Em um mercado de inovação cada vez mais saturado e competitivo, a construção de uma marca sólida vai além de uma simples estratégia de marketing. Ela se tornou um diferencial estratégico fundamental, capaz de influenciar diretamente o sucesso de uma startup, especialmente no que diz respeito ao interesse de investidores.
Mas em que momento a marca começa a exercer esse impacto? Qual é a importância real da reputação na tomada de decisões durante as rodadas de investimento? Essas são algumas das questões abordadas na pesquisa que Silas Colombo, fundador e CCO, compartilhou em entrevista ao BP Money.
Silas discute como a força da marca pode moldar o futuro das startups, impactando desde as rodadas iniciais de captação até as negociações mais avançadas. Ele explora ainda como a narrativa de uma marca precisa ser construída de forma estratégica para gerar clareza e coesão, e como investidores, tanto locais quanto internacionais, percebem a relevância de uma comunicação sólida.
Confira a entrevista
Em um mercado onde “ser inovador não é suficiente”, quais características tornam atraente para investidores?
Um dado surpreendente da pesquisa revelou uma questão que é defendida há décadas por especialistas em comunicação. Para 55% dos investidores, o ponto mais importante na construção de uma marca e da narrativa, é a capacidade de dar clareza e coesão na proposta de valor.
Ou seja, nesse processo de diferenciação, onde o mercado está cada vez mais competitivo, destacam-se as marcas e negócios que têm capacidade de contar uma história que faça sentido no engajamento das pessoas, e que também consiga demonstrar porque elas existem, porque são diferentes e qual o real propósito de impacto que querem causar.
Aqui muda-se um raciocínio que parecia óbvio: ao invés de aparecer muito, é mais importante aparecer da forma certa, de modo que consigam entender de maneira objetiva a razão daquela empresa existir e quais são as ferramentas que cumprem o papel de impacto que ela gera.
Houve diferenças nas percepções de investidores locais e internacionais sobre o impacto da marca e reputação?
A visão do investidor brasileiro e do investidor internacional tem mais conexões do que diferenças, mas um número que demonstra uma percepção, talvez até pela distância e a dificuldade de visualizar na prática o impacto que aquela marca gera no mercado brasileiro, é que enquanto 68% dos investidores brasileiros defendem a necessidade de uma marca ter uma presença constante na imprensa nacional.
Esse número cresce para 89% quando a gente fala com o investidor internacional. Isso demonstra uma obviedade que é por onde eles acompanham as marcas que estão despontando aqui no Brasil.
O estudo aponta que a força da marca influencia o valuation já nas rodadas iniciais de investimento. Como mensurar esse impacto em números?
O principal ponto é a defesa dos investidores de que a marca e a reputação têm um impacto significativo no aumento do valuation das empresas. Então, quando o empreendedor inicia essa jornada de captação de aportes, ele vai ver, obviamente, que no pré-seeding esse impacto representa algo entre 10% e 12% de incremento no valor da empresa.
Mas ao passo que ele precisa captar novas rodadas com o seeding, na série A esse valor já representa um pouco mais de 40% do valor da marca. Esse crescimento no valuation a partir do avanço das rodadas, é o que deve ser acompanhado.
Obviamente, traçando um paralelo entre a performance, às vezes pré-revenue até a geração das primeiras receitas, tem que ser acompanhado, mas o incremento de marca passa de 12 para uma média de 40% do Essa exponencialidade tem que ser acompanhada a cada rodada e a cada tipo de negociação elevada em conta, na hora de negociar.
Como vocês enxergam a evolução das relações públicas no mercado de inovação nos próximos anos?
Há uma importante evolução no comportamento das empresas: antigamente, até cinco anos atrás, elas começavam a investir em relações públicas apenas durante a fase de expansão e aceleração do ganho de mercado, porque a inovação por si só já conseguia atrair uma parte significativa dos early adopters, o que ajudava a gerar a atração inicial e o capital necessário para esse investimento.
Nos últimos anos, no entanto, tem crescido a tendência de novas marcas surgirem já com o suporte estratégico de relações públicas integrado. A construção da narrativa, a distribuição da mensagem e o desenvolvimento de relacionamentos acompanham os estágios iniciais da empresa e se tornam tão essenciais quanto o desenvolvimento da equipe comercial, o pitch de vendas e a criação da cultura organizacional.
As startups estão investindo cada vez mais cedo nessa estratégia, pois ela oferece um retorno contínuo: quanto mais se investe, mais valor ela gera ao longo do tempo. E os empreendedores estão cada vez mais preparados para realizar esse investimento desde o início.
O que os dados desta pesquisa sugerem para startups que ainda não priorizam a construção de reputação?
Os dados da pesquisa sugerem um ponto cabal: quem não faz o investimento em construção de marca e principalmente reputação, está deixando dinheiro na mesa, tanto na sua capacidade de impactar o mercado e obviamente gerar usuários, consumidores e contratos, mas também estão diminuindo a sua capacidade de gerar valuations, que vão resultar em aportes, que vão acelerar de forma mais saudável o crescimento da empresa.
Esses pontos, além disso, deixam uma percepção importante para o investidor e muitas vezes até para o consumidor, que é: o que é prioridade para essa empresa não é necessariamente prioridade para o público consumidor.
E para toda a cadeia de suporte, assim como os investidores, isso deixa uma percepção de marca também, o foco não está nas pessoas, no mercado, mas principalmente na capacidade de realmente causar oimpacto prometido por aquela empresa.
Existe algum plano para ampliar ou aprofundar os temas da pesquisa em edições futuras?
O propósito da Pesquisa Nacional de Impacto das Relações Públicas no Mercado de Inovação sempre foi responder perguntas cabais para democratizar e auxiliar os empreendedores no uso efetivo das relações públicas.
No primeiro ano, a gente fez um trabalho muito preciso de mapear com as marcas que têm sucesso no crescimento de negócio por meio das relações públicas, com o intuito de expor quais são os modelos de montagem de equipe, os direcionamentos estratégicos, a dedicação de budget de marketing específico para as estratégias de RP e traçar como se fosse um manual para que essas empresas pudessem replicar esses modelos de sucesso.
Essa atualização mais macro vai ser bianual. A próxima pesquisa de 2025 vai atualizar essas informações, mas assim como esse ano, vamos também responder perguntas que há tempos estão sem respostas e consomem tanto energia quanto budget das empresas e investimentos que não trazem o retorno esperado.
Então, com certeza, intercalando com a visão macro, vamos responder às perguntas mais cabais. Muito provavelmente, a próxima mais importante vai estar atrelada especificamente com mercados de alta complexidade, como o mercado financeiro e o mercado de saúde.