As empresas do setor de educação receberam previsões de boa atuação para 2024, semelhante ao desempenho do ano passado. Em entrevista ao BP Money, José Messias Junior, CEO da Cubos Academy, pontuou que o crescimento não deve se expandir muito, deu destaque à tecnologia e mencionou possível IPO (oferta inicial de ações).
Em relatório divulgado no início deste ano, o Itaú BBA classificou que a educação não deve sofrer grandes mudanças na tendência de crescimento. Contudo, os analistas expressaram cautela, por conta das mudanças regulatórias que mexem com as companhias.
Segundo Junior, uma das criações que as empresas de educação podem trazer aos seus produtos visam a integração da inteligência artificial com o ensino individual, para aprimorar os resultados.
A possibilidade de cruzar os dados do estudante com os dados do conteúdo abre portas para a criação de conteúdos específicos para cada pessoa, diferente do modo que é feito hoje.
Para ele, essa vai ser uma das mudanças transformacionais do setor, e a Cubos Academy, considerada a maior edtech da região Nordeste, conforme afirmação da empresa, tem caminhado nesse sentido também.
Confira a entrevista na íntegra:
O Itaú BBA projeta que o setor da educação deve seguir o mesmo ritmo de crescimento com o EAD avançando. Como o senhor avalia esse cenário?
A gente passou por um período de grandes baixas nesse valor de ações das empresas de capital aberto de educação. São ciclos, então, agora faz sentido que as coisas estejam voltando.
Acredito que o setor não deve crescer muito esse ano, mas vai ser um crescimento aos poucos ao longo do ano. Além disso, tem um fator novo que veremos em educação, mais para o ano que vem e para os anos seguintes, que é a introdução da inteligência artificial na sala de aula.
Devemos ver, cada vez mais, a Yduqs [YDUQ3], por exemplo, que é uma das empresas que o próprio CEO já falou, em diversos momentos, que eles estão investindo realmente em tecnologia. E acredito que a inteligência artificial vai mexer com muitos mercados, principalmente com educação.
Aqui na Cubos Academy, por exemplo, a gente tem uma instrutora de IA, que ajuda a dar um primeiro suporte para os estudantes. Isso faz com que qualquer escola consiga atender muito mais estudantes, aumenta a eficiência e, naturalmente, acarreta o crescimento das ações e tudo mais.
Veremos muito também de tecnologia assistiva, não só para atender o estudante diretamente, mas para dar um suporte ao professor que acompanha tudo. A Yduqs, por exemplo, foca mais nesse caminho.
Você percebe alguma área de estudos que têm recebido mais investimentos, seja por parte do Estado ou do mercado?
Investimentos em educação são sempre mais difíceis, justamente por ser um mercado que cresce mais lentamente.
Acredito que os conteúdos tecnológicos realmente são os que valem destaque recentemente. Essa área de dados vem crescendo bastante, acredito que teremos mais investimentos principalmente para empresas de tecnologia e educação, mas sem necessariamente ser uma escola.
As empresas que estão construindo tecnologia para o setor de educação, por esses motivos que eu expliquei antes, tem bastante possibilidade de conseguir mais investimentos.
Como surgiu a ideia da Cubos, de trazer essa parte de tecnologia, e o que a escola oferece ao setor?
Começou fazendo as coisas para nós, dando aulas de tecnologia. Isso foi dando certo, fomos expandindo. Tivemos um crescimento grande durante a pandemia, como várias outras escolas online. Isso fez com que as pessoas estivessem mais dispostas a estudar dessa forma.
Para melhorar cursos online, precisamos focar em tecnologia. Acredito que esse é o principal fator que nos faz criar a tecnologia tão bem. Nada melhor do que você sentir a própria dor para conseguir criar algo que resolva essa dor.
A Amy, por exemplo, que é a nossa instrutora via IA, foi bastante disso. Vimos que grande parte dos nossos professores estavam, na maior parte do tempo respondendo as mesmas dúvidas de estudantes diferentes. Se a gente conseguíssemos uma forma de tirar essas dúvidas de maneira eficiente e rápida, teríamos um grande ganho. Foi o que fizemos.
Além disso, na parte de tecnologia, a gente criou um editor de código integrado. Hoje o estudante vê um vídeo, faz o próprio código isolado e fica por aí. Na Cubos Academy, esse estudante consegue interagir com o código que o professor faz no vídeo.
Tem muito mais coisas que a gente quer fazer. Outra coisa legal que a gente fez bem recentemente foi um simulador de entrevistas. Trabalhamos bastante com foco na empregabilidade. Algo que ajuda bastante os estudantes a entrarem no mercado de trabalho é estarem preparados para as entrevistas.
Esses são alguns exemplos, mas tem realmente bastante coisa que dá para fazer com as novidades que estão surgindo.
Nessa mesma análise, o Itaú se mostrou mais conservador com o ensino superior no Brasil. Como está a procura pelo ensino nesse nível?
Acredito que vai crescer lentamente também a busca pelo ensino superior em todas as áreas, mesmo na área de tecnologia. Sabemos que, no âmbito profissional de tecnologia no Brasil, nem sempre é exigido diploma de graduação.
