Gama Investimentos mira novas parcerias para trazer investidores

Em entrevista exclusiva ao BP Money, Ian Cao e Bernardo Queima, CIO e CEO da Gama, respectivamente, contaram a importância de se investir em dólares, diversificar o portfólio e anunciaram: novas parcerias estão chegando em breve

Dar ao investidor brasileiro a mesma gestão que o bilionário norte-americano recebe. Foi com essa frase que Ian Cao, sócio-fundador e gestor da Gama Investimentos, explicou a lógica da plataforma. Ao lado de Bernardo Queima, CEO da companhia, os gestores anunciaram novas parcerias, em entrevista exclusiva ao BP Money.

A casa tem como principal estratégia viabilizar o acesso de investidores locais aos melhores gestores globais, como por exemplo táticas de Ray Dalio e Howard Marks, nomes consagrados na Bolsa de Valores. Agora, duas novas parcerias estão no radar da empresa, uma delas com a KKR, uma das companhias mais renomadas de private equity (capital privado, na sigla em inglês) nos Estados Unidos. 

Confira a conversa exclusiva com a Gama Investimentos:

Qual foi a lógica para a criação da Gama?

Ian Cao: Nós somos uma gestora bastante diferente das outras, porque talvez sejamos uma das poucas não discricionárias em relação às estratégias de investimento. A Gama nasceu de uma visão que temos de que há muito pouco investimento internacional no Brasil.  Quando você pega a carteira média do investidor brasileiro, ele tem uma participação muito pequena de investimentos internacionais. A média já é pequena, mas ainda é distorcida pelos bilionários na conta. 

Então, quando você pega a moda e você pensa na alocação típica, principalmente do “retail” mesmo de mais alto nível, os privates de banco, você tem uma participação mínima de investimentos estrangeiros. 

Quando pegamos os números gerais das amostras de fundo, isso gira entre 1-2%. Quando comparamos com outros países do mundo, no segundo pior país do ranking, esse número é maior que dez.

Quando você pensa em um país emergente é muito impressionante. Entendemos os motivos, basicamente durante décadas no Brasil, a única forma de se fazer um investimento era através do banco.

Não havia o menor incentivo a trazer efetivamente uma oferta diferente, 100% dos investimentos eram feitos numa agência bancária ou numa área private corporate no banco.

Mas essa diversificação era diferente para quem tinha acesso aos family offices, nasceu daí a ideia, eles tiveram esse pensamento pioneiro.

Saímos um pouco na frente, criamos uma sociedade entre a Gama e a Itajubá, que é um grande “placement agent” (agente privado, em inglês) independente do Brasil. A Itajubá adquire os mandatos de distribuição de fundos e busca os clientes para cada produto. Eles já trabalham com esse tipo de produto há muitos anos. Mas antes a oferta era mais restrita àquelas  famílias com grande capital e que contam com ferramentas sofisticadas para entenderem a importância desse tipo de produto e também o acesso.

Porque até muito pouco tempo atrás, o acesso para esse tipo de produto exigia que o investidor tivesse dinheiro no exterior. E isso não é uma coisa trivial. É preciso ter uma estrutura de family office ou investidores com patrimônios muito grandes. De uns anos pra cá, tivemos uma revolução no mercado de capitais, um grande disruptor, que foi esse modelo de negócio nas plataformas de investimento.

Quais são os pilares da Gama?
 
Cao: Acho que estamos ancorados em dois pilares. Um é o próprio acesso. Quer dizer, o que estamos falando é sobre a capilaridade, a alavancagem operacional que a plataforma oferece.  Antigamente, para  vender um produto ao cliente, você tinha que levar um calhamaço de papel físico para que ele assinasse várias vias de administrador, termo de adesão, regulação, um processo burocrático. Hoje a plataforma de investimentos e as próprias áreas de investimentos dos grandes bancos dão uma alavancagem operacional que você faz esse processo e atinge milhões de pessoas.

Então, a parte do acesso é muito importante. E a segunda parte, que é quase tão importante quanto o acesso é a educação financeira. Não adianta apenas o acesso se as pessoas não entenderem a importância desse tipo de investimento. O mote da nossa empresa é: “diversificação é o único almoço grátis”. É uma das poucas coisas no mundo de investimentos que é realmente uma realidade matemática. Ou seja, você ter fontes de retorno descorrelacionadas, melhora seu portfólio. Ou você vai ter para o mesmo objetivo de retorno menos risco, ou conseguirá ter mais retorno para um dado nível de risco.

