Vai ser no crédito ou na ação? Não, não estamos em algum bar pagando com um cartão com cashback na Bolsa de Valores, mas sim falando de uma das estratégias que tem se tornado a favorita dos gestores do mercado. A Ouro Preto Investimentos colocou suas “fichas” nessa área, tem dado certo e a previsão dos sócios é de melhorar ainda mais.
Com mais de R$ 7,5 bilhões sob gestão, a Ouro Preto possui 110 fundos de investimentos, que estão distribuídos da seguinte forma: 23 fundos Multimercados e FIC FIM (Fundo de Investimento em Cotas de Fundos de Investimento Multimercado); quatro fundos imobiliários; um fundo de Renda Fixa; um fundo de ações; 77 fundos de FIDC’s (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios); e quatro FIP’s (Fundo de Investimento em Participações).
João Baptista Peixoto Neto, fundador e Diretor Presidente da Ouro Preto Investimentos conversou com o BP Money e explicou a tese por trás da preferência por FIDC’s. A empresa foi a 89ª colocada no ranking de janeiro de 2022 da ANBIMA de gestoras de recursos dentre um conjunto com mais de 600 instituições associadas. Apenas no primeiro semestre de 2022, a Ouro Preto transacionou R$ 10 bilhões em operações de crédito. Confira a conversa com o sócio da gestora:
BP: Como surgiu a Ouro Preto e quais foram os desafios até agora?
A Ouro Preto acabou surgindo da experiência de dois sócios. Sou eu [João Baptista Peixoto Neto] e o Leandro Turaça. Ele vem mais do setor tradicional de fundos e é um cara que estudou física, economia, mas trabalhou em fundo de pensão. Então, ele vem de uma área dos fundos tradicionais: que é fundo de renda fixa e fundo de ações. Eu vim do mercado de fundos estruturados. Fiz muitos fundos estruturados como advogado, também estudei economia, mas trazendo mais a parte de direito mesmo.
E o nosso foco hoje está nos fundos estruturados especialmente em fundos de crédito FIDC’s, tá?. Embora a gente tenha fundos aí de todas as classes, acabou que estamos mais especializados em fundos de crédito, que é um negócio que a tendência é cada vez mais que o mercado de crédito deixe de ser exclusivamente um mercado bancário, um mercado restrito a bancos e financeiras, e vá para o mercado de capitais, principalmente por intermédio de operações de FIDC’s, CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRA (Certificados de Recebíveis Agrícolas), FiAgro (fundo focado no agronegócio), fundos imobiliários. Isso aí é uma coisa que existe há um certo tempinho, então acho que ainda mal está começando esse mercado de securitização de créditos.
O que é securitização de créditos?
É você emitir valores mobiliários, você lançar no mercado de capitais, valores mobiliários lastreados em crédito, em carteiras de crédito. Isso é a nossa especialidade, já há um número de gestoras atuando nessa área mas a gente está entre os pioneiros na questão de fundos de crédito.
Então a gente tem aqui FIDC do quinto andar, FIDC de várias fintechs (empresas de tecnologia e serviço financeiro, na tradução) e FIDC’s de todas as estratégias de crédito que você imaginar. E se você pensar, vai perceber que o crédito é de longe um dos maiores mercados para se investir. Ele é bem maior do que o mercado de equity (capital privado, na tradução), por exemplo, na comparação com o mundo todo. Tem muito espaço para investimentos nessa área. Ela mal está começando. E o FIDC permite qualquer espécie de crédito e que você coloque ali qualquer carteira de crédito. Recentemente, saiu um um marco da securitização, uma lei nova que também vai permitir que você emita uma variedade muito grande de papéis de securitização, ou seja, um certificado de recebíveis que vão estar lastreados com outros certificados de recebíveis, sejam recebidos imobiliários ou conteúdos agrícolas e existe uma série de outros certificados.
Por que adotar essa estratégia com o atual momento do mercado?
