Outro dia, minha filha me olhou curiosa enquanto eu organizava o material para mais uma palestra e perguntou:
— Mamãe, por que você gosta tanto do seu trabalho?
Eu já tinha a resposta.
— Porque faz parte de quem eu sou. Porque eu amo produzir. E eu torço para que, quando você crescer, encontre algo que te motive assim também. Algo que te faça feliz.
Naquele momento, eu entendi que os filhos não aprendem só com o que a gente diz. Eles aprendem, principalmente, com o que a gente vive.
Muito se fala sobre o desafio de equilibrar carreira e maternidade
Mas, sinceramente? Eu não acredito nesse tal “equilíbrio”. Equilíbrio me soa como uma régua rígida, como se houvesse uma medida ideal entre estar em casa e estar no trabalho. O que eu busco — e defendo — é a harmonia.
Uma vida em que os papéis não se anulam, mas se integram. Em que ser mãe, executiva, mulher e cidadã coexistem. Com escolhas conscientes, com espaço para erros, com ajustes constantes — mas coexistem.
E é justamente nesse convívio entre os papéis que nasce a tal culpa. A culpa materna, essa companheira silenciosa, que muitas vezes sussurra: “Você deveria estar em outro lugar agora.”
O curioso é que essa pergunta nunca é feita aos homens. Raramente um pai precisa justificar com quem deixou os filhos.
Já nós, mulheres, ainda somos atravessadas por expectativas que tentam nos enquadrar em modelos antigos, nos cobrando entrega plena — em casa, no trabalho e, de preferência, com um sorriso no rosto.
Mas é justamente por saber disso que escolho mostrar para a minha filha o que significa trabalhar com propósito.
Quero que ela me veja criando, pensando, resolvendo, contribuindo com o que acredito. Quero que ela entenda que trabalho não é um castigo — é um serviço.
Que o que eu faço é, sim, uma forma de deixar uma marca no mundo. Que legado também se constrói em reuniões, em decisões, em projetos, em como a gente trata as pessoas todos os dias.
O que os filhos veem quando a gente trabalha?
Eles veem valores sendo vividos na prática. Veem ética, disciplina, afeto, presença — mesmo que a gente esteja longe em alguns momentos. Porque presença, no fim, é também sobre como estamos, não só onde estamos.
Quero que ela saiba que a felicidade não mora em uma fórmula perfeita de tempo, mas na possibilidade de viver uma vida com sentido. Que amar o que se faz é um presente. E que ela pode, sim, ser muitas coisas — inclusive mãe, se quiser — sem ter que abrir mão da própria identidade.
O que os filhos veem quando a gente trabalha é o que realmente deixamos com eles. E isso, mais do que palavras, é o que permanece.