Foto: Freepik
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Liderar não é apenas ter uma boa ideia ou um produto competitivo. Qualidades técnicas e estratégicas são importantes, mas há um atributo que sustenta todas as outras: a confiança. Não se trata de arrogância ou excesso de otimismo, mas da capacidade de acreditar no propósito, nas pessoas ao seu redor e em si mesmo, mesmo quando os recursos são escassos e o futuro é incerto. Essa confiança não é uniforme; manifesta-se de diferentes formas em diferentes contextos. Pode aparecer na clareza de uma missão, na habilidade de inspirar uma equipe, na segurança para tomar decisões arriscadas ou na capacidade de convencer parceiros e investidores a apostar em ideias que ainda não têm garantia de sucesso.

Em negócios emergentes, a confiança é tão fundamental quanto a própria inovação. É o que permite que líderes levantem capital, atraiam e retenham talentos e mantenham operações em crescimento, mesmo diante de obstáculos. Não basta apresentar um produto ou uma solução competitiva: é preciso ter convicção pessoal e transmitir essa segurança aos outros, multiplicando a capacidade de execução de toda a equipe. Nesse ponto, a liderança deixa de ser apenas uma função técnica e se transforma em força propulsora capaz de materializar visões audaciosas.

Porém, confiança sem autocrítica é uma armadilha. Um dos maiores perigos que qualquer líder enfrenta é a chamada “extração de riqueza”: a busca por resultados imediatos em detrimento da sustentabilidade da organização. Lucros rápidos e crescimento acelerado podem parecer positivos no curto prazo, mas tendem a corroer a vitalidade da empresa ao longo do tempo. Líderes eficazes precisam ter consciência do impacto de suas decisões, distinguindo entre ganhos sustentáveis e práticas que podem comprometer a longevidade do negócio.

Outro risco crítico é a complacência. É comum que organizações bem-sucedidas relaxem, acreditando que a liderança conquistada é suficiente para garantir estabilidade. No entanto, o mercado é dinâmico, concorrentes surgem e o ambiente muda rapidamente. Permanecer confortável é uma estratégia perigosa: empresas que não se desafiam acabam sendo ultrapassadas. Para se manter relevante, é necessário explorar novas oportunidades, assumir riscos calculados e questionar constantemente processos e produtos. A reinvenção não é opcional; é uma exigência estratégica.

Além disso, liderança de verdade exige equilibrar múltiplos elementos simultaneamente: desenvolver equipes, atrair talentos, resolver problemas complexos, escalar operações e planejar o próximo passo estratégico. Tudo isso requer não apenas habilidades técnicas, mas atributos interpessoais, inteligência situacional e resiliência. A confiança é o fio condutor que permite navegar por essa complexidade, mas só funciona quando combinada com consciência crítica, disciplina e coragem para desafiar o próprio status quo.

A lição é clara: confiar em si mesmo e na equipe é essencial, mas não basta. O líder que evita riscos e se acomoda estará, inevitavelmente, vulnerável a mudanças externas e a desafios internos. Em mercados altamente competitivos, permanecer parado é o caminho mais rápido para ser ultrapassado. Confiança, consciência e coragem — quando combinadas — são o que diferenciam líderes capazes de transformar ideias em impactos duradouros daqueles que apenas sobrevivem ao fluxo do tempo e da concorrência.

* Fernando Nery é CEO da Portão 3 (P3), fintech que já transacionou mais de R$10 bilhões e apoia mais de 5.000 empresas na América Latina com cartões corporativos e gestão de pagamentos.