Como pensam os gestores de ações? Nadson Santana revela seus sinais

Chega de se perguntar sobre como os gestores em ações pensam e agem. Nadson Santana responde mostrando o que está por vir em 2026.

Reunimos uma conversa exclusiva com o gestor do clube de investimentos Asceta Capital para te ajudar a entender, de forma fundamentada, como um profissional de renda variável está enxergando o mercado neste momento.

Como você enxerga o cenário macro global para 2026 em termos de juros, inflação e crescimento?

A economia global parece caminhar para um retorno à “normalização”, após o surto inflacionário pós-pandemia e pelo subsequente ciclo de aperto monetário.

As projeções indicam uma inflação global mais moderada em 2026, porém ainda resiliente. A expectativa é que a inflação mundial se situe em torno de 3,5% a 4% em 2026, ainda distante da média histórica entre 2% e 2,5%, mas com uma desaceleração importante frente aos picos pós-pandemia. No entanto, penso que, principalmente as tensões geopolíticas, colocam uma acidez inconveniente que podem trazer desestabilização dos cenários macroeconômicos.

Ǫuanto aos juros, a expectativa é de um leve afrouxamento nas taxas de juros das principais economias. O Federal Reserve (FED) americano, e o Banco Central Europeu (BCE) podem sinalizar possíveis cortes graduais se a inflação começar a ceder para a meta. O Banco Popular da China (PBoC) deve continuar com políticas expansionistas para estimular seu crescimento interno, e o Banco do Japão (BOJ) pode sinalizar um afastamento de uma longa política de juros negativos, um movimento com amplas implicações globais.

Nesse cenário de transição de estabilização da inflação é possível imaginar um crescimento global moderado, ainda devido ao reflexo do impacto das altas taxas de juros sobre o investimento e o consumo. No entanto, investimentos em infraestrutura, agendas de sustentabilidade, digitalização, e uma reconfiguração das cadeias de comércio globais podem ser fatores determinantes para potencializar o ritmo da expansão econômica.

E o Brasil, qual o seu cenário-base em economia, política fiscal e ambiente de investimento?

No Brasil continuamos com um grande desafio estrutural a resolver que é a questão do Déficit fiscal e da Dívida Pública. O país enfrenta um déficit primário estrutural há 10 anos, desde 2014 apresenta uma sequência de déficits, com exceção de 2022 que apresentou superávit, principalmente, devido a fatores extraordinários.

Em consequência aos sucessivos déficits fiscais a dívida pública segue uma trajetória ascendente, e esse é o principal fator de risco para a economia brasileira, pois pressiona os juros de longo prazo, encarecendo o crédito e desestimulando o investimento produtivo.

O novo Arcabouço Fiscal é a estratégia propagada pelo governo para tentar reverter essa tendência, buscando alcançar superávit primário progressivos.

Tentando traduzir de maneira mais simples, pense nas contas do governo como as suas contas pessoais, se você tem gastos mensais maiores do que sua receita mensal, faltará recurso para pagar as despesas, como consequência você terá que se endividar para pagar as contas, é um ciclo vicioso. No longo prazo, sua capacidade de consumo e investimento ficarão comprometidas.

O Brasil, infelizmente, encontra-se nesse ciclo vicioso. Por isso, acredito que o país precisa cada vez mais fomentar seu mercado de capitais, dar maior segurança jurídica e flexibilidade para que a iniciativa privada promova os investimentos necessários para o desenvolvimento econômico.

O governo precisa equilibrar as contas públicas, combinando o controle do crescimento das despesas com um esforço para aumentar a receita/arrecadação. Zerar o déficit e gerar superávits nos anos seguintes será crucial para que permita ao país construir um desenvolvimento econômico sustentável no longo prazo.

Um ponto positivo em todo esse cenário macroeconômico tem sido a independência do Banco Central do Brasil (BCB). Como a execução da política fiscal tem a necessidade de um apoio político muito forte, a independência do BCB ajuda a desvincular a política monetária do ciclo político-eleitoral.

