ajudando a transformar um hábito de consumo em um hábito mais sustentável.
Você contou sobre o lançamento do segundo fundo, conta um pouco mais sobre essa novidade.
Guilherme Waetge – Continua sendo um fundo de investimento alternativo em private equity, um produto mais ilíquido. Essa iliquidez do produto deve ser refletida no retorno da classe de ativos. A gente também continua nessa mesma tese de descarbonização do portfólio. Vamos continuar fazendo o que fizemos com sucesso no ano passado.
Você então acredita que o apetite dos investidores está sendo direcionado para esse lado de investimentos sustentáveis?
Guilherme Waetge – Eu acho que, principalmente os investidores institucionais, estamos um pouco atrás da maturidade que o mercado europeu, por exemplo, já chegou. Mas eu vejo uma evolução muito grande nos últimos cincos anos. Quer dizer, cinco anos atrás ninguém falava em ESG. Hoje, todo mundo já fala e alguns, como a gente, já fazem e mostram resultados efetivos.
Então eu fico muito animado com a evolução do mercado de capitais brasileiro no sentido de promover, não só o retorno financeiro, mas também um retorno para a sociedade, meio ambiente e tudo mais. Eu vejo com bons olhos essas mudanças.