
Em um cenário cada vez mais digitalizado, o dinheiro em espécie continua a exercer papel fundamental na economia brasileira. Sendo assim, apesar do crescimento de ferramentas como o Pix, sua importância vai muito além da conjuntura tecnológica.
Em entrevista exclusiva, Sérgio França, diretor comercial e de estratégia da Prosegur Cash, explica como o papel-moeda garante estabilidade, resiliência e, portanto, acesso em diversas camadas da sociedade.
Veja entrevista na íntegra
Por que o dinheiro em espécie continua essencial no Brasil, mesmo com o avanço do Pix?
O dinheiro em espécie vai muito além do Pix. Os meios de pagamento se complementam. Nenhum é melhor que o outro. O dinheiro tem um papel governamental, social, legal e geográfico. Sendo assim, em situações como falta de energia ou falha em sistemas bancários, o papel-moeda se torna a única alternativa funcional.
Como o dinheiro físico age em momentos de crise e instabilidade?
Pegamos como exemplo a tragédia no Rio Grande do Sul. Comércios ficaram sem POS, bancos fecharam, houve falhas elétricas. Mas quem tinha dinheiro no bolso conseguiu comprar, pagar e manter a economia girando. Além disso, o mesmo vale para comerciantes e fornecedores. Vimos o mesmo em apagões na Europa e até no Katrina. O dinheiro é historicamente estável.
Há um equilíbrio possível entre meios digitais e físicos?
O ideal é oferecer todos os meios ao cidadão e deixá-lo escolher. Sendo assim, Banco Central, bancos e empresas devem garantir a oferta, seja com cédulas ou infraestrutura para Pix e cartões. É a pluralidade que garante segurança.
Qual a importância das cédulas para regiões periféricas ou de difícil acesso?
Nessas regiões, muitas vezes falta tecnologia ou rede. O dinheiro cobre essa lacuna. A Prosegur atua junto ao Banco Central e bancos comerciais para distribuir o papel-moeda em todo o Brasil. Para isso, levamos cédulas via voadeira, barco, avião — o que for preciso para garantir acesso.
E como funciona a circulação do dinheiro físico no dia a dia?
Imagina se uma cédula tivesse um chip. Você veria que ela sai de um caixa eletrônico, vai ao comércio, passa de mão em mão, cruza cidades. É uma circulação absurda, por isso o dinheiro vive.
O uso de cédulas por pessoas mais velhas indica exclusão digital ou segurança?
Um pouco dos dois. Muitas vezes, como seu avô, as pessoas preferem sair com dinheiro no bolso. É uma escolha consciente de segurança. Já vimos situações em que só o Pix não bastava. Sendo assim, se o sistema falha, você fica na mão. Ter dinheiro é precaução.
Existem protocolos de emergência para uso do dinheiro físico?
Todos os atores do sistema — bancos, transportadoras, caixas eletrônicos — têm planos de contingência. Mas para situações extremas, como a pandemia ou as enchentes no Sul, montamos comitês de crise e atuamos 24/7 e funcionou bem. Usamos filiais de outros estados, transportes alternativos, e o dinheiro chegou.
Então o dinheiro virou um backup nacional?
Mais que isso: ele ainda é protagonista. Quase 70% dos brasileiros usam dinheiro, e entre 20% e 25% o consideram seu principal meio de pagamento. Sendo assim, em situações-limite, ele é o único recurso confiável.
Quais dados sobre o uso do dinheiro em espécie você considera mais relevantes?
Os dados ajudam a entender hábitos, regiões, perfis e tipos de transações. Com isso, podemos estruturar o fornecimento e planejar o futuro. Mesmo com o avanço tecnológico, o risco cibernético cresce, e, então, o dinheiro segue imune, estável e necessário.
Quer deixar um recado final sobre o tema?
O Banco Central, bancos e varejo devem oferecer todos os meios de pagamento — físicos e digitais. Na Prosegur, temos cofres inteligentes que aceitam depósitos e também realizam saques via Pix. É o convívio ideal entre mundos distintos, mas complementares.