Quando percebemos essa mudança que estava acontecendo, pensamos: “vamos  trazer essas relações, esses produtos que a Itajubá já trabalhava há anos com toda a conexão junto às gestoras internacionais para o público em geral. Focamos a Gama 100% nisso, nosso objetivo é ser justamente o principal hub de investimentos internacionais no Brasil com essa proposta de valor para os gestores externos que tem muita capilaridade de distribuição, ou seja, a gente não fica restrito a uma plataforma qualquer.

Então, temos relações com a XP, o BTG, os privates dos bancos, os FOFs, os family-offices, então a gente consegue atingir realmente praticamente toda a base local de investidores institucionais dessas coisas e pro investidor local, estamos chamando isso de revolução meio 2.0 porque o investidor era era preso naqueles produtos bisonhos que a oferta bancária oferecia (poupança, título de capitalização) a revolução das plataformas de investimento trouxe uma evolução tremenda disso e o próximo passo é justamente essa internacionalização que a gente acha que é inequívoco, esse número de 1-2% não faz o mínimo sentido.Procuramos também cultivar essas relações com os maiores gestores do mundo, a gente está trazendo a KKR em Private Equity. 

Como fazer o investimento em dólar continuar atrativo se a moeda norte-americana ficar mais barata?

Bernardo Queima: Eu acho que essa discussão é super interessante porque ela sempre vem à tona, se o dólar está caro ou está barato.Eu acho que é o seguinte: as pessoas deveriam modificar um pouco essa discussão pra “quanto que eu quero ter em moeda forte?”. Porque, eu por exemplo, na pessoa física eu tenho um X por cento do meu dinheiro em dólar. Não interessa se o dólar está caro ou barato, porque eu tenho vários sonhos meus e sonhos dos meus filhos que eu gostaria que eles estudassem fora, por exemplo, atrelados ao dólar. Então, pra mim, independe disso eu quero ter a moeda porque se por acaso na hora de concretizar esse sonho, e o dólar vai a oito, acabou, não vai rolar. 

Então eu acho que esse risco as pessoas tomam e de vez em quando nos últimos dez anos foi muito positivo no Brasil, porque o “carrying” estava a nosso favor, você tinha juros de dois dígitos durante muito tempo. Olhando pra frente, com a questão fiscal brasileira, eu não acho que você pode replicar esse passado e olhar e falar assim: “eu não quero ter moeda forte, não preciso porque o juros está a 14% hoje”. As pessoas cada vez mais vão realizar que o cara menos arriscado, o cara mais conservador vai fazer o que o investidor institucional faz que é casar o seu passivo com o ativo. 

Cao: Eu acho essa questão tão profunda que eu consigo responder ela em algumas camadas. Então, o Bernardo falou da você, da questão do passivo que é uma realidade que é quando a grande maioria das pessoas tem um “liability” escondido em moeda forte que é justamente as coisas que você direto ou indiretamente, não só viagem mas mesmo uma inflação ou preço de coisas que são indexadas de moeda forte. 

Tem uma coisa posterior a isso é que independente disso ou não o nível do câmbio contra uma moeda emergente, ninguém sabe se tá caro ou barato, a gente tinha uma brincadeira de falar assim: o câmbio é tão complicado que é uma das poucas coisas que nem a posteriori você explica (risos). O câmbio até o passado é incerto, né?. Mas fora isso, quando você faz uma política e aí você vê as políticas de investimento dos grandes gestores, o cara põe que o hedge natural é você ter uma exposição espalhada de moedas. 

Depois, você estando no Brasil que é emergente é isso que o Bernardo falou. Você tem que ter uma locação em moeda forte como um hedge estrutural independente de qualquer passivo que você possa vir a ter. Você pode ser um cara que vai ficar a vida inteira só vai comer coisa local que não é negociável e você vai estudar aqui e você não vai ter nada indexado de qualquer forma, ainda assim do ponto de vista de investimento você tem uma parte do seu capital da sua poupança alocada em moeda forte vai compensar não tem dúvida.