O Banco Central atua como uma âncora de credibilidade do sistema macroeconômico. Ele funciona como um “árbitro” que expõe os custos da indisciplina fiscal. Ao tornar a consequência (juros mais altos) imediatamente clara para os políticos e para a população, ele cria um poderoso incentivo para que o governo mantenha o curso do ajuste prometido e aumenta-se o custo político do desvio fiscal.

Agora em 2025 o BCB tem tido sucesso em ancorar as expectativas e trazer a inflação de volta para o intervalo da meta. Para 2026, a expectativa é que a inflação venha para a faixa entre 4,0% e 4,5%. Consequentemente, devemos observar o início de afrouxamento monetário com a possiblidade da taxa Selic chegar a 12% até o final do próximo ano.

Para o ambiente de investimentos temos o risco fiscal já citado, além do risco regulatório e político, principalmente para o próximo ano onde teremos corrida eleitoral. Por outro lado, o início do ciclo de queda dos juros apresenta uma excelente janela de oportunidade na valorização dos ativos de risco no mercado de capitais.

O ciclo de afrouxamento monetário torna o crédito mais barato, reduzindo o impacto da dívida e beneficiando as empresas. Tanto no top line (receitas), com crédito mais barato estimulando consumo e aumentando as vendas, quanto no bottom line (lucro líquido), reduzindo o serviço da dívida e aumentando os lucros. Nesse cenário, algumas empresas vão dobrar a rentabilidade dos seus resultados e o preço dos ativos seguem a evolução dos seus lucros.

Ǫuais setores tendem a se destacar até lá?

A queda na taxa básica de juros impulsiona o mercado de ações como um todo, pois ela reduz o custo de oportunidade e melhora a taxa interna de retorno dos investimentos.

Ademais, os setores de consumo ciclo são os mais sensíveis a essa melhora no crédito, especificamente os setores de Construção Civil e Varejo.

O mercado já precificou esse cenário ou ainda há prêmio de risco interessante?

Mesmo após um período de leve recuperação, o Ibovespa continua a ser negociado com múltiplos de valuation (P/L e P/VP) em níveis de desconto em relação à sua própria média histórica.

Existe um claro potencial de reprecificação dos ativos, com a melhora do cenário de risco e com o início do ciclo de queda de juros, fazendo com que os múltiplos de P/L e P/VP convirjam para suas médias históricas.

Na verdade, o mercado sempre dar oportunidades, independente do cenário macro. Aqui que entra o trabalho do gestor, que é de garimpar as oportunidades. Encontramos ativos com valor de mercado abaixo das suas disponibilidades apresentadas nas demonstrações financeiras, é algo em certo ponto inimaginável.

Para o investidor de longo prazo, este cenário reforça a tese de que há uma janela de oportunidade para comprar ativos de qualidade a preços descontados. Vale ressaltar que a principal virtude para o investimento em renda variável é a paciência e tolerância à volatilidade de curto e médio prazo.

Como o clube se prepara para eventuais choques de juros, câmbio ou inflação?

No nosso clube de investimento focamos na análise micro das empresas, independentemente do cenário macroeconômico e de possíveis choques de juros, câmbio e inflação. A nossa busca incessante estar em encontrar barganhas na bolsa, ativos de qualidade, rentáveis e que estejam subavaliados, dentro dessa perspectiva ajustamos a alocação conforme os dados nos mostre a melhor assimetria entre o preço atual e o preço justo do ativo. Além dessa análise micro, fazemos o rebalanceamento seguindo as regras de enquadramento do clube que é 67% em ações e 33% em renda fixa.

3.Eleições 2026: antes e depois

    Ǫue efeitos o período pré-eleitoral pode gerar no mercado e na tomada de decisão dos gestores?

    O mercado costuma se movimentar de maneira especulativa conforme as expectativas de resultados da eleição pendule de um lado para outro. Tem players que se movimentam mais intensamente segundo esse cenário especulativo, mas não é o nosso caso. O nosso foco de gestão permanecem nos fundamentos.

