Advogado, empresário e sócio fundador da Nelson Wilians e Advogados Associados, um dos maiores escritórios de advocacia empresarial full service da América Latina, Wilians bateu um papo com a BP Money, no qual falou sobre inspirações, marketing na profissão, curso de direito, política e futuro.
Leia a entrevista completa:
Para começar, gostaria que você contasse sobre o fato de ter se inspirado, lá no início, no personagem Demolidor, da Marvel. Como aconteceu isso e de que maneira te influenciou a se tornar o que é hoje?
A paixão pelo Direito veio ainda na adolescência. Lendo histórias em quadrinho do “Demolidor – Homem Sem Medo”, da Marvel. Nos quadrinhos, Matt Murdock é um rapaz comum que fica cego após um acidente, mas também passa a ser dotado de superpoderes. Quando adulto, ele se torna advogado. Acho que compartilhamos uma história de superação de prognósticos, cada um à sua forma. Sou filho de pais semianalfabetos, meu pai era um pequeno agricultor no norte do Paraná e minha mãe, do lar. Fui o primeiro da família a se formar em um curso superior. Iniciei minha carreira do zero absoluto.
Ainda no campo do pessoal, se você pudesse dar dicas a quem está começando, o que diria?
Não existe uma única fórmula para se prosperar na advocacia. Cada um deve achar seu caminho. O que podemos fazer é nos inspirarmos em alguém ou em algo. A minha trajetória dificilmente poderia ser repetida. O mundo passa por uma grande revolução tecnológica, que transformou e continuará a transformar o nosso modo de atuar e de se relacionar. Então, o que deu certo pra mim pode não dar certo hoje pra você. A mensagem que posso deixar aos futuros operadores do Direito é: especializem-se; inovem; estejam atentos à revolução digital e às oportunidades. Mas, sobretudo, tenham coragem, resiliência e planejamento.
Como você avalia a questão do marketing de escritórios e advogados? O que o senhor acha das regras que limitam essa exposição em meios de comunicação?
A OAB é de vital importância para o Estado Democrático de Direito quando ela representa, de fato, a força da advocacia na defesa dos preceitos legais e no fortalecimento da classe. Porém, minha percepção é que, ao longo dos anos, ela tem perdido muito de sua relevância institucional para a valorização da advocacia.
Após longos debates, a publicação do tão esperado Provimento — que disciplina, em síntese, a publicidade e o marketing jurídico — gerou indisfarçáveis frustrações na classe. Veio algo com transformações modestas a meu ver. A tão esperada modernização das regras e a necessária adaptação aos tempos modernos – necessidade acentuada pelo massivo uso dos meios tecnológicos em decorrência da pandemia do Coronavírus — aconteceram de forma tímida e aquém do dinamismo exponencial vivenciado.
Bom, já foram feitas grandes campanhas publicitárias do seu escritório, mas em agosto uma delas acabou sendo notificada pelo conselho de ética da OAB paulista. Qual sua visão sobre isso e como está o caso? Em primeiro lugar é preciso deixar claro que se tratou de uma homenagem ao mês em que se comemora o Dia do Advogado, sem qualquer outra conotação. Na homenagem contamos parte da história da advocacia por meio de cartuns informativos criados por um dos maiores cartunistas vivos do País (Laerte Coutinho). Por outro lado, fazemos parte da OAB e aceitamos as orientações da Ordem. Em nenhum momento tivemos a intenção de captar clientes como fora alegado. Para nós essa forma não funciona. Nossos clientes são, na maioria das vezes, indicados. Não há nenhuma referência que dê essa conotação de captar clientes nas homenagens aos advogados que fizemos. Em uma enquete realizada pela Jurisnews, 86% dos participantes, a maioria advogados, não viram nenhuma infração na publicação. Portanto, acreditamos que estamos atuando dentro do código de ética da Ordem.
Falando diretamente sobre a advocacia, o curso de direito vem há algum tempo sendo sempre um dos mais procurados. Como você vê essa profissão para os próximos anos? Teremos um mercado muito inchado de advogados? Ainda nesse gancho, quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, então como você analisa essa questão?
