A cibersegurança deixou de ser um tema restrito às áreas de tecnologia para se tornar pauta de conselhos de administração e de lideranças estratégicas. E não é por acaso. Segundo dados recentes da Duke University, Recorded Future e Digi Americas, cerca de 79% das instituições da América Latina já foram alvo de ataques de ransomware, contra uma média global de 53%. O Brasil, infelizmente, lidera esse ranking.
Esses números são um alerta de que a lógica da segurança digital precisa mudar. Reagir após um ataque já não é suficiente. Em um cenário de ameaças cada vez mais sofisticadas, silenciosas e persistentes, é essencial adotar uma postura proativa. E é aqui que a inteligência artificial (IA) se apresenta como um divisor de águas. Ela nos permite antecipar movimentos, identificar vulnerabilidades em tempo real e mitigar riscos antes que se tornem crises.
Em outras palavras, a IA pode transformar o papel das equipes de segurança de bombeiros que apagam incêndios para guardiões que evitam que eles comecem. Na prática, vejo pelo menos cinco frentes em que a inteligência artificial já está revolucionando a proteção corporativa:
1. Análise comportamental com IA
O comportamento de usuários, sistemas e dispositivos corporativos segue padrões previsíveis. Quando a IA entende esses padrões, qualquer desvio (como acessos fora do horário, logins de locais improváveis ou movimentações suspeitas de dados) acende um alerta. Esse monitoramento inteligente pode ser a diferença entre um incidente contido e um ataque devastador.
2. Auditorias automatizadas
Em ambientes híbridos, com múltiplas nuvens e integrações complexas, auditar manualmente é praticamente impossível. A IA permite auditorias contínuas, assegurando conformidade com políticas internas e regulatórias. É uma forma de manter a casa em ordem em tempo real, e não apenas quando a crise já se instalou.
3. Monitoramento da dark web
Muitos ataques começam muito antes de atingir os sistemas da empresa. Credenciais roubadas, menções a serviços internos ou planos de invasão surgem em fóruns clandestinos. A IA pode identificar esses sinais e permitir que a empresa aja antes que a ameaça se materialize.
4. Capacitação da equipe de segurança
Vivemos uma escassez global de profissionais especializados. Nesse contexto, a IA pode ser um multiplicador de talentos: simulações de ataques, análises de cenários e recomendações automáticas ajudam a desenvolver equipes mais preparadas e resilientes.
5. Resposta a incidentes mais rápida e precisa
Mesmo com todas as camadas de proteção, falhas podem acontecer. O diferencial está em como reagimos. Com a IA, é possível detectar falhas, isolar sistemas comprometidos e acionar protocolos de contenção em tempo real. Isso significa menos danos, menos custos e maior resiliência.
Acredito que estamos diante de um momento crítico. Empresas que ainda tratam a cibersegurança como custo e não como investimento estratégico correm sérios riscos de comprometer não apenas suas operações, mas sua própria sobrevivência. A inteligência artificial, quando bem aplicada, pode ser a chave para equilibrar esse jogo.
A pergunta que fica não é se sua empresa será alvo de um ataque, mas quando isso acontecerá. E, nesse cenário, a diferença entre sobreviver ou naufragar estará na capacidade de antecipação. E a IA é, sem dúvida, nossa maior aliada nesse processo.
*Daniel Tieppo é especialista em tecnologia e telecomunicações, com mais de 20 anos de experiência no setor. Formado em Ciência da Computação e Gestão Comercial, construiu sua carreira em empresas como Olitel Telecom, Vocalcom e Alcatel-Lucent Enterprise. Atualmente, é Diretor Executivo e cofundador da HexaDigital, empresa do grupo MakeOne focada em projetos de cibersegurança, infraestrutura e conectividade para empresas, onde lidera iniciativas estratégicas e representa a marca em grandes eventos do setor.