
Gustavo:
“Mestre, esse final de semana eu estava lendo um relatório e bateu de novo aquele dado preocupante: mesmo com tanto acesso à informação, dados mostram que ainda tem muito produtor rural vendendo a safra sem travar preço.”
Gabriel:
“E o pior: muita gente nem sabe que dá pra fazer isso. No agro, no transporte, na indústria… a oscilação do mercado vira um risco invisível. E aí, lucro vira prejuízo sem aviso.”
Gustavo:
“Por isso que devíamos falar de hedge. Porque enquanto alguns ainda pensam que é algo super distante, outros usam e garantem estabilidade mesmo com o mercado girando.”
A dor: margens apertadas e preço fora de controle
O produtor planta hoje, mas colhe e vende daqui a meses. No meio do caminho, tem clima, dólar, geopolítica, decisão de juros americana e uma tonelada de variáveis que afetam o preço.
Um movimento de queda de 15% no preço da soja pode consumir toda a margem de lucro. Um aumento no preço do petróleo pode comprometer a rentabilidade de uma transportadora.
Gabriel:
“É como jogar um jogo de cartas onde o mercado embaralha de novo toda hora. Não dá pra trabalhar assim.”
A solução: hedge como ferramenta de proteção
Gustavo:
“Hedge é a resposta. Ele não serve pra ganhar mais, mas pra não perder o essencial. É uma blindagem estratégica.”
Gabriel:
“Funciona como um seguro. Você define hoje um valor mínimo pelo qual vai vender sua produção ou comprar seu insumo, e trava esse preço. Simples assim.”
Como executar: contratos futuros, opções e derivativos
Gustavo:
“Hoje, quem quer proteger preço tem pelo menos quatro ferramentas/operações à disposição. A escolha depende do perfil da operação, do produto e do mercado envolvido.”
Contratos Futuros
Negociados em bolsa (como a B3 ou CME), travam a compra ou venda de uma commodity ou ativo financeiro em uma data futura por um preço definido hoje. São padronizados e exigem margem de garantia.
Opções (CALL/PUT)
Permitem ao produtor garantir um preço mínimo (PUT) ou travar um preço máximo de compra (CALL) pagando um prêmio. Oferecem proteção com flexibilidade — você só exerce se for vantajoso.
Swaps
Muito utilizados por empresas com fluxo de caixa vinculado a diferentes indexadores. Com o swap, uma parte troca um fluxo atrelado, por exemplo, ao CDI, por outro atrelado ao IPCA, câmbio ou taxa pré-fixada.
NDF – Non-Deliverable Forward
Gabriel:
“Essa é pouco falada, mas fundamental no hedge de câmbio, especialmente com moedas de mercados emergentes.”
Gustavo:
“O NDF é um contrato a termo de câmbio, sem entrega física da moeda, que liquida apenas a diferença entre o câmbio contratado e o câmbio real na data futura.”
É muito usado por empresas que têm exposição ao dólar ou euro, mas que não operam diretamente no exterior — como exportadores brasileiros ou indústrias que importam insumos.
Exemplo prático de NDF:
Uma empresa brasileira fecha um NDF de dólar a R$ 5,10 para 30 de novembro. Se o dólar subir a R$ 5,40, ela recebe a diferença (R$ 0,30 por dólar protegido). Se cair a R$ 4,90, ela paga a diferença. Assim, garante previsibilidade de custo ou receita.
Gabriel:
“E tudo isso pode ser feito na B3, com apoio técnico. Tem corretora que oferece até mesa exclusiva de agro. Falta é o produtor saber que existe.”
Gustavo:
“Na prática, o hedge funciona como uma compensação automática: o que você perde no mercado físico, você ganha no mercado financeiro — e vice-versa.”
Gabriel:
“Ou seja, se o preço da sua produção cair, você lucra no contrato que você vendeu. Se o preço subir, você perde no contrato, mas vende mais caro no físico.”
Analogia 1 – Seguro de carro
Você paga para travar um ‘preço mínimo’. Se nada acontecer, você não usa o seguro. Mas se der problema, ele salva seu capital.
Analogia 2 – Câmbio fixo de viagem
Você vai para os EUA em novembro. O dólar hoje está R$ 5,00 e você trava a cotação com um contrato. Se subir para R$ 5,60, você não paga a mais. Se cair para R$ 4,70, você perde um pouco da oportunidade — mas tinha previsibilidade.
Gustavo:
“E isso vale para soja, milho, boi, petróleo, câmbio e até para o custo do milho que vai alimentar o frango de corte do aviário.”
Exemplo prático — Soja, preço travado e tranquilidade
Vamos supor um produtor com 10 mil sacas de soja a colher em novembro. Hoje, a saca vale R$ 130.
Ele vende contratos futuros de soja para novembro na B3, travando esse preço. Se em novembro a saca cair para R$ 115, ele vende no físico por R$ 115, mas ganha no contrato futuro — compensando a perda.
Se a saca subir para R$ 140, ele perde no contrato, mas ganha mais na venda física — ficando no zero a zero.
Gustavo:
“O ponto é: ele sabe quanto vai receber. Pode planejar. Pode comprar insumo. Pode pagar funcionário. E isso vale ouro.”
Conclusão
Gabriel:
“Em qualquer cadeia produtiva séria, o hedge deveria estar no centro da estratégia financeira. Ele não apenas reduz a volatilidade — ele preserva margem, protege fluxo de caixa e viabiliza planejamento de longo prazo.”
Gustavo:
“O produtor que entende isso não está apostando. Ele está gerenciando risco com a mesma disciplina com que cuida do solo, do rebanho ou da operação logística.”
Gabriel:
“Não é sobre prever o futuro. É sobre não ser refém dele.”
Gustavo:
“Afinal… quem não protege o que tem, pode acabar perdendo até o que ainda nem colheu.”