Corano Capital

EUA segue atrativo para os negócios estrangeiros, diz economista

O ambiente nos EUA ainda é de cautela com os índices econômicos, no entanto, o economista Bruno Corano reforça que os oportunidades estão abertas

O sócio controlador da Corano Capital, Bruno Corano / Foto: Divulgação
O sócio controlador da Corano Capital, Bruno Corano / Foto: Divulgação

“América: a terra das oportunidades”. Esta expressão é uma velha conhecida na cultura popular, difundida não apenas pelo mundo dos negócios como também pelas artes. Diante do ambiente atual, onde as maiores economias do mundo, incluindo os EUA, tentam equilibrar seus índices, o sócio controlador da Corano Capital NYC, Bruno Corano, reforça que o país segue sendo atrativo para novos negócios, mesmo os estrangeiros.

O dos pontos de maior impacto para o mercado financeiro e corporativo dos EUA, desde o final do ano passado, sem dúvidas tem sido o retorno de Donald Trump à Casa Branca. O republicano foi empossado no dia 20 de janeiro e deste então o sentimento de cautela tomou conta.

No entanto, Corano salientou que o quadro de políticas fiscais ainda não sofreu alterações, logo, mesmo diante das ameaças de tarifas sobre a importação de produtos aos EUA, para as operações a realidade não mudou “e não mudará”.

Mas na linha, algumas mudanças já começaram, com o Fed (Federal Reserve) decidindo interromper o ciclo de corte nas taxas de juros, mesmo acreditando que esteja próximo da meta de inflação de 2%, segundo um dos dirigentes da autoridade monetária. 

“Quanto às taxas de juros tornam o país mais ou menos atrativo, isso não tem se alterado, não tem feito com que o país se torne menos atrativo em questão de produtividade e poder de consumo. E se torna mais atrativo – moeda forte – caso alguém queira fazer investimentos atrelados aos juros atuais”, afirmou.

Já no quesito dólar, que vem depreciando frente ao real há 10 sessões consecutivas e fechou o mês de janeiro com -5,56%, Corano explicou que as empresas norte-americanas e estrangeiras perdem competitividade com uma apreciação expressiva do dólar.

“Por isso que toda essa movimentação é uma reflexão do presidente Donald Trump, de que o próprio mercado americano é muito grande e muito forte. Ele quer que as empresas se mudem para os EUA. Em outras palavras: você quer vender para os americanos? Venha produzir aqui”, comentou o empresário.

Além de ser sócio controlador da Corano Capital, considerada a maior gestora privada brasileira nos EUA, Bruno Corano é formado em economia pela UPENN (Universidade da Pennsylvania). 

O ambiente para a gestora tem sido positivo, até mesmo devido às reações dos brasileiros com a depreciação do real, o que ajudou a Corano Capital a cumprir as metas de captação de recursos estipulado para o ano passado. Segundo ele, a empresa está próxima de alcançar os U$ 2 bilhões sob gestão.

“As performances são muito divididas por produtos e por perfil dos clientes. Por isso não há como apresentar a performance total, já que não se trata de um único fundo e não é um único cliente”, reforçou Corano.

Confira a entrevista na íntegra:

Como as atuais políticas fiscais dos EUA afetam a entrada e operação de empresas estrangeiras no mercado financeiro norte-americano?

As políticas fiscais ainda não mudaram. Existe, por enquanto, a ameaça de se impor tarifas de importação de produtos. No mercado financeiro, a realidade para as operações não mudou e não mudará. Porque toda a discussão de possíveis tarifas tem correlação com produtos.

O entendimento do atual governo é com relação ao fato de os EUA serem um grande consumidor de produtos importados das mais diversas regiões do mundo, em especial da China. Esse é o foco, de tentar trazer um equilíbrio, ou tentar gerar algum ganho com relação a essa trading, na qual os Estados Unidos são tão fortes. É o maior cliente do mundo, vamos dizer assim.

Com relação ao dólar, como o movimento da moeda pode influenciar a competitividade e os resultados financeiros de empresas estrangeiras nos EUA?

A apreciação excessiva do dólar é negativa para empresas americanas ou estrangeiras nos EUA que dependam do mercado externo. Se a empresa está nos EUA, é estrangeira, e vive do mercado interno, vai faturar em dólar. A moeda norte-americana estará mais alta. E, quando enviar dividendos para sua sede, já que ela é estrangeira, estará remetendo um montante maior, porque o dólar está apreciado. É dessa forma que afeta.

