Juros reais entre os mais altos do mundo, incerteza fiscal constante, crédito restrito e novas pressões externas. Em 2025, o ambiente para quem decide abrir um negócio no Brasil continua desafiador, e exige cada vez mais preparo técnico, resiliência e apetite para riscos.
Em meio a um cenário macroeconômico complexo, o empreendedor precisa lidar com custos elevados, instabilidade regulatória e uma carga tributária que segue pesada e burocrática.
Ainda assim, muitos seguem apostando no próprio negócio como caminho de ascensão e independência financeira. Mas afinal, o que é necessário para empreender — e sobreviver — em um país onde o caos parece fazer parte da regra do jogo?
Para entender como enfrentar esses obstáculos e ainda assim construir negócios viáveis, o BP Money conversou com Gabriel Senna, economista formado pela FGV, CEO da Advisor’s Society e mentor de empresários e investidores.
Sua leitura do momento é clara: empreender no Brasil de hoje exige mais do que coragem, demanda inteligência financeira, planejamento técnico e capacidade de adaptação.
Veja entrevista na íntegra
Quem é Gabriel Senna? E o que te motivou a se interessar na área de economia, investimentos e gestão de investimentos?
Sou um economista formado pela FGV, especialista em gestão de investimentos e patrimônio. É fundador e CEO da Advisor’s Society, onde atuo como mentor de empresários e investidores. Atuo com consultoria financeira, análise de mercados, planejamento estratégico e educação financeira.
Desde criança eu sempre fui apaixonado por leitura e por entender o mundo. Com apenas 5 anos já lia jornais físicos todos os dias, me interessando por política, economia e mercado. Conforme fui crescendo, esse hábito me levou a estudar sobre grandes economistas e investidores, e ali nasceu minha motivação pelo empreendedorismo.
Venho de uma família humilde, na Baixada do Rio de Janeiro, e por muito tempo acreditei que esse sonho era impossível. Então decidi seguir um caminho mais seguro: estudei para concursos da área militar e fui aprovado em vários. Mas, mesmo com estabilidade, eu não me sentia realizado.
Foi aí que resolvi me jogar de vez na economia. Busquei oportunidades na área de investimentos, focando sempre em análise e elaboração de carteiras. Com o tempo, abri minha própria empresa de consultoria de investimentos, que cresceu e se transformou em uma holding de produtos e serviços financeiros.
Hoje, meu core business é a gestão patrimonial e empresarial, oferecendo soluções completas para ajudar pessoas e empresas a alcançarem resultados sólidos e sustentáveis.
O Brasil vive um ambiente de juros reais elevados, incerteza fiscal e novas pressões externas. O que esse conjunto de fatores representa, na prática, para quem decide empreender em 2025?
Juros reais altos encarecem crédito e exigem projetos com margens robustas; a incerteza fiscal aumenta risco de mudanças tributárias, exigindo planejamento e caixa de segurança; e as pressões externas elevam custos de insumos e volatilidade cambial. Para empreender em 2025, é crucial focar em eficiência, fluxo de caixa bem controlado, evitar dívidas caras e usar proteção cambial ou diversificação para reduzir riscos.
O peso da carga tributária e a complexidade do sistema atual ainda são entraves significativos para o pequeno e médio empresário?
Sim. A carga tributária elevada reduz a margem de lucro e a complexidade do sistema — com regimes, obrigações acessórias e frequentes mudanças — aumenta custos operacionais e risco de autuações, tornando essencial ao pequeno e médio empresário investir em planejamento tributário e contabilidade especializada para manter a competitividade.
Sabemos que o acesso ao crédito continua restrito. Na sua visão, quais são os impactos disso sobre a taxa de abertura — e de mortalidade — de empresas no Brasil?
O crédito restrito reduz a abertura de empresas, pois limita capital inicial e expansão, e aumenta a mortalidade, já que negócios com pouca reserva de caixa não conseguem sustentar operações ou investir para crescer, criando um ciclo onde poucos empreendem e muitos fecham precocemente.
Como o cenário de juros, inflação e carga tributária hoje impacta a decisão de empreender? Ainda faz sentido correr esse risco?
O cenário atual, com juros altos, inflação pressionada e carga tributária pesada, eleva custos financeiros, reduz margem e exige gestão muito técnica; isso não elimina o sentido de empreender, mas significa que só faz sentido correr o risco com planejamento detalhado, setor resiliente, fluxo de caixa sólido e diferenciais claros que justifiquem enfrentar um ambiente mais caro e competitivo.
Quais erros você mais vê entre quem começa um negócio agora, especialmente sem uma base financeira sólida?
Os erros mais comuns são: subestimar custos e capital de giro, misturar finanças pessoais com as do negócio, não projetar fluxo de caixa, assumir dívidas caras sem prever retorno, precificar mal os produtos e ignorar tributos e obrigações, o que rapidamente compromete a sustentabilidade e leva ao fechamento precoce.