Segundo o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) aproximadamente 900 mil alunos se matricularam em cursos de Direito em 2021. O Brasil possui 1.240 cursos superiores de Direito. Com esse número, o país se consagra como a nação com mais cursos de Direito do mundo. A soma total de faculdades de direito no mundo chega a 1.100 cursos.
Por essas razões, é vital dialogarmos sobre a adequação na formação universitária para os operadores do direto estarem aptos frente à nova dinâmica de negócio. As faculdades de Direito precisam se conscientizar que, para manter-se relevante, o advogado precisa ser holístico, e isso demanda disciplina e diálogo com outras ciências. Afinal, como formar profissionais com um novo perfil ensinando as mesmas disciplinas e incentivando as mesmas habilidades? As Faculdade de Direito devem conscientizar-se em “alfabetizar” os estudantes sob a nova semântica social.
É inegável o reconhecimento do seu trabalho e isso não é unanimidade apenas no meio em que você trabalha. Onde você se vê chegando ainda? O que almeja que ainda não foi possível conquistar?
Em duas décadas, nosso escritório se expandiu, foi para diversas capitais do país. Crescemos em tamanho, em números e importância. Fomos para diversos países da América Latina, Ásia e Europa. Nos tornamos o maior escritório do país e modelo de uma nova advocacia. Meu mérito foi montar um grande time de profissionais apaixonados pelo que fazem e que são felizes aqui, pois, desde o início, a maior preocupação era não apenas o foco no trabalho em si, mas também em compartilhar os resultados obtidos criando satisfação pessoal e profissional.
Para tanto, adotamos políticas estratégicas de desenvolvimento interno, buscando novas expertises no ramo jurídico, que nos têm permitido desenvolver novas áreas, novas formas de atuação e ampliação programada de nossa estrutura para alcançar uma vantagem competitiva sustentável. Mas ainda que bem-posicionada hoje, toda empresa está vulnerável ao declínio, tornando-se obrigada a rever permanentemente tradição e processos e refletir sobre sua missão. Isso é posicionamento, é estratégia geral de negócios, é desenhar o futuro para se manter competitivo e relevante. O exemplo vale para todas as áreas, inclusive para a minha, a advocacia.
O cenário político tem fervido em decorrência das propostas de reformas, como a tributária e a administrativa. O senhor tem acompanhado? Se sim, como vem avaliando tudo isso?
Não é preciso ser economista para saber que a inflação afeta em proporção desigual e impiedosamente aqueles com menor poder aquisitivo. Precisamos urgentemente combater o dragão da inflação, disso não há dúvida. Porém, além de estimular a baixa dos preços e o crescimento econômico, devemos nos guiar para construir uma nova realidade, que passa, necessariamente, por uma reforma política. Num contexto mais amplo, a reforma política deve reparar o próprio processo de tomada de decisão, alicerçado nos princípios democráticos, e, obviamente, ser a base para novos sistemas institucionais. A Reforma Política não possui uma única frente, mas deve ser sim a primeira de todas as reformas, para garantir a democracia, fomentar a participação e incluir projetos verdadeiros de mudança social. Porém, que seja uma discussão feita por toda a sociedade brasileira. A Reforma Tributária patina e, quando vem, ocorre aquém do necessário.
Com o bom andamento da vacinação, tudo parece crer que estamos enfim vencendo a pandemia. Passando por esse cenário, quais às suas perspectivas para o futuro, seja no lado pessoal como também no profissional?
Uma das grandes riquezas do homem é a capacidade de se impulsionar acima de si mesmo para derrubar barreiras e limitações históricas. A pandemia trouxe para o presente as projeções que as empresas delinearam para o futuro, porém, sem embutir no cálculo o tamanho do desastre atual. Após o traumático período de sobrevivência, as corporações buscam o amadurecimento dentro do novo normal. Sendo otimista, essa é uma boa oportunidade para projeções e para se desenhar uma nova história de sucesso. Concordo com os que entendem que os líderes não têm escolha a não ser acelerar o ritmo da mudança organizacional, criar mercados e valor exponencial de longo prazo. A mudança com a pandemia foi inevitável, a transformação agora deve ser uma escolha consciente.