A crise mundial da educação, uma releitura

Foto: Canva Pro
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“A Crise Mundial da Educação” de Philip Coombs, edição de 1986, é um livro que me chamou muita atenção quando tive a primeira oportunidade de leitura, em 2009, na época um estudante do penúltimo ano de Economia. Curiosidade, o original é de 1968: “The World Educational Crisis: A Systems Analysis. No livro, o autor aborda de forma ímpar a natureza e a essência da crise da educação. Ele consegue manter tanto o aprofundamento necessário quanto um conteúdo acessível aos diversos grupos de interesse. 

Logo de início, o autor traz uma reflexão poderosa: que mesmo sendo uma crise “mais sutil e menos dramática” do que a da fome ou militar, eu adicionaria econômica e saúde em uma possível atualização, não é menos carregada de perigosas potencialidades. A partir daí ele já aponta que a gravidade e a forma, que podem até ser diferentes de um país para o outro por conta das características locais específicas, mas, em geral, “surgem igualmente em todos os países. Então, apresenta a essência da crise: desajustamento entre as mudanças rápidas “nos assuntos econômicos e políticos, nas estruturas demográficas e sociais, porém com uma adaptação muito vagarosa com relação “ao ritmo mais veloz dos acontecimentos que os rodeiam.”

Pode-se dizer que esse desajustamento é, em grande parte, resultado da inércia tanto dos sistemas de ensino por se adaptarem vagarosamente as novas necessidades quanto da própria sociedade por promover e manter um pensamento escolar sem o objetivo macro do desenvolvimento nacional. Outro ponto agravante é que a mesma sociedade que recebe o produto final do sistema será a responsável por retroalimentá-lo, ou seja, produtos finais (indivíduos instruídos) descasados com as exigências da sociedade e com déficits na qualidade da educação geram um espiral negativo. Sobre o descasamento entre as saídas dos sistemas de ensino e capacidade de absorção da sociedade, o autor cita o problema do “desemprego de diplomados” nos países em desenvolvimento. Contraproducente para o alcance da estabilidade social e o desenvolvimento econômico.

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O autor, além de passar minuciosamente por diversos pontos pertinentes, deixa evidente que superar essa crise é possível, mas que para isso será necessário um plano de longo prazo que seja prático e com atuação multidisciplinar, além de ser também capaz de orientar estratégias e atividades de curto e longo prazo. Mas isso só será possível se uma condição for alcançada: “que os povos interessados diagnostiquem honesta e sistematicamente seus problemas educacionais e planejem seu futuro educacional à luz do que descobrirem em seu diagnóstico”. Acrescento que com rigor, não rigidez, pois a flexibilidade gerencial será importante, assim como a disciplina na gestão.

Como o autor, eu compartilho da ideia de que “a educação e especialmente o ensino não são certamente um remédio para todos os males do mundo”, mas com certeza é um dos mais importantes empreendimentos da sociedade e com alta potencialidade para a manutenção e o desenvolvimento da estabilidade social. 

Portanto, precisamos de um sistema de ensino que ofereça o melhor para o indivíduo e para sociedade. Precisamos entender que o sistema de ensino não pode ser orientado de maneira cega e dogmático, mas iluminado “por uma análise racional, pela reflexão e pela imaginação”.