Com a aproximação das eleições de 2026, os agentes econômicos começam a incorporar incertezas políticas nos seus modelos de decisão.
A avaliação é de Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria, que concedeu entrevista ao BP Money sobre suas perspectivas para o cenário.
De acordo com ela, a antecipação do ciclo eleitoral tem potencial para provocar distorções na condução da política fiscal.
“O risco fiscal tende a se agravar em ambientes pré-eleitorais, porque aumenta a propensão do governo a adotar medidas de natureza expansionista que não necessariamente são sustentáveis no médio prazo”, afirmou.
Ribeiro destacou que o mercado já começa a recalibrar suas expectativas. “As eleições de 2026 estão no radar. O investidor observa com atenção qualquer sinal de flexibilização do arcabouço fiscal com viés político”, explicou.
Eleições de 2026 e a desorganização fiscal
A diretora da Tendências explicou que a combinação de pressões eleitorais com uma política fiscal mais frouxa pode gerar impacto direto nas expectativas inflacionárias.
“Em períodos pré-eleitorais, há uma maior disposição do governo em aumentar gastos, o que afeta a percepção de sustentabilidade das contas públicas”, disse.
Além disso, ela acrescentou que essa percepção pode se traduzir em movimento de alta nas projeções de inflação.
“O canal mais imediato é o câmbio. Sendo assim, qualquer ruído sobre compromisso fiscal pressiona o dólar, que se transmite para os preços internos. Isso afeta o IPCA e o espaço de atuação do Banco Central”, afirmou.
Banco Central deve manter cautela em cortes de juros até 2026
Ao ser questionada sobre a trajetória da política monetária, Ribeiro foi clara ao afirmar que o ciclo de cortes na taxa Selic tende a ser mais limitado do que o inicialmente projetado.
“Há uma expectativa de desaceleração na trajetória de cortes de juros, especialmente se o cenário fiscal continuar incerto”, afirmou.
Ela explicou que a inflação de serviços segue pressionada, puxada pelo mercado de trabalho aquecido e pela recuperação da renda real. “Essa combinação dificulta a desinflação. Mesmo com o IPCA convergindo, há núcleos ainda persistentes”, destacou.
Ribeiro avaliou que o Banco Central manterá uma postura prudente, com sinalizações cautelosas. “O ambiente político influencia a autoridade monetária. Não há espaço para movimentos agressivos enquanto não houver clareza sobre a condução fiscal no ciclo pré-eleitoral”, analisou.
Credibilidade do arcabouço fiscal será testada pelo calendário política
Um dos pontos centrais da entrevista foi o papel do novo arcabouço fiscal, implementado para substituir o antigo teto de gastos. Para Alessandra Ribeiro, o ano de 2025 será um teste decisivo para a credibilidade do novo modelo.
“Ainda é cedo para afirmar que o arcabouço está consolidado. Entretanto, a ancoragem das expectativas depende de uma execução firme, especialmente num contexto de proximidade eleitoral”, explicou.
Ela alertou que qualquer flexibilização, mesmo pontual, pode minar a confiança do mercado.
“O espaço fiscal é restrito, e há pressões crescentes por aumento de despesas. A dúvida é se o governo terá disposição política para manter o compromisso com o equilíbrio fiscal diante do calendário de 2026”, afirmou.
Setor produtivo adota postura defensiva diante de incerteza
Outro aspecto destacado na entrevista foi o impacto do cenário eleitoral sobre o comportamento do setor produtivo. Além disso, Alessandra Ribeiro observou que empresas tendem a adiar investimentos em momentos de incerteza institucional.
“A indefinição sobre o rumo da política econômica após 2026 pesa na tomada de decisão. A confiança do investidor é sensível à percepção de continuidade ou ruptura”, avaliou.
Ela explicou que essa prudência empresarial pode refletir no crescimento da atividade. “Se não houver uma sinalização clara de compromisso com a estabilidade econômica, o PIB pode sofrer ainda em 2025. O investimento produtivo é um dos primeiros a ser impactado”, alertou.
Cenário internacional e eleições internas
Alessandra Ribeiro finalizou sua análise destacando que os riscos não estão apenas no ambiente doméstico. Dessa forma, a política monetária dos Estados Unidos e seus impactos sobre os juros globais devem se somar aos fatores de pressão.
“Estamos diante de um cenário que exige atenção redobrada. Portanto, as eleições de 2026 e a curva de juros americana vão caminhar juntas como vetores relevantes para o comportamento dos mercados”, disse.
Em suma, ela também apontou que a combinação de dólar volátil e expectativas inflacionárias instáveis pode resultar em aumento da percepção de risco. “A credibilidade da política econômica será um ativo crucial para atravessar esse período”, concluiu.