    Após a eleição, o que tende a mudar no ambiente de negócios e na confiança dos investidores?

    Difícil prever algo na expectativa de resultados de eleição. Preferimos focar na análise das empresas e considerar o status quo. Se o resultado das eleições trouxer um ambiente de negócios melhor, beneficiará a todos.

    Há setores ou ativos que podem se beneficiar de resultados específicos nas urnas?

    Normalmente as empresas estatais são alvo de bastante especulação no período pré-eleitoral. Mas independentemente do período eleitoral nosso trigger são os resultados das empresas.

    Como você gerencia o risco político dentro da carteira?

    Foco na análise micro das empresas e acompanho o noticiário de questões regulatórias que possam afetar os resultados das empresas investidas. O olhar é sempre na rentabilidade e resultados que a empresa possa gerar.

    4.Gestão ativa de renda variável

    Ǫual é a filosofia de gestão ativa do clube e como ela se diferencia da gestão passiva?

    A gestão ativa se baseia na análise constante dos resultados apresentados pelas empresas e nos diversos fatores que possam impactar a rentabilidade. Acredito que a grande diferença entre a gestão ativa e passiva estar justamente na disciplina de a todo momento revisar a tese de investimento.

    Ǫuais métricas e sinais mais pesam na decisão de compra ou venda de ações?

    A decisão de compra ou venda passa principalmente pela análise da precificação do ativo e seu potencial de upside ou downside em relação ao preço justo que determinamos.

    Pode citar um caso recente em que o clube ajustou posição por mudança de cenário?

    Posso citar o caso do Banco do Brasil, o ativo apresentava aumento dos lucros de forma recorrente, excelente rentabilidade e entrega de valor aos acionistas. Só que as notícias em torno da carteira de crédito do agro começaram a levantar dúvidas quanto à sua deterioração. Logo que percebemos esses sinais começamos a reduzir a posição, ela era uma top pick da carteira, assim que os resultados do primeiro trimestre de 2025 foram apresentados já estávamos com uma posição reduzida e logo em seguida zeramos a posição.

    Ǫual o horizonte médio de investimento e como equilibrar oportunidades de curto prazo com teses estruturais?

    O horizonte de investimento é muito particular de cada investidor. Mas de maneira geral o pensamento do investidor deve estar em obter resultados

    consistentes no longo prazo, com o entendimento de que analogamente estamos em uma maratona e não em uma disputa de 100 metros rasos. Afinal de contas, nas finanças, o tempo é rei, e ele será o fator de multiplicação exponencial dos ativos, M=C (1+i)^t.

    A estratégia de rebalanceamento é uma boa ideia para execução. Após definir a proporção estrutural da alocação pode-se definir ranges de tolerância para aproveitar oportunidades de curto prazo em movimentos táticos.

    5.Brasil x Estados Unidos

    Ǫuais são as principais diferenças entre os mercados acionários brasileiro e americano?

    Existe uma diferença abissal entre os mercados acionários brasileiro e americano, a começar pela capitalização de mercado. O mercado americano tem uma capitalização em torno de 50 trilhões (USD) enquanto o mercado brasileiro é de aproximadamente 900 B (USD). A representação do mercado americano no MSCI World é em torno de 69%, protagonista absoluto, enquanto o mercado brasileiro representa aproximadamente 0,5%, tem um peso marginal.

    Há uma oferta muito maior de empresas e setores para investir nos EUA, permitindo uma diversificação muito mais ampla. Já no Brasil existe uma concentração em commodities e bancos que torna a diversificação um desafio.

    O mercado americano é vasto, mais diversificado e com ecossistemas complexos e correntes globais que ditam o movimento. Ele tende a ser mais estável e mais eficiente. Já o mercado brasileiro é menor e mais cíclico, por consequência é menos eficiente, por isso, o potencial de valorização em curtos períodos é maior e mais explosivo.

