
A liderança executiva não é estática. Ela se desenvolve em ciclos que refletem tanto a maturidade do líder quanto a evolução da própria organização. O livro “A CEO for All Seasons: Mastering the Cycles of Leadership”, lançado pela McKinsey, propõe uma leitura estruturada dessa jornada, dividida em quatro fases simbólicas, primavera, verão, outono e inverno, que ajudam a entender como CEOs constroem impacto e legado ao longo do tempo.
Na primavera, o CEO conquista sua posição e enfrenta a curva inicial de aprendizado. É a fase de adaptação e consolidação de autoridade, em que a percepção do conselho e dos stakeholders começa a se formar. O verão representa o auge da energia executiva, com decisões estratégicas, inovação e implementação de mudanças que definem o ritmo da empresa. O outono marca o período de manutenção e refinamento, no qual o líder sustenta o avanço organizacional enquanto equilibra gestão diária e reflexão estratégica. O inverno, por fim, representa a preparação do legado. É o momento de estruturar a sucessão, transferir conhecimento e garantir que a cultura e a estratégia da organização permaneçam sólidas além de sua gestão.
A relevância dessas fases fica evidente quando se observa o impacto de transições mal conduzidas. Apenas nas empresas do S&P 1500, mudanças de comando mal planejadas eliminam cerca de um trilhão de dólares em valor de mercado a cada ano. O número revela a complexidade de liderar grandes organizações em um ambiente marcado por volatilidade, competição global e inovação tecnológica acelerada. A sucessão de CEOs se torna, portanto, uma das decisões estratégicas mais críticas para a preservação de valor corporativo.
O estudo também destaca a importância da percepção e da autoconsciência. Um líder bem-sucedido não se avalia apenas pelo desempenho operacional, mas também pela forma como suas decisões são interpretadas pelo conselho e pelos colaboradores. Em um contexto expandido por inteligência artificial e análises avançadas, ferramentas internas oferecem feedback contínuo e permitem ajustes em tempo real. Essa capacidade de autodiagnóstico se torna fundamental para calibrar iniciativas, priorizar projetos e antecipar desafios.
O aprendizado prático é reforçado por exemplos de líderes como Michael Dell, Steve Schwarzman, Mike Wirth e Adena Friedman. O que os une é a consistência ao longo dos ciclos. Não basta iniciar com energia. É necessário manter o impacto, evoluir com a organização e preparar um legado duradouro. Cada fase exige competências distintas, desde liderança inspiradora até comunicação clara, gestão de riscos e desenvolvimento de sucessores.
A reflexão central apontada pelo estudo é que liderar não significa apenas ocupar uma posição, mas navegar conscientemente pelos ciclos naturais da liderança, equilibrando ação e reflexão, crescimento e preservação, urgência e legado. CEOs e conselhos que compreendem essa lógica estão mais preparados para decisões estratégicas, gestão de crises e para garantir que o valor construído ao longo de um mandato permaneça no tempo.
A lição final, sintetizada por um ditado citado no livro, reforça que preparação e timing importam mais do que qualquer oportunidade isolada. É sempre melhor cuidar do futuro antes que os problemas se materializem. No mundo corporativo, essa antecipação determina não apenas a trajetória de um CEO, mas também a resiliência e a longevidade da empresa que ele lidera.
*Fernando Nery é CEO da Portão 3 (P3), fintech que já transacionou mais de R$10 bilhões e apoia mais de 5.000 empresas na América Latina com cartões corporativos e gestão de pagamentos.