Por meio de um processo de seleção que passa por cinco etapas, a Atmosphere Capital busca analisar empresas listadas em países desenvolvidos. De acordo com Alexandre Cruz, gestor da Atmosphere Capital, em entrevista exclusiva ao BP Money, o foco do processo de gestão está em reduzir possíveis assimetrias de informação e aproveitar o desenvolvimento do mercado no exterior para gerar retornos positivos aos cotistas.
Baseado nessas premissas, o gestor cita algumas das empresas selecionadas pelo time de gestão da companhia, com foco em temas como inflação, reindustrialização do Ocidente e transição energética.
“Na temática de indústria, temos a Lockheed Martin, uma empresa de defesa que faz o F-35, que é o grande caça da Otan”, disse Cruz. “No setor de saneamento, falamos de American Water e Waste Connections, que são as duas empresas que mais gostamos. Na questão de transição energética, nós temos a Air Products, que é uma empresa que faz gases industriais e são essas empresas que já dominam o processo do hidrogênio e investem bastante nisso”, completou.
Confira as melhores partes da entrevista do BP Money com Alexandre Cruz, da Atmosphere Capital:
Como a Atmosphere Capital surgiu?
Acho que podemos começar falando do Felipe que é quem concedeu o modelo da Atmosphere. O Felipe Mattar [CIO & Portfolio Manager] fez a carreira dele lá fora e teve muita exposição aos hedge funds americanos, em uma época em que essa indústria vinha evoluindo.
Se você voltar 15 anos atrás, a indústria era feita de produtos de long only. Era apenas um produto para analisar se uma empresa é boa, se é ruim e tal, mas você não tinha essas coisas mais estruturadas. Vendo isso, decidiu se dedicar e pegar a equipe sênior dele e juntar essas inteligências para montar produtos estruturados. Então, isso aqui é uma exposição grande pra começar a entender que esse é um produto sofisticado, esse é um produto onde eu quero ter o meu dinheiro.
Então, com esse produto sofisticado foi matutando essa ideia e, no momento em que ele entendeu que deveria alterar a carreira dele, ele montou um negócio para o dinheiro dele e, posteriormente, vender ela pro mercado e, principalmente, montar um processo.
Atualmente, a Atmosphere é composta por executivos com anos de experiência no mercado financeiro e gestão de times de alta performance.
Como funciona o processo de seleção de ativos?
Quando você fala, poxa, eu vou olhar globalmente. O que que eu quero olhar globalmente? Se eu decidir olhar tudo, eu vou fazer tudo mal. Então, a ideia da Atmosphere é falar “poxa, a gente precisa entender o que que a gente consegue fazer bem”.
Conhecemos profundamente a cadeia de gestão de resíduos, a cadeia de infraestrutura, a cadeia de energia, por exemplo, e essa cadeia de energia, que é a mais ampla, que ela vai desde as energias convencionais que a gente tem hoje, petróleo, gás, até a energia do futuro, que é o hidrogênio, a bateria de lítio, ou seja, essas coisas que elas são fontes energéticas daqui há trinta anos. Além disso, também observamos a cadeia da economia circular, a cadeia industrial e de materiais.
Ou seja, por mais que eu olhe só cinco cadeias produtivas, essas cinco cadeias são muito amplas. Então, eu não preciso ficar olhando, me concentrar no que eu não preciso me concentrar. Eu posso me concentrar em fazer uma carteira buscando retornos absolutos.
Nessa primeira fase, a gente coloca um outro filtro que é importante que é um filtro de liquidez para que a gente não fique amarrado. Nosso universo não tem papéis que negociam menos de US$ 25 milhões por dia.
Com essa liquidez mínima, dá um universo de quatrocentas empresas, que é um universo bem grande e que a gente não vai olhar a totalidade dessas empresas também. Será que faz sentido olhar de fato quatrocentos papéis? Não faz sentido, mas desenvolvemos um processo onde a gente coloca indicadores micro, comparações, pesos diferentes, etc, para que possamos olhar os indicadores, comparados com os parecidos, me chamam a atenção para um case. E quando temos essa junção dos dados de 400 empresas e a empresa contra ela mesma, aí passamos a olhar mais de perto.
Então, do universo de 400 empresas, passadas por esse funil, elas se transformam em 60. E essas eu consigo analisar com bastante qualidade. Então essa é a primeira parte.
-E a segunda parte?
Aí é um trabalho de análise que todo mundo conhece.Entender o modelo de negócios, o que foi para trás e o plano de negócios para frente. Também olhamos o que cada CEO entregou, por exemplo, dado que a SEC preserva os documentos de entrega. Então é bom para pegar o tracking da pessoa. Ouvir, às vezes, um call de resultado do terceiro trimestre de 2016 talvez não faça sentido, mas se precisar eu tenho armazenado. Então fazemos um trabalho de research normal e vamos analisar se queremos ter o papel ou não.
