
O envelhecer tem se tornado uma preocupação cada vez mais recorrente dentro do Brasil, não apenas pela perspectiva de que há um futuro em que existem mais idosos do que crianças, mas por uma mudança que já está sendo percebida.
As Projeções de População do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, de 2000 para 2023, a proporção pessoas com 60 anos ou mais quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. O instituto projeta que, em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do país serão idosos, o que corresponderá a 75,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade.
Diante deste cenário, é importante que a população se prepare financeiramente para ter uma aposentadoria confortável financeiramente. Em entrevista ao BP Money, Edval Landulfo, economista e vice-presidente do Corecon-BA, falou sobre como utilizar os investimentos para se organizar para a velhice.
Uma pesquisa recente da CVM revelou que a maior parte dos investidores têm a formação de reservas para aposentadoria como principal objetivo. A que você acha que se deve essa tendência? Ela veio para ficar?
Hoje há uma uma preocupação recorrente, principalmente aquelas pessoas que detém algum tipo de conhecimento, aquelas pessoas que têm também um grau de instrução e que percebe que a aposentadoria paga pelo sistema do INSS não será suficiente para manter o padrão de vida quando a pessoa deixar a atividade de trabalho e procurar o descanso.
Vai deixar a vida laboral para poder se dedicar a um hobby ou uma vida mais tranquila e percebe que o INSS existe um teto, e esse teto não corresponde ao valor do salário hoje recebido. Então, bate essa preocupação.
A gente observa que as pessoas que começam a investir já têm mais de 40, porque muitas vezes já foram alertados e outros que já têm acima dos 50, ou pior, dos 60, preocupado como vai ficar essa aposentadoria por não ter feito anteriormente um plano de previdência, seja ela privada ou investimento em renda fixa.
Há essa preocupação, mas ainda é mais de homens brancos com uma certa instrução maior, do que as mulheres, do que os homens pretos e pardos as mulheres [pretas e pardas] também. Isso é preocupante.
Qual é a idade ideal para começar a pensar na aposentadoria?
Eu acredito que as pessoas deveriam já ter esse acesso na sua adolescência, independente se a pessoa será assalariada, se vai trabalhar no serviço público ou privado ou pensa em abrir uma empresa, já tem que fazer planos para aposentadoria.
Então, a partir do momento em que a pessoa receba o seu primeiro salário, já tem que fazer, mesmo que seja ali um pouco. Eu gosto de estabelecer percentuais, cada um vai determinar o seu, por exemplo, pode começar com é 5% para reserva de emergência, 5% para reserva de oportunidade, 10% para aposentadoria, ou seja, nesse contexto daí, 20% só de reserva, independente do salário.
Então, independente se vai ser um salário mínimo, se vai ser dois, se vai ser três, cinco, a partir do momento em que você vai aumentando seu salário, esses percentuais também aumentarão. E isso é muito importante.
Os jovens precisam ser alertados para quando começar ali a sua fase adulta de trabalho, pós-faculdade, a partir dos 20, 22, 23, já comece a ter esse hábito de separar e fazer o investimento pensando nessas reservas.
O que deve ser levado em consideração? Tem um valor mínimo necessário para ser atingido?
O que deve ser levado em consideração é estabelecer objetivos, prioridades. “Qual será o objetivo dessa reserva de aposentadoria? Para tirar com quantos anos? Qual o valor que a pessoa pensa em retirar?”
Tem que fazer um plano de aposentadoria. Qual o valor inicial que ele vai fazer, se vai ter aumento quando os salários tiverem esses percentuais de crescimento. Se vai ter aporte, se quando a pessoa receber 13º, férias, se vai colocar valores para que esse bolo cresça. Tem que fazer todo esse trabalho de planejamento financeiro para entender como será colocados esse dinheiro. Identificar o perfil dessa pessoa é muito importante: se possui um perfil para investimento, se é uma pessoa que tenha uma certa tolerância ao risco.
Então, se tem um grau mais elevado de tolerância e ver quais seriam os melhores investimentos, começar pela renda fixa que vai dar aquela proteção do dinheiro. Isso não impede que a renda variável também seja observada. Eu sempre falo “quando a pessoa começa a entender do mercado de ações, esse mercado de ações vai propiciar adquirir ações para longo prazo, não ações para curto prazo”, então pode ser usada assim também para as aposentadorias.