Acredito que o mercado de ações teve uma bolha, uma “super bolha” no mercado norte-americano e no europeu, com criptomoedas e questões imobiliárias. E nós estamos ainda no começo dessa crise na minha opinião, embora já tenha registrado uma queda elevada no S&P, Dow Jones e Nasdaq, ele ainda vai cair muito porque já existia uma bolha em 2018 e com a pandemia ela aumentou. Teve uma grande valorização aí de todos os ativos, tanto é que é falado chamado pelo Michael Burry, do filme “A grande aposta”, entre outros economistas conhecidos aí no mundo que nós estamos vivendo a bolha de todas as bolhas, uma “mega bolha”. Que nada mais é do que a valorização dos ativos e que não corresponde ao crescimento econômico da realidade.
E vai ter que ter um ajuste aí. E esse ajuste é uma super desvalorização desses ativos como ocorreu em 2008 e como ocorreu em 2001, né? Foi o estouro das “.com” em 2001, foi o estouro da bolha em 2008, com a supervalorização dos dos imóveis e das ações também e, de novo, e a gente tá aqui quase virando um negócio cíclico e que ocorre de dez em dez anos. E dessa vez a gente não sabe o quanto isso vai ser ruim para a economia e estamos ao mesmo tempo vivendo outros dramas, como a guerra da Ucrânia e a falta de energia na Europa. Então a gente está prestes a uma recessão mundial.
A China desacelerou, as economias latino-americanas aí elas estão com políticas sem compromisso fiscal, com a esquerda tomando vários governos na América Latina. São governos gastadores e sem um compromisso fiscal. Basta ver o que está acontecendo com a Argentina. Aí você tem uma Europa com uma dificuldade financeira grande por conta do problema da energia, da energia russa. O motor da economia europeia, todo mundo sabe, é a Alemanha, que com certeza vai sofrer muito nessa fase. A indústria alemã está sofrendo muito com esse problema de energia, e isso vai gerar provavelmente uma crise na Alemanha e coincidentemente a gente está vivendo essa bolha de ativos.
A Europa com certeza está em maus lençóis no foco da guerra. Depois, você vai pegar toda uma área gigante do planeta, a Rússia, que com as sanções não vai crescer obviamente. E nos EUA também existem pessoas que dizem que vai ter uma recessão, então a gente tem que tá preparado pra isso e esperar que a gente sofra o menos possível. Com certeza a gente vai sofrer um pouco e hoje o pessoal tá indo para aquilo que sempre foi o Porto Seguro, que é a Renda Fixa e o Título Público.
Como tem sido a performance dos fundos?
Os nossos fundos vão muito bem porque são fundos de crédito privado que pagam bem acima do CDI. Então, quer dizer, são créditos, são fundos que dão bem acima do CDI. Então, enquanto todos os fundos estão sofrendo, principalmente os fundos multimercados, com as bolsas em todo o mundo, a gente está indo muito bem porque a taxa de juros se elevou. Essa taxa de juros está bem superior à inflação. E a gente consegue dar para o investidor bem mais até do que o CDI.
Nós estamos estamos excelente. O risco é se houver uma recessão muito forte, se tiver uma inadimplência muito forte, o que traz um risco de crédito claro. Mas, essa nossa experiência em momentos difíceis da economia, como foi a pandemia, que a gente conseguiu passar muito bem, nos traz a segurança de que vai dar tudo certo. Hoje estamos na verdade recebendo muito investimento.
Quais são as previsões para a Ouro Preto?
Estou prevendo que a gente vai crescer muito em patrimônio sob gestão e vai crescer muito em números de fundos, por conta dessa transformação que está acontecendo no mercado de crédito e no mercado de capitais, que é esse aumento de operações de crédito privado. Ou seja, a possibilidade de novos instrumentos para operações de crédito privado que no passado não existiam. Hoje você tem FIDC, FiAgro, que é uma coisa de um ano e pouco e é voltado pro agronegócio, que representa 33% da economia. Então só com ele você já abre todo o mercado de capitais, passando a financiar as operações de crédito agrícola. O CRA, por exemplo, mal começou as operações certificadas de securitização agrícolas. Todo o mercado imobiliário nos EUA é securitizado. Todas as operações de crédito imobiliário nos EUA, acabam virando papéis que são vendidos ao mercado de capitais. No Brasil isso ainda representa um valor muito pequeno e isso ainda vai crescer muito.