
O economista Mansueto Almeida, do BTG Pactual, abriu a 20ª edição do SIAC (Seminário Internacional Acrefi de Crédito), nesta segunda-feira (17), com uma avaliação direta: “O crescimento do Brasil nos últimos anos é maior do que qualquer economista poderia esperar”.
Mesmo assim, ele advertiu que 2025 e 2026 serão anos mais fracos, marcados por juros elevados, incerteza fiscal e perda de tração da economia.
O SIAC, realizado no auditório do MASP, em São Paulo, reuniu nomes como Ana Carla Abrão, Ricardo Amorim, Oliver Stuenkel e Felipe Nunes para discutir o futuro do sistema financeiro brasileiro em meio à instabilidade global e ao ciclo eleitoral.
Crescimento acima do esperado e desemprego em mínima histórica
Mansueto destacou que o Brasil atravessou um período raro de expansão contínua desde 2021. Ele lembrou que:
- 2021: crescimento de 5%
- 2022: 3%
- 2023: 3,2%
- 2024: 3,4%
Assim, o país completou quatro anos seguidos com PIB de pelo menos 3%, algo que não ocorria há décadas. O avanço ajudou a derrubar o desemprego para 5,6%, o menor da série do IBGE.
“Se o Brasil crescer 2% ao ano, já é suficiente para manter o desemprego baixo”, afirmou.
Mansueto afirmou que o PIB deve crescer 2% em 2025 e 1,5% em 2026, ritmo mais fraco que o observado nos últimos anos, em razão do impacto da Selic real, que segue entre as mais altas do mundo.
Com a taxa básica atualmente em 15% e a inflação projetada em 4,5%, o juro real gira em torno de 10%, nível que, segundo ele, limita a expansão da atividade econômica.
“Em qualquer outro país do mundo, com juro real de 10%, estaríamos discutindo o tamanho da recessão. No Brasil, ainda vamos crescer”, afirmou.
O economista acredita que o BC pode iniciar cortes já em janeiro, antes do esperado pelo mercado.
Gasto público pressiona juros longos
Mansueto afirmou que o avanço das despesas federais será um dos principais fatores a moldar o ambiente financeiro de 2025.
Segundo ele, os gastos do governo devem crescer 17% em quatro anos, enquanto a meta de superávit, acima de R$ 30 bilhões, é considerada de difícil execução. A combinação de despesas em alta e juros elevados mantém a dívida pública sob pressão.
“O juro de curto prazo está alto porque gastamos muito. A questão fiscal só será resolvida no próximo governo”, afirmou.
Ele também criticou incentivos em títulos privados, como CRIs e CRAs:
“Não faz o mínimo sentido um título de curto prazo ter incentivo fiscal. Esse debate terá que ser enfrentado.”
Câmbio, inflação e Bolsa: um 2024 bom demais para durar
Mansueto avaliou que parte do alívio recente vem de fatores pontuais:
- A reversão da desvalorização de 27% do real em 2024
- A queda do dólar ajudando na desinflação
- Fluxo externo impulsionando a Bolsa
Ainda assim, reforçou: “Os problemas deste ano são os mesmos do ano passado.”
Para ele, o ajuste fiscal relevante só virá depois das eleições de 2026.“O próximo governo terá que mostrar como diminuir a velocidade do gasto público. Tudo que esse governo conseguiu, pagará em dívida e juros”, disse.
SIAC celebra 20 anos e lança teaser de documentário
A 20ª edição do SIAC marcou também a exibição do teaser do documentário que celebra os 70 anos da Acrefi, destacando seu papel no fortalecimento do crédito e da inclusão financeira no país.
A programação, mediada por Christiane Pelajo, foi dividida em três blocos:
- Futuro do sistema financeiro e economia brasileira
- Economia global e fluxos de capital
- Cenários geopolíticos e políticos rumo a 2026