Proteção ao petroquímico

Medida antidumping pode render R$ 250 mi de EBITDA para a Braskem

Frederico Fernandes, especialista em petroquímica da Argus, explicou como uma medida aprovada pela Gecex pode impactar o setor no Brasil.

Resinas de polietileno (PE) (Foto: reprodução/Época Negócios)
Resinas de polietileno (PE) (Foto: reprodução/Época Negócios)

A última reunião ordinária do Comitê-Executivo de Gestão (Gecex), realizada no dia 27 de agosto, aprovou a proposta de aplicação de direito antidumping provisório às importações de resinas de polietileno (PE), originárias dos EUA e Canadá, por um período de até seis meses.

As PE são termoplásticos flexíveis, versáteis e com bom custo-benefício, obtidos pela polimerização do etileno, sendo usadas em embalagens, filmes, e outras aplicações industriais, como embalar alimentos, filmes stretch e fraldas.

No Brasil, a única empresa que produz esse tipo de material é a Braskem (BRKM5), empresa de capital aberto com acionistas privados e estatais, e a medida antidumping pode beneficiá-la diretamente. Por outro lado, a atual disputa entre Brasil e EUA pode ser acirrada por essa decisão.

Frederico Fernandes, especialista em petroquímica da Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços para o mercado de petroquímicos, combustíveis, agricultura, fertilizantes e gás natural, explicou ao BP Money os principais impactos dessa medida.

“Trocando em miúdos”, o que são os direitos antidumping? Eles já existem há muito tempo?

Direitos antidumping são tarifas adicionais aplicadas a produtos importados quando se comprova que estão sendo vendidos abaixo do preço de mercado. A prática, conhecida como dumping, distorce o mercado e ameaça a competitividade da indústria local.

Esses mecanismos existem há décadas e são amplamente utilizados por países que buscam proteger setores estratégicos. No caso brasileiro, o setor petroquímico é um dos que mais recorre a esse instrumento, especialmente diante da concorrência de grandes exportadores como os Estados Unidos.

Na prática, o que muda a partir dessa decisão?

A aplicação de tarifas antidumping contra resinas de polietileno importadas dos EUA e Canadá altera imediatamente a dinâmica do mercado. Os produtos afetados ficam mais caros, o que reduz sua competitividade frente à produção nacional.

Empresas brasileiras, como a Braskem, passam a ocupar espaço antes dominado por importações. Além disso, a medida sinaliza ao mercado que o governo está disposto a intervir para proteger a indústria local, o que pode influenciar decisões de investimento e planejamento estratégico.

Qual é o impacto direto e a longo prazo que isso pode gerar?

O impacto direto é sentido pelos importadores e transformadores que dependem dessas resinas (o lado comprador), que passam a lidar com aumento de custos e precisam buscar alternativas, seja na produção nacional ou em outros mercados.

A longo prazo, a medida pode estimular o crescimento da indústria local, gerar empregos e fortalecer a cadeia produtiva. Por outro lado, há o risco de retaliações comerciais e de aumento de preços para o consumidor final, especialmente em setores como embalagens, construção civil e automotivo.

Qual será o impacto para o Brasil em números?

Embora os números exatos variam conforme o volume de importações e a duração da medida, o impacto pode ser significativo. A redução das importações favorece o saldo da balança comercial e aumenta a arrecadação interna.

A única produtora nacional, a Braskem, deve ampliar sua participação de mercado e melhorar suas margens, com estimativas de incremento de entre US$150-250 milhões no EBITDA anual, de acordo com cálculos do banco Santander.

Já o governo pode contabilizar o efeito positivo sobre a produção industrial. O efeito indireto sobre o PIB (Produto Interno Bruto) e o emprego também tende a ser positivo, especialmente se a medida for mantida por mais de seis meses, o que deve acontecer.

Como isso pode impactar a Braskem?

A Braskem é diretamente beneficiada pela decisão, já que vem operando com baixa capacidade de produção por falta de demanda por suas resinas de polietileno. Com a redução da concorrência externa, a empresa amplia sua participação de mercado e melhora sua rentabilidade.

Para citar dados, o Brasil importou 706.000t de PE de janeiro a junho de 2025, uma queda de 9,9% em comparação ao mesmo período de 2024. Os EUA foram o principal fornecedor, respondendo por 488.800t, seguidos pela Argentina, Canadá, Egito e Arábia Saudita.

O cenário favorece uma possível retomada de investimentos e a consolidação da liderança no setor. Além disso, a medida reforça a posição da Braskem como “defensora” da indústria nacional, papel que a companhia já desempenhou em outras ocasiões ao solicitar medidas semelhantes contra produtos importados.

Você acredita que isso pode acirrar a relação entre Brasil e EUA?

Existe, sim, o risco de tensão comercial. Medidas antidumping são vistas como protecionistas, mesmo quando justificadas por práticas comerciais desleais.

Se os EUA interpretarem a decisão brasileira como retaliação, podem responder com novas tarifas ou restrições. O equilíbrio entre defesa comercial e diplomacia será essencial para evitar um conflito comercial mais amplo.

Já foi tomada alguma medida similar a essa no Brasil ou nesse setor? Se sim, qual?

O setor petroquímico brasileiro tem histórico de medidas antidumping. A Braskem, em particular, já participou de processos contra importações de PVC dos EUA (em conjunto com a rival Unipar Carbocloro), polipropileno dos EUA e da Índia e PET da China, entre outros.

Essas ações seguem o mesmo princípio: proteger a indústria nacional contra práticas que comprometem sua sustentabilidade. A repetição dessas medidas ao longo dos anos mostra que o problema é recorrente e que o Brasil mantém uma postura ativa na defesa de sua base industrial, mesmo que através de lobbys de alguns setores.