    O mercado brasileiro, por ser menor, é muito mais sensível ao fluxo de capital estrangeiro. A entrada ou saída de “fluxo externo” tem um impacto imediato e forte nos preços. Isso o torna estruturalmente mais volátil, o que não necessariamente é ruim para o investidor, desde que seja aproveitada a favor, afinal, o desempenho vem da volatilidade ascendente.

    O que atrai e o que limita o investidor brasileiro que busca diversificação internacional?

    Penso que o custo de oportunidade de uma taxa de juros reais estruturalmente altos, em média quase 5% de ganho real ao ano, nos últimos 20 anos é um patamar raramente visto em economias desenvolvidas, acaba sendo um limitador.

    O viés doméstico que é um viés comportamental muito forte, as pessoas tendem a investir no que conhecem e onde se sentem confortáveis. É um viés que precisa ser equilibrado, mas que pode ser utilizado para o lado positivo, grandes investidores sugerem esse critério ao decidir por um investimento.

    A barreira psicológica de complexidade percebida, custos de transação, cambio e barreiras de conhecimento. Empresas estrangeiras parecem distantes e complexas, com balanços em dólar e em outro idioma. Apesar de que essas barreiras estão caindo gradualmente graças ao desenvolvimento da indústria de investimentos que avançou exponencialmente no país e permite acesso facilitado e sofisticado, além dos inúmeros recursos de sistemas de dados acessíveis em idioma local.

    Como a governança e o ambiente regulatório influenciam a estratégia do clube?

    O clube de investimento possui um regramento próprio conforme instrução CVM nº 11 de 2020, a carteira do Clube deve possuir no mínimo 67% de seu patrimônio líquido investido em ações, e o montante que exceder essa porcentagem pode ser aplicado em outros valores mobiliários de emissão de companhias abertas, ativos de renda fixa, além de certificados de depósito de valores mobiliários no âmbito de programas de BDR Nível I, Nível II e Nível III.

    Diante desse regramento, a estratégia principal é focar na análise micro das empresas brasileiras, aproveitar a ineficiência do mercado, buscar empresas rentáveis e subavaliados para capturar a entregar de valor no longo prazo.

    Ademais, estamos aproveitando essa janela de oportunidade que se abriu em uma primeira pernada de alta na B3. Com a melhora das expectativas dos índices inflacionários, temos a materialização do início do ciclo de corte de juros e estamos vendo um movimento rápido de reprecificação dos ativos brasileiros.

    Diante das incertezas internacionais e de um mercado global com preços bem esticados, posso dizer até irracionais, tem movimentado o fluxo de capital estrangeiro para a bolsa brasileira. Com isso, estamos bem-posicionados para capturar esse bull market, e o desempenho do clube em 2025 já passa de 50%.

    Ǫue setores ou tendências nos EUA você considera mais promissores até 2026?

    Os principais setores e tendências nos EUA de agora em diante estarão muito relacionados ao ecossistema da Inteligência Artificial (IA). Toda a cadeia de empresas de semicondutores, infraestrutura de nuvem (cloud), Software como Serviço (SaaS) com IA, Cibersegurança com IA, além da transição energética, considerando a grande demanda da infraestrutura das IAs por água e energia.

    Em resumo, as “Magnificent Seven”, Nvidia, Microsoft, Amazon, Alphabet, Meta, Tesla e Apple estão na vanguarda dessa grande onda de transformação da revolução da Inteligência Artificial, que combinam inovação tecnológica e mudanças estruturais na nova economia.

    Importante a considerar são os Valuation dessas empresas, muitas dessas ações já estão com preços muito esticados em um ambiente de grande concorrência. Considero esses ativos no momento com assimetria negativa, devido aos preços das ações. Penso ser melhor aguardar um melhor momento de oportunidade para entrar.

    Dose G

    Dose G é a sua injeção semanal de conhecimento financeiro, por Gabriel e Gustavo. Com uma linguagem leve e acessível e insights práticos.

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