Quando terminamos a fase dois do veredito da empresa, entramos na fase três, que é o timing. O pós-covid, que apesar de não ter acabado, tem cenários que vieram da pandemia. Cadeias de microchips se romperam, então uma empresa que dependa muito de materiais chineses não vai ter um resultado bom neste trimestre. Será que é o melhor momento para eu ter esse papel? Podemos esperar um pouco ou eu quero ter esse papel agora? Então pensamos se é o momento de estar com essa ação ou não.
Já a fase quatro é atribuir os pesos. Ou seja, como falei, saímos de um universo de 400, para 60, para ter cerca de 25 na carteira. E precisamos entender como ela conversa entre si, já que não adianta eu ter papéis que passaram por todos os filtros, mas ter 100% da carteira com papéis muito correlacionados entre si. Por isso, olhamos para pesos e correlações para montar as posições. Usamos muito ETF, principalmente para proteção.
-Isso tudo lá fora. Tem algum motivo para não observar as ações brasileiras?
As ações que olhamos não dão o tracking de US$ 25 milhões de liquidez diária. Além disso, dentro do projeto, gostamos de operar mercados desenvolvidos.
Outro ponto é para reduzir a assimetria de informação. O que é isso? Em mercados não desenvolvidos, você tem muita informação de corredor e, se for para trabalhar com isso, você precisa estar nesse corredor. Então, quando decidimos olhar para mercados desenvolvidos, optamos por estar fora de qualquer corredor.
Dá para dizer que nos EUA isso não existe? Não. Mas, a gente tem exemplos até empíricos que na temporada de resultados, 15 dias antes o papel sobe. Aí a empresa solta o melhor resultado da história, e o papel cai. O mercado antecipa? Mas por que o Facebook caiu muito quando soltou um resultado ruim? São coisas que mostram que há uma assimetria de informação menor.
Então, eu jogo no mesmo campo que os caras quando eu olho para fora. Então, por isso é que não olhamos China, por exemplo, somos focados em mercados desenvolvidos, como EUA, Austrália, Canadá e Europa ocidental.
Também tem uma questão de governança. Aqui no Brasil temos dois perfis: estatal, subsidiária de empresa estrangeira e empresa de dono. Se você parar para pensar, quantas corporations, tratadas como corporations, existem? São poucas.
Fala-se muito de ESG hoje, mas o pilar de governança muitas vezes é esquecido. Por isso focamos em mercados desenvolvidos pois temos mais essa clareza sobre esses pontos.
-Dentro dos setores, vocês têm um setor mais representativo?
Os setores pelos quais eu tenho uma preferência, é uma preferência de hoje. Procuramos fechar as cinco cadeias de produção e, hoje, os principais temas são inflação, reindustrialização do Ocidente e transição energética.
Inflação é um tema mais de curto prazo, transição energética é para 20 anos e reindustrialização do Ocidente também é algo de longo prazo.
Então, por exemplo, para me proteger da inflação, temos olhado para empresas do setor de gestão de resíduos e saneamento, que são bastante protegidas, com contratos longos e com o repasse das altas.
Olhamos, por exemplo, a tecnologia industrial. Não olhamos o Facebook. Mas aquela empresa que produz um drone pequeno, que pode operar no agronegócio, satélites, tecnologia de defesa, e dentro desses temas, isso é muito importante.
Já olhávamos o setor de defesa, por exemplo, e tentamos aumentar a exposição. Eu tinha um cenário, e se o mundo investir mais em defesa, a companhia vai crescer mais e só por aí você já justifica continuar nessa tese.
-Quais são as principais empresas escolhidas, dentro desse racional de vocês?
Até por construção, não gostamos de posição muito pequenas. Na temática de indústria, temos a Lockheed Martin, uma empresa de defesa que faz o F-35, que é o grande caça da Otan. Ela é uma montadora e também fornece para outros.
No setor de saneamento, falamos de American Water e Waste Connections, que são as duas empresas que mais gostamos.
Na questão de transição energética, nós temos a Air Products, que é uma empresa que faz gases industriais e são essas empresas que já dominam o processo do hidrogênio e investem bastante nisso.
A Vistra é uma indústria de energia, mas não convencional. No Texas, você, por exemplo, pode escolher de quem comprar a energia e essa companhia tem o cliente e vende uma energia 100% limpa. Então o cliente paga o poste para a concessionária, e compra a energia dele, pagando prêmio por ser limpa ou só reduzindo o consumo de luz.
Bunge também é uma empresa ligada ao setor agro. Apesar de ser commodities, o valor logístico que ela entrega tem uma inteligência para essa traders e eles têm essa vantagem competitiva para ser uma outra queridinha.
No setor de químicos tem uma empresa que se chama Darling Ingredients que é uma mistura de transição energética com economia circular.
-O fundo é aberto para quem?
Pela exposição no exterior, o fundo é destinado para investidores qualificados. Estamos no BTG, também estamos na XP via escritórios, em um ticket de R$ 5 mil para quem pensa em diversificar a carteira. O fundo tem hedge, então não sofremos a oscilação do dólar e quem quer diluir o risco de estar tudo no Brasil e não quer mandar dinheiro para fora, nós conseguimos dar exposição à economia global da próxima década.