Dá para você começar na área sem ter diploma de graduação, mas existe uma cultura do brasileiro de acreditar que a graduação é o caminho. Então, deve continuar crescendo nos próximos anos, mas deve crescer também a oferta de cursos livres.
Justamente porque, cada vez mais, tem novas áreas em que você consegue acessar, sem necessariamente ter uma graduação, ou ter um curso superior completo, como é o caso da tecnologia.
No caso da Cubos, que não oferece cursos de ensino superior, como vocês têm se preparado para ofertar mais produtos e agregar alunos? Vocês pretendem desenvolver cursos desse nível em um futuro próximo?
Temos expandido nossa oferta de cursos na área de tecnologia. Começamos com programação e design, hoje oferecemos programação, design, produto, dados, vários outros cursos.
A ideia é expandir essa oferta, de fato ter mais possibilidades e cursos mais profundos, também para pessoas que já são da área se especializarem. Mas não temos como plano atual entrar em cursos de superior. É um ambiente regulado que já tem vários players bem posicionados.
Embora eu acredite que ainda haja espaço para evolução desses cursos superiores de tecnologia, acreditamos que o mercado tende a, cada vez mais, ser suscetível a cursos não regulados.
Então, acho que dá para profissionalizar na área de tecnologia sem necessariamente ser uma graduação. Porque a graduação, infelizmente, traz algumas amarras, algumas burocracias, que podem não ajudar a parte pedagógica.
O setor de tecnologia é outro que está atraindo investimentos no mercado. As empresas brasileiras têm se preparado para essa tendência?
Vejo que a tendência é que aconteça a mesma coisa, só que em um prazo mais longo. Vamos seguir os passos do que acontece lá fora. É algo que acontece em outros mercados também, em outras áreas. Acho que em tecnologia não vai ser diferente.
Mas acredito também que vamos continuar um crescimento. Obviamente, vivemos anos de crescimento até mais acelerados, deu uma esfriada nos últimos anos, mas acho que esse ciclo volta aos poucos.
O que o senhor pensa ser necessário para aumentar a oferta e o interesse pelo ensino de tecnologia no País, também pensando em tornar o setor mais atrativo para os investimentos?
O poder público sempre deveria ter uma responsabilidade maior com a educação. A área de tecnologia, por exemplo, é uma das áreas em que mais se consegue transformação social de uma maneira rápida.
E, ao contrário do que possa parecer pelo senso comum, na área de tecnologia, às vezes, sem tanto conhecimento prévio, a pessoa consegue entrar na área. Pessoas, às vezes, com nível superior apenas, com nível médio apenas, conseguem, com muito foco na educação, entrar no mercado de trabalho.
Então, para o poder público, é um caminho interessante. É uma área que tem muita demanda por profissionais. No longo, ou médio prazo, é bastante interessante que a gente consiga formar mais profissionais competentes nessa área.
E, obviamente, para a iniciativa privada também faz sentido. Provavelmente vamos ter um ganho de eficiência nas instituições de ensino com essas ferramentas sendo colocadas para a sala de aula.
Acho que demora um pouco, porque essas instituições também são, no Brasil principalmente, controladas por seis grandes grupos. Portanto é difícil, com grupos desse tamanho, conseguir modificar as coisas tão rápido. Leva tempo.
A Cubos já teve parcerias com empresas cotadas em Bolsa, como a ENGIE e o Mercado Livre. Quais foram os resultados desses negócios? Novas parcerias podem surgir?
Estamos, sim, vemos cada vez mais empresas olhando para isso, justamente pelo ponto que eu mencionei antes. Tecnologia é uma das poucas áreas em que a gente consegue ter um impacto social, em termos de aumento de renda mesmo, de dinheiro no bolso, para quem estuda.
Então, ao ver esses resultados, as empresas começam a despertar interesse. Especialmente empresas que têm esse olhar para a sustentabilidade, para devolver para projetos sociais.
Com o iFood, por exemplo, fizemos alguns programas desde 2021 com resultados fantásticos. Em alguns conseguimos empregar 90% das pessoas que se formaram, sendo que 90% da turma se formou. Então, foi um resultado muito bacana.
Ano passado, por exemplo, a gente fez um programa bem grande para mil estudantes. Deu super certo. E foi quando começou a despertar o interesse dessas outras empresas, como Nubank [ROXO34], Engie [EGIE3] e Mercado Livre [MELI34].
Esse ano, faremos mais, com essas empresas e com outras. Vemos cada vez mais empresas olhando para esses programas em tecnologia, porque dão esses resultados. São resultados, como a gente diz por aqui, com CPF. Você consegue ver, realmente, a história dela, ver como a vida dela mudou, por conta desses programas.
A Cubos Academy tem pretensão de abrir o capital e fazer uma oferta de ações em breve?
Temos.Porque sonhamos grande, dá o mesmo trabalho que sonhar pequeno.
Então, esperamos, um dia, crescer o suficiente para fazer sentido abrir capital. Não vai ser no curto prazo. Como eu costumo dizer, estamos apenas começando. Embora crescendo bastante todo ano.
Tem muita estrada pela frente, mas com certeza. Daqui a alguns anos, esperamos também estar listados em bolsa, com o BP Money falando das nossas ações.