Aí tem a terceira questão que é o seguinte: no Brasil efetivamente a gente viveu uma coisa muito específica, que é possivelmente muito distante da realidade da grande maioria dos seus leitores, pra todo mundo que é mais novo, mas o Brasil é um caso muito particular em relação a carry, pra gente viver um plano de estabilização lá nos anos 90 foi baseado em ter um carry infinito contra o dólar para segurar a âncora cambial e depois da flexibilização lá em 99, você teve que ficar com um carry cavalar para sustentar a conta capital. E isso foi verdade tanto tempo que as pessoas nem param pra olhar que isso acabou já há alguns anos. Bernardo falou de dez anos, mas não foi há dez anos não. Quando você deflaciona o câmbio pelo CDI isso deixou de ser aquela “teta” que foi durante muitos anos. Que era verdade. Você ganhava sei lá 25% em dólar estando no Brasil. Isso valia muito a pena. Isso deveria ter acabado com o final do câmbio fixo, demorou mais um tempo porque precisou manter os juros em dólar muito alto por causa da necessidade de financiar a via conta capital, o buraco das contas externas, mas hoje se você pega qual é o juro em dólar que o Brasil paga é 2%. É mais alto do que estava lá fora, agora subiu por causa dos juros lá fora.

Então, olhando pra frente a chance de você ficar com o dinheiro no CDI e ganhar muito do dólar é muito perto de zero, quer dizer esse negócio tende a estar estabilizado. É óbvio que do nível, esse negócio pode cair 4,5% num cenário positivo mas quando você pensa assim em décadas, em cinco anos, ou em um horizonte de investimento de um pouco mais longo prazo, esse negócio ele se anula. Assim, você vai ganhar os benefícios.

Tem uma terceira parte da resposta que é a seguinte: mesmo que a gente ache, e eu sou um grande defensor disso que investimento no exterior tem que estar em moeda forte e as pessoas não deveriam comparar isso com CDI. Tem que considerar: ó isso aí eu comparo em retorno em dólar porque é uma locação estrutural. Mas,a gente sabe que não é assim então todos os nossos produtos, a gente tem também a versão hedgeada.

Das estratégias que vocês oferecem hoje qual a que tem performado melhor?

Cao: São todos caras de muita referência no que fazem. E assim, cada cara tem um objetivo de retorno diferente. Lembra que isso aí são cinco gestoras, né? Não são estratégias. Tem gestoras aí que tem quatro estratégias. Tem bolsa, tem multimercado, tem risco premium, esse tipo de coisa. Então é meio como comparar banana com laranja e esse ano particularmente, tem um dado que talvez o pessoal não saiba, uma medida boa do beta geral. Se alguém te perguntar: como é que está o mercado? Qual é o mercado? Se for p dólar está assim e tal. Mas assim, o beta, que é aquele portfólio clássico que você compra sessenta de bonds e quarenta de ações. Que dá uma ideia de que estou comprado como se fosse um resumo do comportamento de ativos financeiros em 200 e tantos anos, primeiro semestre de 2022 foi o segundo pior da história. Duzentos anos. Então você imagina que em duzentos anos deve ter tido guerras, revolução, crash e foi o segundo pior.

Então de forma geral os portfólios são os portfólios são “long-only” que é a maioria desses portfólios que a gente tem, que são as estratégias que focam em bolsa e crédito e estão performando em níveis nominais muito mal, porque não tem como escapar, agora em relação aos seus específicos competidores, a maioria está indo bem, o que não ajuda porque no fundo isso é outra barreira educacional aí que realmente não tem jeito. A performance nominal acaba chamando muita atenção, né? 

Quais são os próximos passos para a Gama? 

Cao: Acho que dois pilares nossos aqui são: a execução, essa parte de ganhar esses mandatos e transformar eles da melhor forma possível dada a regulação brasileira pra gente realmente espelhar a estratégia lá fora e ficar realmente um casamento perfeito.

Uma parte muito forte educacional, que é a turma de marketing, a turma de RI, a turma de imprensa para realmente espalhar a informação em relação a essas estratégias, a importância de se ter diversificação e o principal é ir ampliando essa grade com parceiros desse tipo.

A gente em breve, muito em breve mesmo está fechando esse fundo da KKR que é um gigante de Private Equity, um fundo super legal e temos mais duas estratégias esse ano, uma em private equity mais venture capital que vai ser muito legal e que a gente provavelmente vai ser um diferencial no mercado, em que a gente está tentando trazer uma estratégia de private equity hedgeada, que é uma coisa super complicada do ponto de vista da execução, mas a gente está trabalhando muito em cima disso. 

Tem mais um parceiro estratégico de gestão de bonds internacionais e sempre nesse trabalho de procurar esses caras que a gente acha que agregam na carteira de investimento de qualquer um. A nossa ideia é que essas gestoras que a gente traz, o cara pode até não querer investir, mas ele vai ao menos dar uma olhada.