Em conversa com a BP Money, o sócio da Athena Capital, João Medeiros, falou sobre as dinâmicas do Grupo Mateus (Gmat3), destacou os diferenciais da empresa e explicou como o auxílio emergencial impactou o setor.
Confira a entrevista na íntegra:
Qual é o grande diferencial do Gmat3 quando comparado aos seus principais peers?
O grande diferencial do Grupo Mateus foi ter criado um modelo de negócios que misturou o segmento de Distribuição, Atacarejo (ou Cash & Carry), Supermercados/Hipermercados, Formato Camino [uma espécie de mini Atacarejo] e o segmento de Eletro. Com isso, conseguiu criar rotas logísticas densas o suficiente para operar em cidades do interior, com boa rentabilidade e com nível de serviço diferenciado, oferecendo açougue, panificação, peixaria e frios, por exemplo. O resultado é que a competição para o Grupo Mateus, em sua maior parte, é o mercado de bairro e não as grandes redes Nacionais, como Assaí (Controlada pelo Grupo Pão de Açucar) e Atacadão (Controlada pelo Grupo Carrefour), que operam principalmente nas grandes cidades e sem entregar todo o serviço que o Grupo Mateus entrega.
Como funciona a dinâmica de margens do setor?
O Mateus trabalha com margem EBITDA de 8% versus aproximadamente 7% do Assaí e um pouco abaixo de 8% no caso do Atacadão. A maior parte da margem se dá por três motivos, principalmente: o benefício fiscal concedido pelo estado do Maranhão, o maior nível de serviços nas lojas (exemplo: açougue e panificação) e o posicionamento em cidades do interior, onde existe menos competição.
Com a chegada do auxílio emergencial, como ficou a situação nesse setor? E qual será o impacto do novo auxilio?
O auxílio emergencial certamente foi positivo, mas é difícil quantificar seu impacto em vendas. O que conseguimos ver era que, pela métrica de “vendas mesmas lojas” [o famoso SSS], o patamar de crescimento de aproximadamente 5%aa que a empresa vinha apresentando passou para +12% no 2º trimestre de 2020. Alguns outros motivos contribuíram para a aceleração de vendas, entre eles a inflação de alimentos, que chegou a rodar próxima a +20% no ano. O próximo auxílio deverá mais uma vez ter impacto positivo em vendas, porém menos relevante que o impacto de 2020.
Em relação ao P/E de 18x do GMTA3, esse múltiplo não estaria mais caro quando comparado ao ASSAÍ um dos principais concorrentes e com vias de crescimento semelhantes?
Enxergamos o Grupo Mateus negociando a 18,2x seu lucro esperado para o ano de 2021 (vs 17,3x no Assaí). O prêmio é merecido por enxergarmos maior potencial de crescimento nos próximos anos e por este posicionamento em cidades de menor porte no interior do país, protegendo a rentabilidade do grupo . Este é um ponto relevante especialmente por se tratar de um segmento onde as margens operacionais são muito baixas. Ainda vale ressaltar que ter um controlador do calibre do Sr. Ilson Mateus a frente do negócio, e com alinhamento de longo prazo, pesa muito para o prêmio de múltiplo. Por último, importante frisar que gostamos também da empresa Assaí e achamos que ambas estão negociando suas ações abaixo de seus respectivos valores justos.
Qual é a dependência do benefício fiscal e qual seria o impacto da perda desse benefício fornecido pelo estado do Maranhão?
Benefício fiscal é relevante e representa mais de 30% do seu lucro líquido. Por outro lado, acreditamos que existam ganhos de eficiência ainda a serem capturados que mitigam a queda de rentabilidade em um possível cenário onde a empresa deixe de ter tais incentivos.