Agora, as empresas americanas ou estrangeiras que vivem do mercado externo estão perdendo competitividade com a apreciação do dólar, porque os produtos nos EUA acabam ficando muito caros.

Por isso que toda essa movimentação é uma reflexão do presidente Donald Trump, de que o próprio mercado americano é muito grande e muito forte. Ele quer que as empresas se mudem para os EUA. Em outras palavras: você quer vender para os americanos? Venha produzir aqui. É isso que Trump deseja.

No quesito política monetária, o Fed voltou ao ciclo mais cauteloso. Isso torna o país mais ou menos atrativo para os negócios estrangeiros?

Os juros estão ainda altos para o padrão americano, mas ainda são juros muito baixos quando pensamos na perspectiva global. Os juros altos só afetam aqueles que desejem entrar e se estabelecer nos EUA, e que precisem de crédito.

Se a pessoa não precisar de crédito, e o que ela vender também não está diretamente correlacionado ao crédito, ou seja, você não vende bens duráveis, como casas ou carros caros, os juros altos não vêm tendo impacto porque a economia não está desacelerando e o crescimento continua sólido.

Quanto às taxas de juros tornam o país mais ou menos atrativo, isso não tem se alterado, não tem feito com que o país se torne menos atrativo em questão de produtividade e poder de consumo. E se torna mais atrativo – moeda forte – caso alguém queira fazer investimentos atrelados aos juros atuais. 

Com a volta de Donald Trump as empresas de fora podem sofrer com um ambiente mais hostil aos negócios estrangeiros ou o cenário é de maior incentivo?

A entrada do Trump representa uma agenda de priorização para que as empresas produzam dentro dos Estados Unidos. Independentemente se elas são americanas ou estrangeiras, porque se elas estiverem dentro dos Estados Unidos, elas estarão gerando emprego e recolhendo impostos no país.

Se as empresas são de fora, realmente essa agenda dele tende a causar um impacto, porque ele não quer mais permitir que seja mantido esse, vamos dizer, livre comércio, porque, historicamente, nesses mais de 100 anos, os Estados Unidos são um país sem fronteiras do ponto de vista comercial, praticamente se importa qualquer coisa, há impostos quase nulos em quase todos os setores.

Então, se a empresa é estrangeira e não está instalada aqui, realmente ela vai passar a sofrer, pode vir a sofrer. Mas até este momento nada foi alterado concretamente. Existe só o anúncio de que, por hora, México e Canadá serão taxados em alguns produtos.

Quais estratégias podem ser adotadas por empresas estrangeiras para mitigar os riscos associados às flutuações das taxas de juros e às incertezas econômicas nos EUA?

Se a empresa é estrangeira, a taxa de juros americana, salvo raríssimos casos, não impacta o negócio. A não ser que seja uma empresa estrangeira que fabrica tratores gigantes e vende nos Estados Unidos com o financiamento de uma instituição financeira americana, não vai ter impacto.

Se houver, ainda assim, o impacto é relativo porque o americano vai ter que comprar essa máquina de qualquer um e os juros vão estar altos com qualquer fornecedor.

Falando da Corano Capital, quais os próximos passos que a empresa planejou pôr em prática para 2025?

As nossas estratégias são bem claras e sólidas. E independem se o mercado está subindo ou caindo – se a taxa de juros aumentou, se a taxa de juros desceu. Esses indicadores todos que eu mencionei abrem janelas de oportunidades para movimentação de carteiras. 

Então, pressupõe que, quando os juros sobem, a economia desaquece e, consequentemente, as ações possam se depreciar, abrindo uma janela de oportunidade para aquisições.

Pressupõe que, com a movimentação da taxa de juros, especialmente quando ela está alta e vai cair, permite que também se aposte nos títulos do governo, como uma forma de ganho muito segura. Essas movimentações de mercado abrem oportunidades, mas a leitura é um processo constante.

E, neste ano de 2025, vemos uma possível correção de mercados e a continuidade da possível aposta nos ganhos da curva longa dos juros americanos. 

Como foi o ano de 2024 para a Corano Capital? As expectativas para números financeiras foram alcançadas?

As metas foram atingidas. Só nos últimos dois meses do ano de 2024 nós captamos mais de US$ 100 milhões novos, frutos da reação dos brasileiros à subida do dólar. Neste momento, o nosso capital sob gestão está beirando os US$ 2,2 bilhões.

As performances são muito divididas por produtos e por perfil dos clientes. Por isso não há como apresentar a performance total, já que não se trata de um único fundo e não é um único cliente. Diferentemente, por exemplo, da Berkshire Hathaway, que põe tudo dentro de um único fundo.

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