*Pedro Queiroz
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil e, a partir de 1 de janeiro de 2023, presidirá o país. Os resultados foram muito apertados, com Lula conquistando 50,9% dos votos válidos, ante 49,1% do atual presidente, Jair Bolsonaro. A diferença de votos entre os candidatos foi de cerca de 2 milhões a favor de Lula.
Antes de discutir os principais pontos do desenrolar do cenário eleitoral é importante entender os desafios que já estão contratados para o governo eleito.
O primeiro grande desafio do próximo governo, será endereçar os programas sociais que não cabem no teto de gastos. Apenas a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600, que o presidente eleito prometeu manter, custa aos cofres públicos R$ 50 bi por ano. Mas o problema não para por aí. Ainda temos ajuste dos servidores públicos, desonerações e outros desafios que apresentam dificuldade para ser acomodado no teto de gastos.
É importante entender qual será o comprometimento com a âncora fiscal por parte do presidente eleito e sua equipe econômica. O que nos trás mais um cenário de instabilidade é o fato que Lula divulgou poucos detalhes sobre a sua equipe econômica. O que nos leva acreditar que o governo já comece com waiver para cumprir a promessa de manutenção do Auxílio Brasil.
O segundo grande desafio é ter uma trajetória sustentável. Para isso, podemos ter uma mudança na forma de cálculo da regra fiscal. As mais prováveis envolvem mudar o indexador para 1,5% acima do IPCA, IPCA acrescido do crescimento do PIB do ano anterior ou ainda para uma combinação de indexadores a depender do nível da dívida pública.
É nesse ponto que voltamos à temática anterior, o compromisso fiscal do governo e o tamanho de waiver estão diretamente ligados à nossa estabilidade fiscal e o que estamos buscando para o futuro desse país. Caso não haja compromisso fiscal poderemos ter consequências diretas no custo de financiamento da dívida, taxa de juros elevada (nominais e reais), câmbio desvalorizado, inflação elevada e baixo crescimento econômico.
Tendo em vista esses desafios, o que poderia frear o rompimento do arcabouço fiscal?
Acreditamos que o congresso eleito com viés conservador poderá representar controle para qualquer demanda que coloque em risco nossa estabilidade econômica. No entanto, essa composição não impede que o presidente eleito consiga obter maioria em temáticas que amplie os gastos públicos.
Quando analisamos Petrobras, por exemplo, percebemos o fato da companhia estar sendo negociada com um desconto de 20% para pares globais ou 38% ex-pares de mercados emergentes. Isso dá uma ideia dos riscos que os investidores atribuem ao caso ao precificar riscos políticos, principalmente para uma empresa que bombeia petróleo e gás a um custo de extração impressionante de US$ 7/bbl, alavancagem de 0,6x Dívida Líquida/EBITDA e um dividend yield de 20% para 2023.
Traçando o melhor cenário para o acionista minoritário, que seria o plano de capex permanece próximo ao guidance e, principalmente, altamente focado em E&P do pré-sal, continuidade nos planos de venda da capacidade de refino e a manutenção da política de preços da gasolina e do diesel de acordo com a paridade de importação.
Temos dúvidas contundentes no compromisso do acionista majoritário no melhor para a companhia, mesmo com todo avanço da Leis das estatais e o próprio estatuto da empresa.
Neste caso, preferimos a prova mais fácil que é realizar o lucro e esperar sinalizações sobre ambas as teses. Em contrapartida, gastaremos nosso tempo buscando empresas com diferenciais competitivos, com capacidade de repassar inflação e gerar caixa independente do cenário macroeconômico, tudo isso com um valuation atrativo sem estar diretamente correlacionada com o cenário eleitoral.
Sendo assim, acreditamos que o cenário exige cautela, principalmente por não entendermos como serão endereçados nossos desafios fiscais. Outro ponto importante que não foi debatido, mas é extremamente relevante é que o mundo não está vivendo toda a bonança a qual o presidente eleito surfou em seus mandatos anteriores. Pelo contrário, estamos vivendo um dos maiores apertos monetários que ainda não sabemos qual será as consequências.
*Pedro Queiroz é formado em engenharia aeroespacial pela Universidade de Lisboa e especialista em renda variável