Sistema financeiro

Brasil e o boom das fintechs: inovação financeira e os próximos passos na América Latina

Nosso sistema financeiro foi obrigado a evoluir rápido, em grande parte pelos desafios impostos pela hiperinflação dos anos 80 e início de 90

Foto: Canva
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Qualquer um que já tentou fazer uma transferência bancária nos EUA sabe que a experiência por lá é péssima e o que temos aqui no Brasil é incomparavelmente melhor – isso, mesmo antes do advento do PIX. Nosso sistema financeiro foi obrigado a evoluir rápido, em grande parte pelos desafios impostos pela hiperinflação dos anos 80 e início de 90.

Os tempos difíceis foram catalisadores que levaram o Brasil a se consolidar como o líder no setor de fintechs na América Latina. O ditado é antigo, mas não poderia ser mais verdadeiro: dificuldades geram oportunidades. 

O crescimento econômico no início dos anos 2000 combinado com profundas transformações tecnológicas e o florescimento do cenário de venture capital no país promoveram o impulso perfeito para as startups brasileiras no sistema financeiro. Segundo um relatório divulgado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o país permanece como o com a maior concentração desse tipo de startup, representando 24% do total, seguido pelo México com 20%, Colômbia com 13%, e Argentina e Chile, ambos com 10%.

Esses negócios brasileiros ganharam projeção internacional ao solucionar desafios complexos que instituições tradicionais demoravam a resolver. Combinando tecnologia de ponta e um profundo conhecimento das demandas locais, oferecem serviços financeiros acessíveis, rápidos e com menos burocracia. Startups como Nubank, Stone e PicPay são exemplos claros de como essas soluções digitais estão se expandindo, não só dentro do Brasil, mas em toda a América Latina. Ou seja, não são jabuticabas! São soluções que transbordam os problemas nacionais e nossas fronteiras. 

Entretanto, a liderança do Brasil nesse setor não vem sem desafios. O crescimento acelerado exige um ambiente regulatório robusto, que consiga acompanhar as inovações sem atrapalhar o desenvolvimento do setor. O Banco Central tem feito um bom trabalho ao criar um ecossistema favorável à inovação, como com a implementação do PIX, que revolucionou as transações financeiras no país e, em breve, o tão falado DREX.

Além disso, o sucesso das fintechs também levanta questões sobre inclusão financeira. Embora as empresas fintechs tenham facilitado o acesso ao crédito e a serviços bancários para milhões de brasileiros, ainda há uma significativa parcela da população que não tem acesso à internet ou às tecnologias necessárias para usufruir desses serviços. A inclusão financeira precisa ser uma prioridade para que o crescimento do setor beneficie, de fato, a maior parte dos brasileiros.

Outro ponto a ser observado é a competição com grandes bancos. Embora as fintechs estejam ganhando terreno, os bancos tradicionais continuam sendo uma força dominante no mercado. No entanto, a relação entre esses dois setores parece estar caminhando para a colaboração. Muitos bancos estão investindo em suas próprias plataformas digitais e comprando fintechs, o que certamente cria um ambiente que no fundo favorece os consumidores.

O futuro do setor de fintechs no Brasil é cheio de oportunidades, navegando com uma visão equilibrada entre inovação, regulação e inclusão. O país tem a oportunidade de se firmar como uma referência global em soluções financeiras digitais e precisa continuar investindo em educação tecnológica e infraestrutura digital para garantir que essa revolução financeira seja acessível a cada vez mais brasileiros.

Assim, a liderança brasileira nessa área na América Latina não deve ser vista apenas como um marco de crescimento econômico, mas como uma chance de transformar a vida de milhões de pessoas, democratizando o acesso a serviços financeiros e promovendo o desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável e inclusiva.