
Segunda de manhã antes da abertura do mercado eu estava trocando uma ideia com Gabriel sobre nossa postagem dessa semana. Ele pensou no que havia se assustado quando soube do rombo do INSS meses atrás e falou: “Velho, olha isso aqui. O rombo da Previdência atualmente chegou em cerca de R$ 327 bilhões. A conta não fecha mais.”
Enquanto ele falava, puxei o gráfico da pirâmide etária. Em poucos anos, o Brasil deixou de ser um país jovem para se tornar um país envelhecido — com menos gente nascendo e mais gente vivendo. A base encolheu, o topo engordou. É simples: cada vez menos contribuintes, sustentando cada vez mais beneficiários. Segundo dados do atlas escolar.
O sistema previdenciário brasileiro é um modelo de repartição. Quem trabalha hoje financia quem já se aposentou. Mas essa lógica depende de uma pirâmide etária saudável, o que claramente já não existe. A reforma de 2019 foi uma medida de contenção, não de solução. O déficit é crônico, e o risco de colapso está mais próximo do que se imagina.
Imagine alguém que ganha R$ 5.000 por mês e contribui com 14% de INSS. Isso dá R$ 700 mensais. Em 40 anos, essa pessoa terá contribuído com mais de R$ 336 mil. E em troca, espera receber uma aposentadoria que dificilmente ultrapassará o teto atual do INSS: R$ 8.157,41.
Agora pense no seguinte: esse benefício não é garantido. Ele está sujeito a reformas, cortes, indexações abaixo da inflação real e não gera herança. Você entrega o dinheiro por quatro décadas e, quando finalmente chega a hora de receber, o valor é limitado, dependente do governo, e sem qualquer controle seu.
“É como jogar 40 anos de contribuição no escuro, esperando que alguém te pague no final.”
Enquanto isso, o investidor que assume o próprio futuro pode fazer algo diferente. Pegue os mesmos R$ 700 por mês e aplique em um portfólio diversificado que renda 0,6% ao mês (o que equivale a cerca de 7,5% ao ano). No fim de 40 anos, o patrimônio acumulado será de aproximadamente R$ 2,0 milhões.
Se essa pessoa mantiver o capital investido com uma taxa de 1% ao mês, terá uma renda passiva de R$ 20 mil mensais — valor mais de duas vezes superior ao teto do INSS. E esse patrimônio é seu: pode ser sacado, reinvestido, herdado ou transferido. Não depende de Brasília, nem do humor da política fiscal.
“O INSS é fluxo. O investidor monta o próprio estoque.”
Essa é a diferença entre seguir um modelo ultrapassado ou construir um novo caminho. O primeiro é limitado, engessado e vulnerável. O segundo depende exclusivamente da sua disciplina e da sua estratégia.
Mesmo diante dos números, a maioria prefere acreditar que “vai dar certo”. Essa fé passiva é o que trava boa parte das decisões financeiras no Brasil. A aposentadoria dos nossos pais, baseada em estabilidade, funcionalismo e segurança social, foi uma exceção. A nossa geração não terá esse mesmo privilégio. E fingir que terá é uma escolha perigosa.
“A gente precisa falar mais disso. Porque o problema não tá no INSS. Tá na ilusão de que ele vai bastar.”
A conversa terminou com uma inquietação. Mas o ponto estava claro. Quem quiser viver de forma digna no futuro precisa construir esse futuro no presente. O tempo é o maior aliado do investidor. E o maior inimigo de quem adia a responsabilidade.
A aposentadoria real não virá por decreto. Vai vir de quem teve coragem de fazer o óbvio: gastar menos, investir bem e começar cedo.