Por Patrícia Loyola

Grandes empresas potencializam seu impacto social através de suas cadeias produtivas

A criação de impacto social é uma abordagem intimamente ligada à gestão ESG e ao reconhecimento de que fatores sociais

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

O engajamento social das cadeias produtivas tem emergido como uma estratégia central para empresas comprometidas com sustentabilidade e competitividade. O envolvimento de fornecedores, clientes, comunidades e estruturas do negócio ganha protagonismo como uma ferramenta para a mitigação de riscos socioambientais e criação de diferenciais competitivos. Do lado da responsabilidade social, políticas robustas de investimento e posicionamento de grandes empresas como centros de inteligência vêm promovendo mudanças socioeconômicas significativas em seus ecossistemas de operação.

A criação de impacto social é uma abordagem intimamente ligada à gestão ESG e ao reconhecimento de que fatores sociais podem representar ameaças significativas à economia global. O Fórum Econômico Mundial reconhece estes riscos anualmente em seu Relatório de Riscos Globais. 

Problemas sociais, como a defasagem educacional, criminalidade e vulnerabilidade a desastres climáticos, possuem natureza complexa. Essa complexidade muitas vezes ganha forma nas relações conflituosas com as comunidades do entorno de operações. Estruturas de responsabilidade social corporativa surgiram em meados do século XX justamente para gerir estas situações. 

A direção do investimento social das principais empresas brasileiras é produzir impacto nas comunidades para que reverta positivamente em seus ambientes de negócios. Empresas e seus institutos vêm fortalecendo parcerias com organizações sociais e governos locais. Programas de inclusão de jovens vêm se mostrando como um ótimo exemplo disso. Pelo lado da sociedade, capacita mão-de-obra e gera empregos. Pelo lado das empresas, preenche vagas ociosas, reduz turnover e aumenta retenção de talentos.

O potencial de geração de impacto por meio das cadeias produtivas ainda é pouco explorado. Dados da Pesquisa BISC, conduzida pela Comunitas junto a um grupo seleto de empresas que possuem agenda robusta de investimento social, apontam que apenas 46% destas companhias contam com programas estruturados de engajamento social com fornecedores e somente 15% estimulam sua cadeia de suprimentos a realizarem doações via incentivo fiscal. Se os percentuais são baixos entre as empresas mais bem posicionadas na agenda social, imagina-se que o quadro geral seja ainda menos animador. 

Contudo, existem boas experiências. Em 2020, a Vale iniciou o Programa Partilhar, que incentiva investimentos sociais, empregos e compras locais, além do incremento da massa salarial através dos seus fornecedores nas comunidades. A iniciativa proporcionou cerca de R$ 20 milhões em educação, esporte e cultura, gerando mais de 30 mil empregos na região. As ações em rede contam com mais de 400 fornecedores, potencializando um legado além da mineração. A iniciativa vem estimulando a economia local pois os fornecedores da Vale compram os seus insumos da região. Isso se alinha ao compromisso da empresa de desenvolver um ambiente melhor com diversos stakeholders.

O Santander, por meio do Prospera, também vai nesse sentido. Voltado ao fortalecimento de pequenos empreendedores, especialmente em comunidades de baixa renda, o programa vai além da concessão de crédito. Ele promove educação financeira, oferecendo orientação e capacitação sobre gestão, planejamento e sustentabilidade dos negócios. Essa atuação contribui para o empoderamento econômico e desenvolvimento local, reforçando o papel do banco como agente de transformação ao integrar responsabilidade social à sua estratégia de negócios.

Empresas com critérios sociais e ambientais nos processos produtivos fidelizam fornecedores e clientes, além de fortalecer o desenvolvimento da economia local. É importante que isso aconteça com o devido suporte técnico para que o estímulo não se torne uma barreira de entrada. Parcerias, programas de capacitação e definição de metas progressivas são algumas das abordagens que podem garantir que o fortalecimento da agenda social na cadeia de valor ocorra de maneira equitativa e acessível. 

O crescente posicionamento de empresas líderes como hubs de inteligência social é um ativo poderoso para promover a transformação dos negócios socialmente responsáveis com consistência e perenidade. 

A intencionalidade do investimento social vem se consolidando como uma nova fronteira para as empresas que desejam ir além do ESG. A transição para uma agenda de sustentabilidade mais estratégica e integrada demanda transformações na cultura organizacional e um olhar atualizado sobre o papel das corporações na sociedade. As empresas que conseguirem alinhar suas práticas sociais à sua cadeia de valor não apenas fortalecerão sua competitividade e reputação, mas também terão um impacto mais profundo e duradouro nas comunidades e nos mercados onde operam.

Por Patrícia Loyola, diretora de gestão e investimentos da Comunitas!