Hoje, pela renda fixa você pode começar aí com R$ 10, R$ 15, R$ 20 por mês comprando uma parte de um título público. Assim não há desculpas. As pessoas, mesmo com um salário mínimo, podem começar a investir.
Tem que desmistificar a ideia de que só quem pode fazer investimento é quem tem dinheiro ou uma certa quantia para fazer aporte e para dar aquele pontapé inicial; não é verdade.
Quando a pessoa começa a fazer dentro da sua própria casa um investimento em renda fixa através do tesouro direto, ele ou ela vai perceber essa facilidade e começa a ter o estímulo, porque tem objetivos específicos que serão atingidos a partir desses investimentos.
Quais ativos são essenciais para se investir pensando em aposentadoria?
O importante é sempre diversificar a carteira. No início, pode se investir muito em renda fixa. Então, tem que também entender o que é que tá investindo em renda fixa. Entender que o CDI, por exemplo, o certificado depósito interbancário é a base da remuneração dos investimentos. Você não investe em CDI, você investe naquele percentual de remuneração.
Você vai procurar um CDB (certificado depósito bancário), uma LCI, uma LCA – que são letras de crédito do agronegócio ou do mercado imobiliário. Mas, a pessoa precisa entender ali as especificidades dos títulos, quais pagam imposto de renda, quais não pagam e por quanto tempo. Então, o início pode ser com esses títulos.
Tem o CRI, tem o CRA, tem as debêntures… depois isso, quando vai ganhando mais conhecimento e pode começar na renda variável, ver as ações, as opções de ações.
É importante conhecer e ir se aprimorando no mercado financeiro para que esses investimentos também possam acontecer com muita segurança. Eu costumo dizer que não é interessante é terceirizar essas escolhas, a pessoa precisa aprender para tomar é as boas decisões pensando no seu futuro.
Daí tem pessoas que vão optar ou não por procurar uma seguradora e fazer um plano de previdência – não pode ser no banco – pensando nesse objetivo de ter uma remuneração no futuro que vai ser ali muito bem articulado naquele momento pelo consultor da seguradora, dizendo quanto a pessoa precisa investir naquele momento pelo salário, mas a partir do momento que o salário aumenta, tem que também aumentar essas contribuições para que no futuro o valor que será remunerado mantenha o padrão de vida.
Financeiramente falando, quais os principais cuidados a serem tomados para ter uma aposentadoria e velhice tranquilos?
Os principais cuidados são sempre os para se certificar de que o investimento que você está fazendo é seguro. Tem que ver se são aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários, por exemplo, a depender do investimento que vai fazer. Se vão fazer previdência privada, tem a SUSEP que é a reguladora, né?
Tomar muito cuidado com essas ofertas que surgem no mercado, principalmente de alguns tipos de ativo, né. Nesse momento, as criptomoedas são pegas pelos estelionatários para fazer propostas que são absurdas para quem conhece, mas com o desconhecimento o grande público acaba investindo.
Não são as criptomoedas que são ruins, porque existem mais de 5 mil criptomoedas, mas a falta de entendimento desse mercado faz com que as pessoas acreditem que terão remunerações mensais de 5%, 10%, 15%. Isso é impossível no atual mercado mundial.
Tem que ter esse entendimento, sempre buscar leituras sobre o assunto com especialistas, livros e fazer o o planejamento de acordo com as opções de remuneração.
Se eu pretendo lá na frente ter uma remuneração por 20 anos de R$ 3.000, eu preciso começar a contribuir com quanto agora e quais os valores dos aportes? Isso que não pode ser um tiro no escuro, tem que ser um planejamento com quem conhece para que possa, nesse início, fazer ali um planejamento financeiro que vai contemplar no futuro os objetivos dessas pessoas.
Imagina: se você coloca R$ 100 por mês pensando lá na frente, na aposentadoria, ter R$ 5.000 de retorno, é praticamente impossível. Então, as pessoas precisam entender como funcionam essas contribuições e como serão a as retiradas no futuro.