Em conversa com a BP Money, Nilse Querino, médica infectologista, falou sobre a vacinação contra a covid-19 no Brasil, a perspectiva de “volta ao normal” e muito mais.
Além de médica infectologista, Nilse é professora de microbiologia da UFBA, Mestra em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela UNIFESP, São Paulo e Doutora em medicina pela Freie Universität de Berlim, Alemanha.
Confira a entrevista completa:
O que significa vacinação em massa? E quais são os seus efeitos na sociedade?
A vacinação em massa significa tentar abranger o máximo de pessoas, principalmente as pessoas mais sucessíveis, com uma cobertura vacinal. Essa vacinação em massa terá impactos diretos no controle das epidemias.
Na sua opinião, como está o andamento do processo de vacinação contra a covid-19 no Brasil?
Infelizmente houve um atraso, por parte dos governantes, no entendimento da gravidade e do tempo de evolução que essa doença está nos submetendo. Então o atraso na aquisição de vacinas fez com que, hoje, ainda não tenhamos alcançado o mínimo necessário.
Apesar do atraso em toda a logística de vacinação, pois a princípio, o governo não priorizou o uso de vacinas para controlar a disseminação do vírus, a vacinação, nesse momento, tem avançado.
Na minha opinião, vacina é fundamental sim. Apesar de não ser tudo, pois os cuidados para evitar aglomerações, o uso de álcool em gel e utilização de devem ainda continuar por um tempo.
Algumas vacinas contra a covid-19 causaram efeitos colaterais graves, gerando uma certa tensão na população. Quais medidas podem ser tomadas para evitar essa tensão?
Evidentemente os efeitos colaterais graves e que levam a óbito, podem acontecer com qualquer medicação e isso inclui a vacina. Isso não é só prerrogativa das vacinas. Mas nós precisamos ver o que está acontecendo com essas vacinas, pois comparando o número de pessoas que adquirem complicações com a vacina com a quantidade de pessoas que tem complicações com a covid-19, a vacina ganha fácil. Ou seja, as milhares de doses e a capacidade e proteção de evitar doença grave e morte está muito bem demonstrada quando comparamos com a quantidade de pessoas que, eventualmente e infelizmente, tenham apresentado alguma reação grave à vacina e inclusive ido a óbito. Isso é muito claro quando comparamos com o número de pessoas que não tomaram a vacina, desenvolveram a forma grave da doença e foram a óbito. Então, para concluir, é preciso esclarecer isso a população, deixar bem claro as vantagens de tomar a vacina e as desvantagens de não se proteger da doença.
Mesmo após tomar a vacina, o indivíduo pode se contaminar e transmitir o coronavírus?
Sim, é verdade. Mesmo após se vacinar, o indivíduo pode se contaminar e, apesar de não desenvolver a doença de forma grave, eventualmente transmitir o vírus para outras pessoas. Por isso, é recomendado ainda a manutenção do uso de máscaras, para que o outro, que ainda não está vacinado, possa ser protegido.
Porém algumas vacinas, como a da Pfizer, vem mostrando ser uma vacina que não só protege da forma grave, mas também está reduzindo os casos em que o portador assintomático transmita o vírus.
Com o avanço da imunização, qual a perspectiva de volta ao “normal” no Brasil?
É muito difícil dizer qual a perspectiva real de volta, porque todo o atraso da vacinação pode impactar no surgimento de novas variantes, que é o que queremos evitar. Mas se nos basearmos por Israel, como exemplo, onde a vacinação em massa ocorreu de uma forma bastante eficaz, Israel agora já está com o seu comércio normal e inclusive, tirando o uso de máscaras. Isso porque a vacina mostrou uma eficácia elevada, que refletiu na redução no número de casos de infectados com a covid-19.
A única perspectiva que nós podemos pensar para o Brasil é com o avanço da vacinação, para que chegue a cobrir, pelo menos, 70% da população. O que não é fácil e não é para os próximos meses.